terça-feira, 31 de outubro de 2017

       Uma ideia, uma ação!
       Uma ideia que deu certo.
      Como eu visitava amigas idosas e solitárias, um dia
sonhei em realizar um projeto, que me permitisse levá-las a um lugar aprazível no campo, para curtir a natureza com outras pessoas idosas. Quem me despertou isso foi a senhora Natsuko Yuassa, mãe do nosso querido Dr. Roberto Yuassa. Na época ela estava idosa, morava sozinha e sua solidão era maior porque conversava na língua materna, em japonês. Então, seu contato com outros era muito restringido pela falta de domínio do Português. E eu interessada em aprender a falar a minha língua materna fui lá conhecê-la. E apesar de ter sido muito difícil o começo por eu falar só Português e ela só japonês, acabamos nos entendendo muito bem. Ela era gentil, atenciosa, e gostava de me contar passagens de sua vida de mocinha no Japão. Aprendi muito com ela sobre comportamento social e costumes japoneses.
 Com essa ideia na cabeça escrevi uma crônica, que despertou o interesse do senhor Mário Dias Varela. Em poucos dias ele tinha arrebanhado uns amigos e fundamos o Grupo Ciranda. A primeira cirandada foi no meio da rua João Domingues de Souza. Lá pelas dezessete horas, formamos um círculo composto por Milton Lima, Júlio Galbes, Chiquinha, Mary Magro, Mário Varela e eu e brincamos de Ciranda, cirandinha... Isso foi há sete anos e temos uma foto que registrou para sempre esse momento. Foto em preto e branco... Estava fundado o Grupo Ciranda.
Fizemos a primeira reunião com uns dez idosos lá na Cozinha Caipira, na estrada para a Usina. E daí para cá foram setenta e sete reuniões, com o grupo crescendo mais e mais a ponto de ser necessário limitar o número para melhor atender a todos.

Muita coisa aconteceu durante esse tempo que passou. Perdemos o seu Egídio, um dos fundadores que nos deu a maior força. Perdemos dona Luisinha, seu Jorge Cury, Professor Aristides, Professor Sperandio, Lourdinha Codonho, Maria Menegatti, dona Palmira, Lupércio, Toninho do pandeiro, dona Onofra e dona Nair. Foram todos brincar de ciranda no céu. Partidas naturais porque todos lá no grupo são idosos.

Outros ocuparam suas vagas na Ciranda e atualmente temos umas sessenta pessoas, que participam mensalmente das reuniões. Lá conversamos, trocamos ideias, cantamos, oramos e dançamos. Tudo de forma natural, sem regras apenas com o objetivo de alegrar o pessoal.
E felizmente, contamos com um grupo de violeiros e sanfoneiros que nunca faltam para animar nossas tardes. E esses músicos assumiram o papel de ajudar os idosos solitários participando voluntariamente.
Por tudo isso, a alegria é o tom da festa.
Não falamos de política, não discutimos religião e ninguém tem cargo de presidente, secretário e outras baboseiras. Todos são iguais, todos são tratados de forma respeitosa, porque ninguém é melhor que ninguém. Para o grupo, o dia do encontro sempre é um piquenique, porque nos reunimos na Chácara do seu Albertino Prando, que é um lugar lindo, de ar puro, todo verdejante, onde há pássaros, galinhas, e vacas pastando... E a cantoria se estende pela tarde toda enquanto servimos lanche, refrigerantes e café.

Muita gente pede para entrar no grupo e nós procuramos controlar esse afluxo, porque o espaço não é grande e queremos garantir o conforto de todos que lá vão. Sabemos que há muitos idosos necessitados, mas não podemos absorver a todos, porque acima de tudo está a qualidade de atendimento que queremos proporcionar. E damos prioridade aos idosos que moram sozinhos, que não têm vida social e vivem meio esquecidos. O que difere esse trabalho dos asilos é que os nossos idosos voltam sempre para suas casas, porque só saem para se divertir. E o compromisso da ciranda é apenas acabar com a solidão de todos. E nunca tirá-los de seu cantinho onde se sentem confortáveis.
Nada é mais forte que dar-se as mãos e brincar com os amigos. À direita ter alguém segurando firmemente a mão e à esquerda também. E rodar cantando ciranda, cirandinha como nos tempos de criança... Isso passa uma energia sem igual para todos. Todos se sentem fortalecidos e a alma fica repleta de bons fluídos e muita vontade de continuar vivendo.
Então é isso!


A Ciranda chegou para ficar.
Que nunca mais pare de rodar e levar alegria a todos.

Mirandópolis, outubro de 2017.
kimie oku in




sábado, 28 de outubro de 2017

             Bullying
     
    Os massacres de alunos em Minas e em Goiás me levaram a pensar que precisamos recrutar o pessoal do Criminal Minds, seriado da AXN para analisar o comportamento dos assassinos.
     Não gosto de matanças e nem de crimes, mas a análise de comportamento dos matadores e conclusões para fechar os casos do seriado é muito instigante. A rapidez de raciocínio dos membros da equipe é impressionante. É verdade que é ficção, mas tudo tem uma sequência lógica, e o estudo do passado ajuda sempre a prever o comportamento que virá em seguida. Muitas vezes evitando desfechos piores.
     A ocorrência na Creche de Minas foi dolorosa, porque um adulto desvairado despejou toda a sua ira em criancinhas inocentes, para matá-las de maneira mais impiedosa possível, ateando fogo. A história de Goiás que dizem motivada por vingança, fez o Brasil inteiro pensar nas maldades de jovens em escolas. Disseram que foi revanche de bullying que o garoto de 14 anos vinha sofrendo...
     Se realmente foi esse motivo, a Escola inteira deverá parar e fazer uma análise da situação. Professores, Pais de alunos, funcionários e os próprios alunos devem denunciar se realmente estão sofrendo abusos de colegas. E todos juntos devem procurar os caminhos para corrigir esse desvio de comportamento. Seria oportuno que todas as Escolas fizessem uma análise do comportamento de seus alunos, para corrigir e evitar mais desastres em tempo. Porque se nada fizerem, os trotes continuarão e mais tragédias poderão ocorrer.
  Bullying ocorre no mundo inteiro, em escolas tradicionais, em escolas particulares americanas, europeias, japonesas, brasileiras. No Exército para os recrutas, nas Faculdades para os “bichos” ou calouros, e no trabalho para os novatos. Por quê?
     Porque é o reflexo da sociedade, que discrimina os mais fracos, os mais feios, os mais pobres, os mais tímidos, os inseguros, os menos capazes. Dentro do círculo familiar muitas vezes ocorrem essas diferenciações, considerando um filho mais inteligente, outro mais lento, outro mais levado... E essas rotulações ficam marcadas a ferro e fogo na testa desses meninos para sempre. E as explosões acontecem assim sem mais nem menos, de repente num círculo maior, porque o indivíduo já está saturado de ser discriminado e desrespeitado. E vem acumulando mágoas e mágoas ao longo dos anos... E quando explodem, causam estragos irreparáveis...
     Então, é errado pensar que o bullying seja problema  restrito a escolas. É um problema social de falta de respeito, de falta de empatia, de falta de caridade para com o próximo. Toda essa ausência absoluta de sentimentos tem provocado os maiores estragos na humanidade, desde que o mundo é mundo.
 Nos tempos obscuros da Idade Média, a própria Igreja encetou guerras contra os infiéis, porque esses não se comportavam como os “ditos santos” exigiam. E queimaram muita gente inocente nas fogueiras, alegando bruxaria e práticas demoníacas, porque essa gente inocente tinha visões ou comportamentos estranhos motivados por esquizofrenia... E jogaram fora pessoas doentes com lepra, considerando-as contaminadas pelo demônio, porque apresentavam aspectos horripilantes quando a doença consumia partes de seus membros e pele. A Igreja cometeu as maiores barbaridades contra a humanidade em nome de Deus. De um Deus inocente, como dizia José Saramago, Nobel de Literatura de Portugal, que se dizia ateu.
    A humanidade seguiu os preceitos da Igreja que levou os americanos brancos ao paroxismo da perseguição, com a Klu KLux Klan discriminando e executando todos os diferentes que apareciam, especialmente os de cor negra. Em nome de uma “raça pura ariana”. Raça viciada na maldade, no ódio, na arrogância, na prepotência sem limites. Raça maldita, afastada de Deus.
     Toda manifestação de bullying teve seu princípio nesse rancor, que alguém plantou na alma de gente sem capacidade para pensar e refletir.
     Estranho é que o ensinamento de Jesus foi: “Amai-vos uns aos outros!” que foi totalmente modificado para: “Odiai-vos uns aos outros!” Não sei em que momento da História da humanidade ocorreu essa alteração, que trouxe estragos sem fim.
Perseguições, condenações de inocentes, queima de não cristãos, guerras santas que eram demoníacas de fato, regimes políticos executando oponentes, as Guerras Mundiais, as bombas atômicas, de napalm, matança de inocentes no Vietnã, na Índia, no Oriente Médio, Nazismo, Holocausto, Guerra Civil Espanhola, Revolução Cultural de Mao Tsé na China, Stalin, o Imperador Hiroíto no ápice da 2ª Guerra, o Comunismo e tantas desgraças mais foram pregações passadas de geração a geração ao longo da História.
E as pessoas ficam assustadas com esses atos de terrorismo e bullying nas Escolas! Isso é apenas uma prática ensinada aos jovens todos os dias pelos meios de comunicação, e mais ainda pelas atitudes preconceituosas dos adultos.
E tudo isso começa em casa, com o pai vendo um jogo e xingando o jogador negro de “Neguinho filho da puta, vá comer banana, macaco”!” As manifestações preconceituosas nos estádios são incutidas em casa pelos adultos. Nenhum jovem será capaz de agir inadequadamente assim sem mais nem menos, se não viu ou não ouviu um exemplo em algum lugar, especialmente em casa. Está tão acostumado com esse palavrório preconceituoso, que nunca se deu ao trabalho de atentar no significado ofensivo dele.
O preconceito é criado em casa, pelos pais que o passam aos filhos dizendo: “Fulano é preguiçoso! Fulano é bebum! Fulana é vadia!” E essas ideias ficam impregnadas nas mentes dos jovens que vão à escola e, começam a rotular os colegas de acordo com esses padrões, discriminando-os. É assim que começa tudo. A armação veio de casa. Bullying foi ensinado em casa!
Amai vos uns aos outros! Sábias palavras de Jesus. Mas como é difícil amar o pobre, o feio, o lerdo, o sujo, o deficiente... Então, esses acabam virando sacos de pancada dos ditos espertos. Espertos que não têm um tico de misericórdia na alma. E saem queimando mendigos, retaliando gatos e cães...
Se todos nós ensinássemos que todos somos iguais e todos merecem o nosso respeito, não haveria essas discórdias. Não haveria preconceito. Não haveria bullying. Não haveria guerras.
Não está na hora de repensar nossas atitudes?

Mirandópolis, outubro de 2017.
Kimie oku in

    


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

      Você sabe o que é pudor?
     
     Acho que muita gente nem faz ideia do que essa pequenina palavra significa. É o que está faltando no mundo hoje em dia!
     Pudor e seu antônimo pundonor são palavras fora da moda, mas a humanidade viveu até o século passado cultivando-as.
      Pudor significa inibição, vergonha, acanhamento, receio de se revelar. E tem uma carga de afeto muito relacionada ao erotismo. Pudor de mostrar partes do corpo, de revelar sentimentos íntimos, de ouvir, ver e comentar pensamentos que passam no recôndito da alma... 
     Pudor de não revelar problemas, doenças e desentendimentos que ocorrem em todas as famílias, por melhores que sejam. Porque todas as famílias têm seus estrangulamentos, momentos de dor, de atritos sérios que parecem sem solução. Todas têm. Assim como a minha...
      Pudor de comentar sobre intimidades do casal, que ninguém precisa saber o que você faz na cama com o seu parceiro, porque isso é assunto de foro íntimo e torná-lo público é muito desrespeitoso para com o outro, além de revelar a falta de decência e caráter de quem assim o faz...
      Pudor de exibir partes do corpo que não precisam ser mostradas, porque ninguém deve sair por aí oferecendo seios e bunda, que isso é muito feio. Mesmo que as partes sejam muito bonitas, até homens mais atrevidos ficam desnorteados com mulheres que mostram tudo, porque ficam sem horizonte para mirar... Recato é tão bonito e todos os homens apreciam. Todos os homens apreciam uma mulher recatada.
     Pudor de comentar problemas de família, desentendimentos do casal, atritos com os filhos, brigas de sogra com as noras e genros... Como é feio ouvir uma nora dizendo: “Minha sogra é uma víbora!”  Outras vezes é a sogra que assim age. E geralmente em Salões de cabeleireiros e manicure. Já cansei de ouvir isso. E fico pensando em como deve ser horrível a convivência do filho nesse tiroteio de mãe e esposa... E a coisa fica pior quando a disputa tem herança no meio.
     O pudor atualmente deu lugar ao pundonor, que é a falta absoluta de vergonha, de recato, de acanhamento, de respeito.
      E o resultado é o que os noticiários exibem todos os dias: tragédias e mais tragédias. O pundonor está nas vestes escandalosas de certas mulheres, que parecem não ter espelhos em casa... Mostram os seios, o umbigo e a bunda. E geralmente são partes muito gordas, abundantes e horrorosas. Desventuradas! Não têm senso do ridículo.
      O pundonor ou falta de vergonha está nos programas de acerto de contas, em que parceiros se agridem publicamente lavando seus trapos sujos. A linguagem é um desastre. E a tevê patrocina, apenas pelo IBOPE! Coisa feia. E tem gente que aprecia!!!!
      O pundonor está nas roubalheiras de nossos políticos que, por ter sido eleitos se acham acima da lei e praticam toda a espécie de contravenções. Com a maior cara de pau. E quando confrontados, apenas se defendem citando os comparsas... Que são infinitos. Pundonor de roubar a própria Pátria, que para nós brasileiros comuns continua sendo uma coisa sagrada. Pundonor de famosos da Mídia, que buscam patrocínios pela Lei Rouanet para realizar Mostras e peças de Teatro, que atentam contra a moral pública. Delírios de mentes doentes, que não medem consequências, porque só querem ser diferentes, para faturar alto. Tudo pelo money!
     E o último exemplo desse delírio foi o Queermuseu patrocinado pelo Santander, cujo objetivo era erotizar a criança e vulgarizar as relações sexuais em outros níveis, incluindo até sexo com animais.
      Eu não entendo essas mentes. Acredito que cada pessoa envolvida nesses projetos escandalosos deve ter família, filhos, netos... Que moral estará passando para seus descendentes com suas ideias estapafúrdias? Ou não se importa? Dinheiro compensa?
      Tudo começa nos bons costumes, no recato, no respeito à intimidade de cada um. Coisas do recôndito da alma, coisas de foro íntimo e particularíssimo, que devemos cultivar para salvar a humanidade. Porque cada ser humano foi dotado de algo sagrado, de puro, de santo que deve prevalecer sobre os instintos carnais. Quando perdemos esse controle, tudo vai desaguar no desregramento, na violação de sentimentos, na perda da humanidade. E o homem destituído de sua porção santa deixará de ser uma criatura de Deus.
      E o resultado é esse Museu do sexo, onde mostraram imagens de homens fazendo sexo com animais. E mostraram para muitas crianças!
      Eu ainda tenho pudor!
      E você?

Mirandópolis, outubro de 2017.
kimie oku in


       

sábado, 21 de outubro de 2017

      Boicotar Santander?
      
      Volta e meia recebo sugestões para minhas crônicas.
      E geralmente acato as ideias, que acabam sendo bastante lidas.
     A última sugestão foi a de boicotar o Santander por ter patrocinado aquele Museu do Sexo. Pelo que vi, o que causou maior indignação foi a performance de um ator completamente nu para ser tocado por adultos e crianças... Nu em Arte é reconhecido mundialmente, e há nus e nus... Apolo, Afrodite... Que são belíssimas obras de arte de outros tempos.
   A apreciação artística atual mudou muito, mas o que é belo continua sendo belo e o feio continuará sendo feio. Há telas que venceram os tempos e são apreciadas até hoje. De Monet, de Rembrandt, de Van Gogh, de Picasso... Imortalizaram para sempre esses pintores pela sua genialidade em pintar.
      O estranho nesse Queermuseu patrocinado pelo Santander é que tinha um objetivo: generalizar o terceiro sexo e instituir a aceitação das relações diversas do Macho/Fêmea. Acredito que isso não se pode fazer assim, como uma instituição. Depende da capacidade de cada um de ver, sentir e aceitar essas relações. Não é pelo toque de um macho alfa e nem pela apalpação de uma fêmea maravilhosa, que se mudará a visão e o conceito das pessoas. Se assim fosse, melhor seria instituir o nudismo de vez, onde todos agem naturalmente sem preconceitos. E respeitosamente.
      Então, o fracasso da Exposição não se deve apenas ao preconceito das pessoas. É bem verdade que muita gente se indignou com a exposição e com a presença do jovem nu. Mas, o problema maior está em querer forçar as pessoas a mudarem de atitude só pela visão do nu e sua apalpação. Porque, mesmo os adeptos desse tipo de arte ficariam constrangidos e incomodados se, seus filhos pequenos e adolescentes deixassem que outros os apalpassem nas partes íntimas... Disso tenho certeza absoluta. Aceitariam que suas esposas também fossem molestadas?
      E de acordo com a análise do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que condenou a Exposição, o objetivo explícito era erotizar a criança com doutrinação amoral, além de estimular a zoofilia... Não houve restrição de idade para a visitação. Escolas levaram crianças para verem as imagens de sexo de dois homens, sexo a três e sexo utilizando animais... Além de imagens que agrediam sentimentos religiosos das pessoas... Jesus Cristo com os braços da deusa pagã Shiva... Hóstias com inscrições ofensivas...
    O Santander, um dos Bancos mais poderosos do mundo patrocinando uma coisa dessas, jogando fora oitocentos mil reais pela Lei Rouanet é algo que incomodou muita gente. E graças aos protestos nas redes sociais, o Queermuseu cerrou as portas antes do prazo. Mas, o estrago já foi feito. Muitas crianças devem ter ficado com aquelas imagens para sempre em suas cabeças inocentes...
      Bom, voltando ao tema dessa crônica, um amigo me pediu para lançar uma campanha contra o Santander, pedindo aos amigos e gente séria preocupada com as crianças, que boicotassem essa Agência financeira. Pensei muito no assunto. E tive que discordar do amigo.
 O Banco e seus milhares de funcionários não devem ser punidos com desemprego nesses tempos difíceis, porque a maioria nem soube que estava ocorrendo o absurdo dessa Mostra. A responsabilidade é do Departamento Cultural do Santander. Esse sim, deve ser punido. E também os que estendem a proteção da Lei Rouanet a torto e a direito. Acredito que, mesmo a atriz Fernanda Montenegro e outros famosos que defenderam a Exposição alegando evolução de ideias, ficariam muito constrangidos se seus netos praticassem sexo com animais.
E aí está o meu pensar.
Espero, meu amigo que entenda minha posição.
Mirandópolis, outubro de 2017.
kimie oku in



      

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

             Tomando chá
   
     Sempre que o frio chega, não resisto à tentação de fazer um chá para aquecer o corpo. Chá quentinho com sabor de maçã e canela é uma delícia, quando estamos meio travadas com as mãos e os pés gelados. Aliás, não é estranho a gente congelar nas extremidades do corpo, quando chegamos à  velhice? Acredito que o sangue não circule direito, quando as artérias ficam encolhidas com o frio. E aí, os pés e as mãos   ficam parecendo blocos de gelo...
     O chá é uma bebida universal. E creio que deve ter sido a primeira bebida experimentada pelo homem. Parece que um monge foi aquecer uma cuia de água na brasa e, acidentalmente caiu uma folha de erva, que deu um sabor especial à água. Daí, todo mundo o adotou, mais ainda quando a mistura resolvia problemas intestinais e ou renais...
        Quando eu era criança, o único chá que havia no armazém dos pobres era o mate Leão, que vinha num saquinho a granel...  O saquinho vinha numa caixa laranja com o desenho de um Leão, e eu ficava matutando qual era o significado desse animal com relação ao chá. Talvez quisessem passar a ideia de quem tomava o chá ficasse forte como o leão... Mamãe fazia o chá e temperava com açúcar e limão. E podia consumir várias xícaras, que nunca fez mal para ninguém, Hoje o chá vem acondicionado em sachês individuais e é tão prático prepará-lo.  Tem chás para todos os gostos, de variados sabores... Tem os requintados e caríssimos chineses, os ingleses... Mas, nós aqui nessa terra tupiniquim ficamos satisfeitos com os chás produzidos no Vale do Ribeira, que são muito saborosos.
        Os países orientais têm a tradição de servir o chá em qualquer ocasião. Antigamente, no Japão anterior à Guerra, havia nas casas por mais pobres que fossem, um fogareiro cavado no chão da cozinha. Era o “irori” onde o fogo permanecia aceso dia e noite, e sempre havia uma chaleira com água quente, com que se faziam as sopas e os chás. Qualquer visita era brindada com uma taça de chá. É que lá faz muito frio e esse costume já está arraigado no povo.
        Nos países europeus era o máximo de requinte ir tomar chá num bar/café ou nos bistrôs. E isso era invariavelmente lá pelas cinco horas da tarde. Junto com o chá, as madames elegantes da cidade apreciavam os doces, os bolos, as madeleines...
        No Japão, há um ritual para a cerimônia do chá. Nas casas abastadas há uma casa ou um estúdio especial para essas cerimônias... Os caminhos que conduzem a essa casa são decorados com plantas e pedras especiais. O estúdio é pequeno e tem uma decoração refinada com quadros e um vaso com ikebana. No chão, o tatame e os utensílios de cerâmica e bambu para a cerimônia, que segue um ritual milenar. Tudo é calculado metodicamente. O chá é o “matcha”, chá verde em pó, que no início era servido apenas aos sacerdotes zen budistas e aos nobres samurais... Esse ritual é conhecido como “Chanoyu” e tinha na sua origem o propósito de purificar a alma. Toda a cerimônia prima pela reverência. Um dos maiores apreciadores dessa cerimônia foi o famoso Xogum Toyotomi Hideyoshi, um dos construtores do Japão Moderno, que mandou construir um gabinete todo decorado de ouro... Hideyoshi apreciava muito o chá. E não perdia uma ocasião para reunir convidados especiais para o chá.
        E no Brasil, há uma cidade fronteiriça que surgiu na rota do chá. É a cidade de Ponta Porã ligada à vizinha paraguaia Pedro Juan Caballero, pela Avenida Internacional.  Ponta Porã está ligada historicamente à origem da erva mate, que é a base do chimarrão e do terere. Um dia vi a história contada em baixo relevo num mural do Hotel Barcelona. Muitas cidades surgiram na rota do chá no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. Região que continua produzindo chá.
        Embora o chá seja apenas uma bebida bem simples deu origem a eventos sociais como Chá de Bebê, Chá de Panela, Chá de Casa Nova... A intenção é apenas ajudar a futura mamãe com pequenos presentes para o bebê que vai nascer, ou presentear os noivos para mobiliar sua casa.
   Ultimamente, o comércio de bebidas está oferecendo chá engarrafado geladinho pronto para o consumo. Chá verde, chá com limão, com pêssego são opções para quem está sedento e encalorado. É uma bebida mais saudável e não faz mal pra ninguém. Prefiro tomar chá do que refrigerante.
        O chá combina com qualquer refeição. Nós de origem japonesa apreciamos um chá verde sem adoçante, para acompanhar um almoço ou um jantar. Para acompanhar lanches e bolos, um chá geladinho vai bem, principalmente para quem não toma café.
        E a moda generalizada hoje é tomar   chás de ervas naturais para emagrecer, para combater pedras nos rins, para controlar diabetes, artrite e enxaquecas. Eu tomo chá de salsinha para limpar os rins, e de graviola para controlar a hipertensão. Chá de graviola tem sido muito consumido para combater catarro e tumores. Porque já está comprovado que os medicamentos feitos em laboratórios podem curar certas doenças, mas trazem efeitos colaterais nocivos.
Então, a opção é o chá. Com moderação, é claro.
Então vamos plantar ervas medicinais!



       Mirandópolis, outubro de 2017.
 kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/



quinta-feira, 5 de outubro de 2017

            Cirandando em setembro
     

      Na última sexta feira de setembro, nos reunimos na Chácara Prando para cirandar.     
      Após um longo período de estiagem e calor sufocante, o dia amanheceu meio chuvoso. Achei que muita gente iria faltar...
      Mas fiquei feliz porque a maioria compareceu, e compareceu animada aguardando a tão esperada chuva. E choveu. Uma chuva mansa, sem ventania, sem relâmpagos e trovões, molhando lentamente o chão. E aí todo mundo ficou feliz abençoando a chuva que caiu do céu.
     A novidade foi a presença do senhor Nelson Biazotto, que veio engrossar o grupo de músicos. O Milton e a Remir vieram da Ilha para a alegria de todos.
   
   Como havíamos combinado, o Osvaldo Valverde recolheu as doações para comprar cadeiras de varanda para usar no barracão. Conseguimos arrecadar R$ 750,00, mesmo sem a colaboração de alguns que se esqueceram do Projeto. Com esse valor, o Valverde vai negociar a compra das cadeiras.
      Além do lanche farto, das cantorias e muita conversa, houve a comemoração de aniversário de Flora Forte 72 anos, de Joaquim Leite 82 anos e Rachel Sperandio 84 anos. Cantamos os parabéns para os aniversariantes, que nos brindaram com um delicioso bolo.
      E ao final ficou acertado que em 28 de outubro, comemoraremos o sétimo ano de Ciranda com um almoço churrasco. Todos ficaram muito animados com essa notícia.

      E assim, foi mais uma tarde cirandeira.
Em outubro tem mais.
      Mirandópolis, setembro de 2017.
kimie oku in


domingo, 1 de outubro de 2017

         Bonecas e bonecos
    
       Ao escrever sobre as coleções da Ana Caldatto, eu me lembrei que nunca tive uma boneca de verdade. Éramos tão pobres, mais pobres que pobres, que não havia lugar para esses luxos para as crianças dos anos 50. Filhas de imigrantes japoneses...
       Mas, criança gosta de brincar e a única lembrança que tenho é de bonecas de milho verde, com os cabelos vermelhos ou amarelos... A roupa era sempre de palha verde... E os meninos brincavam com chuchus e batatas doces, espetando pauzinhos que funcionavam como pernas... Tão pobre, tão rústico... Mas hoje dá saudades...
      
    Só fui ter contato com bonecas quando nasceu a minha filha, que foi mimada com uma dezena de bonecas lindas... Mamãezinha que ninava um bebê, a bela Susy, a elegante Barbie, a brasileiríssima Emília, Fofolete, Feijãozinho e tantas outras que nem lembro mais...E quando nasceu a minha neta, a gente trombava com as bonecas espalhadas pela casa. A menina tinha uma mania estranha: Tirava toda a roupa da boneca e ficava ninando-a peladinha... As roupas incomodavam o ato de ninar...
     Descobri um dia que existiam bonecas de porcelana. Tão lindas, tão ricamente vestidas... Mas, essas se destinavam a outra classe de meninas... Assim como as bonecas imperiais do Japão, que as meninas japonesas cultuam no dia 03 de março, Dia das Meninas ou Hina Matsuri. Os bonecos ricamente vestidos de seda e brocado representam a Família Imperial e são colocados numa espécie de altar, com os Príncipes, as Princesas e os Músicos do Palácio. Nesse dia, as meninas se vestem de belos quimonos e tomam chá com as amigas que chegam para visitá-las, para apreciar a exposição dos bonecos imperiais.

    Mas, também sei de lendas japonesas sobre bonecas... Kokeshi, bonequinho de madeira, que lembra uma história triste do Japão Medieval, quando a fome imperava e obrigava os pais a venderem suas meninas para não morrerem de fome... As meninas nas mãos dos mercadores se transformavam em gueixas acompanhantes de homens, ou caiam na prostituição. Certa mãe teve que largar um filho amado numa montanha coberta de neve, porque não tinha como alimentá-lo, e o remorso consumiu toda a sua vida. E sempre no aniversário do abandono, ela esculpia um boneco de madeira, com cabeça redonda e corpo roliço... Era o kokeshi, um bonequinho de madeira sem braços e pernas. Ela o fazia, supondo que o espírito de seu filho se incorporaria no boneco e não se perderia para sempre...

Outra lenda diz que as bonecas conseguem adquirir vida própria. Certa menina japonesa tinha uma linda boneca vestida de quimono, que chamava de Okiku. Ela amava a boneca e sempre a carregava. Mas um dia, a menina morreu... E a boneca ficou sozinha. Passado um tempo, os cabelos da bonequinha começaram a crescer sem nenhuma razão. Ninguém soube explicar o fato. A boneca está guardada no Templo Mannenji, no Japão... Por causa dessa lenda, muita gente no Japão não gosta de conservar bonecas esquecidas nos armários. Quando as crianças crescem e as bonecas ficam abandonadas, os pais as levam aos Templos Budistas para queimá-las, conforme o Professor Kakutani de Língua Japonesa nos relatou certa vez no Nipo...
Há lendas e lendas sobre bonecas. A maioria relata coisas misteriosas e assustadoras. Basta consultar o Google. Mas, o que me impressionou é uma lenda do México. Num lugarejo mexicano chamado Xochimilco, há uma Ilha das Bonecas... Segundo a lenda, há décadas atrás, don Julian, morador local soube de uma jovem que morrera afogada no canal, ali perto. Uns dias depois viu uma boneca boiando nas águas, a recolheu e pendurou numa árvore para agradar ao espírito da jovem. Então, o local se transformou numa espécie de santuário, onde outras pessoas começaram a pendurar outras bonecas. Seu primo Anastásio continuou a tradição, permitindo a visitação pública. Mais bonecas apareceram boiando... Toda essa coleção de bonecas deixadas ao relento ficaram feias e sujas com o passar dos anos, e hoje têm um aspecto assustador. Mesmo assim, tem gente mórbida que vai visitá-las...

 A vivificação das bonecas foi inventada por gente que gosta de assustar as pessoas. Dizem que os olhos da boneca começam a enxergar tudo que a rodeia. Acredito que foi essa lenda que motivou alguns cineastas a produzirem filmes de terror usando bonecas e bonecos. Eu tenho pavor desses filmes... Havia em casa até uns anos passados, um boneco grande todo colorido que ficava guardado dentro do armário. Sempre que abria o armário, eu me sentia meio aterrorizada, pois o boneco tinha um olhar ruim...
       E chegamos à Anabelle, uma boneca que prega sustos nas pessoas... Nunca terei coragem de assistir a esse filme; vi uns flashes e não gostei. E o filme está fazendo muito sucesso. Tem gente que gosta de sofrer, de ficar arrepiado, de levar sustos e choques. Eu, não.
       Mas, quero fechar esta crônica com chave de ouro!
Franz Kafka, escritor e pensador tcheco que, descreveu magistralmente a fragilidade e a impotência do homem, diante das instituições criadas pelo próprio homem em O Processo, O Castelo, A Metamorfose teve ao final da vida, um lance comovente relacionado com boneca. Certo dia conheceu num Parque, uma menina que chorava a perda de uma boneca querida. Ele a consolou por três semanas se declarando Carteiro para lhe entregar cartas da boneca, que estaria viajando pelo mundo. Nessas cartas, a boneca descrevia os lugares, as paisagens, as cidades, os climas que acabaram consolando e encantando a menina. E ao final, ele lhe deu uma nova boneca. Esse fato foi relatado por sua esposa...



Mirandópolis, outubro de 2017.
kimie oku in