quarta-feira, 31 de janeiro de 2018


      Cirandando na AMAI




Janeiro é mês de férias, de viagens, de visitas.
      Normalmente, muita gente falta na Ciranda, mas mesmo assim nos reunimos para não perder o embalo. Entretanto, desta vez faltaram 31 cirandeiros, comparecendo pouca gente.
    Como o encontro foi no imenso Salão da AMAI (Asilo local), fiquei apreensiva que a tarde não seria animada, com tão pouca gente e tanto espaço...
      Mas, foi uma surpresa muito gratificante. Lá pelas 15 horas chegaram os internos do Asilo, acompanhados de seus cuidadores e enfermeiras.  Uns vieram caminhando normalmente, outros em cadeiras de rodas, outros apoiados nos funcionários. Além deles, ainda vieram os visitantes do Asilo e alguns moradores da redondeza.Todos vieram atraídos pela música da sanfona, do violão e pela cantoria. Alguns por curiosidade, outros pra cantar mesmo. 
    
      E a festa ficou animadíssima. Pares se formaram e dançaram até cansar... As funcionárias deram o tom, cantando e dançando com os internos. E só se viam sorrisos nos rostos. Todo mundo contente da vida. Comendo, tomando café, cantando, dançando, conversando.
      O Pedro Squinca que foi cirandeiro e agora mora no Asilo se esbaldou de felicidade, abraçando amigos, cantando com os cantadores, e dançando com as meninas funcionárias.
      Já quase no final da festa, tivemos a grata surpresa de receber a visita do Tião, Presidente da AMAI e de sua esposa Teresa, que vieram conhecer a Ciranda. Ficaram muito satisfeitos de ver a alegria de toda a turma do Asilo. Estão empenhados em nos apoiar para futuras cirandadas.
      A Ciranda é uma grande brincadeira de adultos que deu certo. E veio para ficar. E em fevereiro tem mais!



     
      Mirandópolis, 26 de janeiro de 2018.
      kimie oku in
      
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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


             Eutanásia

        
      Na última semana essa palavra foi pensada e pronunciada  várias vezes em casa, com um misto de dor  e muita pena. Mas, as circunstâncias tornavam-na inevitável. E eu ficava arrepiada sempre que a ouvia...
     Nina, uma boxer de 14 anos estava na fase terminal de sua doença, com tumor no cérebro e sofrendo muito. Convulsões, que deixavam impotentes a quem estava perto cuidando...
        Tive uma experiência dolorosa de eutanásia. Então, só de pensar no ato final, meu coração se encolhia de dor. Porque não é nada fácil tirar a vida de um animal, mais ainda de um animal que amamos. Tivemos que executar o Fred, um boxer lindo que teve leishmaniose. E na época, ainda não havia cura...
        Pelos anos de companheirismo e carinho não poderia pedir a um Veterinário para simplesmente acabar com ele. Fiquei com ele no colo até o fim, mas demorou muito para entregar os pontos... Chorei o tempo todo e o Tom me disse que isso não deixava o Fred partir...  Estava com pena de mim... As palpitações vitais foram cedendo e senti a vida se esvair de seu corpo magro e maltratado pela doença.
   Como amava o nosso sítio, o enterramos lá à sombra da mangueiras...  Deve ouvir o canto de todos os passarinhos e o latido de outros cães que lá aparecem. Acredito que deve estar nos campos verdes do Criador, correndo atrás de outros companheiros e latindo firmemente para alguma vaca, como gostava de fazer. Ou nadando nos açudes sob o céu de verão... Fred...
        Quando meu filho disse que a Nina seria executada, sofri dolorosamente só de pensar no que ele e a Juliana teriam que passar. A ideia da eutanásia não saia de minha cabeça, e pedi a Deus para que fosse misericordioso e levasse a Nina de forma natural. E assim foi. Deus a levou sem que fosse infligido mais sofrimento a ela.
        Gosto e aprecio os animais, mas a morte do Fred me traumatizou para sempre. Nunca mais quero me apegar a esses bichinhos, porque eles se apossam de nosso coração e um dia vão embora. Já bastam as mortes de membros da família, que  despedaçam nossa alma...
Eutanásia?
Medida extrema e muito dolorosa.
Em algumas circunstâncias é inexorável.
Mas, é bem mais aceitável a morte natural.
O Senhor é o único dono de nossas vidas...
Nina...
Mirandópolis,29 de janeiro de 2018.
kimie oku in
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018


   PERNAS











Tenho percebido ultimamente que, muita gente está com problemas nas pernas
 Há tanta gente com dores nos joelhos, nas pernas, nos pés... com dificuldade para se locomover. Gente que manca de um pé, que arrasta uma perna, que se apoia em bengalas, no ombro de alguém, que usa muletas, aparelhos, cadeira de rodas, andadores...  Sem contar com os que não se locomovem, nem com a ajuda de aparelhos  e estão definitivamente acamados.
 O homem é um ser caminhante. Como toda espécie animal, andar ou locomover-se é uma de suas características. Característica, que as plantas não possuem, excetuando as rasteiras e trepadeiras, que se movem, mas não tão livremente.
 A teoria da evolução da espécie humana prega que o homem andava de quatro, como os símios e que, pouco a pouco ele levantou a espinha dorsal e se firmou sobre as patas traseiras, tornando-se bípede.
       Será que essa mudança foi muito forçada, será que andar de quatro era mais correto? Há que se pensar, pois hoje vemos como as duas pernas estão sendo acrescentadas por muletas, andadores, cadeiras...
 Há quem diga que o desuso das pernas as tornou inválidas; desuso por andar só de carros, motos...
Há quem pregue que, o peso por excesso de gordura sobrecarregou os joelhos, os tornozelos, os pés...
Há também os que pregam o “Cooper” – caminhar todos os dias, para ativar a circulação, e manter as pernas e o corpo saudáveis... Há tanta avaliação diversa.
 Mas, qual é a mais correta, eu não sei. Sei apenas que, há gente demais sofrendo para andar até a esquina, para ir até o Banco, até o Hospital. E sei que isso é uma tortura atroz, porque ir e vir livremente significa independência, felicidade de cada indivíduo.
Ninguém gosta de depender de outro, de não ser auto suficiente, de não poder dirigir sua própria vida.
Ser independente é poder sair e ir onde e quando quiser, parar para falar com alguém, descansar à sombra de uma árvore, apreciar uma vitrine... não poder fazer isso é não ser livre.             
Como a teoria de Darwin não previu o retrocesso, isto é, voltar a ser quadrúmanos como éramos antes, acho que o jeito é cuidar das pernas, para que elas suportem nosso peso, e obedeçam ao nosso comando.
 Cuidar como?
 Protegendo-as com calçados confortáveis, não as sobrecarregando com peso excessivo, e procurando mantê-las sempre saudáveis, pois isso significa liberdade.
  Pernas, pra que as quero?

 Mirandópolis, 24 de janeiro de 2010.
 kimie oku

                           

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018



    Oshougatsu    (memórias)                                            
      Todo início de ano é a mesma coisa. Reunião de família, comida, muita comida, um converseiro só e bastante esperança. Esperança de, superar no novo ano, tudo que ficou sem resolver. É assim com todo mundo.
Sempre que amanhece o primeiro dia do ano, crianças “pedem” boas festas de ano novo, para receber guloseimas.
Como fui criada no sistema japonês, nunca saí por aí, fazendo isso. Fui criança nos anos do pós-guerra, de 1945 a 1950. E a lembrança que tenho desse tempo é que, o oshougatsu ou dia de ano novo, era comemorado pelos imigrantes do Japão, de forma totalmente diferente. Perto de Tabajara, Lavínia.
      Morávamos numa comunidade de japoneses e tudo era feito em conjunto. E na época, ainda predominava o culto aos Imperadores do Japão, culto fortalecido com a tristeza da derrota na guerra. Os japoneses aqui residentes, reverenciavam os monarcas japoneses, como se fossem deuses. E tentaram passar esse sentimento para nós, crianças.
Logo de manhãzinha, quando clareava o dia, todos os chefes de família, e seus filhos homens vestiam-se de ternos, e se reuniam num barracão, ou tulha de algum vizinho. Ali, diante das fotografias dos Imperadores Hiroito e Nagako, e da bandeira vermelha e branca, realizava-se uma cerimônia solene de súditos jurando fidelidade ao Japão. Naquela época, todos os imigrantes achavam que, estavam só de passagem no Brasil. A pátria sem dúvida nenhuma, era o Japão. O Brasil era apenas uma terra emprestada, temporariamente.
Se não me falha a memória, a cerimônia  constava de discursos, enaltecendo as figuras dos Imperadores, e relembrando sempre a pátria distante. Era um ritual rápido, com a entoação do Hino Nacional do Japão: “Kimiga yoowa/ Chiyo  ni/   Yachiyoni/  Sazare/   Ishino /  Iwao to narite/ Kokeno/  Mussu made....” traduzindo:  “Que o reinado dos Imperadores dure até que, os rochedos se transformem em seixos, cobertos de musgos” (eternamente)
      É claro que nós as crianças, também entoávamos o hino, sem saber o significado, e depois quando se davam os vivas, ficávamos contentes, porque a comemoração chegava ao fim. Os vivas eram: “Banzai, Tenno Reika !”... “Banzai, Kogo Reika!” ... “Banzai, Nippon!” ”Banzai, Oriente Shokuminchi” ou, Viva o Imperador, Viva a Imperatriz, Viva o Japão, Viva a Colônia Oriente!
Depois desses vivas repetidos várias vezes, alguém começava a distribuir os manjus, os motis e balas. Era o melhor momento da reunião para nós crianças. Os adultos homens sentavam-se em volta de uma mesa, repleta de coisas gostosas, e saboreavam a culinária japonesa. Depois, iam de casa em casa, cumprimentar as famílias e desejar um bom ano para todos os vizinhos.
Lembro ainda que, entre os pratos enfileirados, contendo  sushis , nishimê, ozooni e pedaços de toofu servidos com shoyu, havia também leitoas assadas inteiras, assim como frangos dourados, crocantes... Nesse dia, todos se alimentavam bem, pois se dizia que quem passasse fome nesse dia, passaria necessidade o ano inteiro. Tudo era motivo para se encher a barriga.                    Hoje, relembrando aquele tempo que passou, vejo que nada restou desses costumes tão inocentes dos japoneses. Cultuar uma pátria distante... Cultuar Imperadores que nunca ninguém conhecera ... Manter costumes de outro mundo... não há sentido nisso. Por isso, tudo se perdeu ao longo dos tempos...
E acabamos adotando os costumes da Terra. E foi bom, porque não há sentido em consumir comida com temperos de uma região gelada, já que lutamos todos os dias, para sobreviver ao calor tórrido dos trópicos. E não há sentido em cultuar governantes de outros países, se é aqui   que sofremos, se é aqui que a inflação não perdoa, se é aqui que pelejamos todos os dias.  E não há sentido fingir que, o Brasil é terra emprestada, uma vez que os nossos pais estão enterrados neste solo, para sempre. E nossos filhos e netos são totalmente brasileiros, assim como nós.
 Sei que muitos desses costumes vão prevalecer, pois origem é origem. E comer um sashimi de vez em quando é muito revigorante. E falar em japonês não faz mal a ninguém, porque cultura é cultura.
      Mas tudo isso já virou moda abrasileirada.
E é por isso que gosto de, lançar de vez em quando, umas palavras japonesas como esse “oshougatsu”. Porque, há palavras que têm um significado especial para nós, descendentes de japoneses.
Palavras como "Shinnem akemashite omedetou gozaimasu", ou Feliz Ano Novo!
      E Arigatô!
Mirandópolis, 1º de janeiro de 2012.
 kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/)



      Post Scriptum:
      Esta crônica foi escrita em 1º de janeiro de 2012. 
      Mirandópolis, 1º de janeiro de 2018.