sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

              Viver outras vidas...  

        Para mim, a vida sempre foi e será um mistério insondável. A morte então, nem se fala. Por mais que matute e analise, não acho uma explicação plausível tanto para a vida como para a morte.
      Por isso, acho que a vida é a coisa mais preciosa e misteriosa que existe. Não só a dos humanos, como também dos animais e dos vegetais. Também acho que a água é viva assim como a montanha, o vento, a brisa... todos eles têm uma presença que nós sentimos na pele... para mim não são abstratos.
      Entretanto, sempre tivemos a ideia que quando alguém falece, tudo acaba, o corpo se degrada e vira pó... “Memento homo, quia pulvis es et in pulvis reverteris” ou seja “Lembra-te homem, que és pó e ao pó voltarás!”
      Essa frase litúrgica, inscrita em portais de cemitérios, lembra com crueza a nossa condição de frágeis criaturas, que estão de passagem pela terra como uma carreira de formiguinhas...
      Mas, esta semana, ao perdermos um amigo querido tão jovem ainda, tivemos a grata surpresa de saber sobre a doação de partes de seu corpo, para outras pessoas que estão vivendo com dificuldade, devido à inoperância de certos órgãos. Córneas, fígado, rins e tecido ósseo para salvar vidas... Em meio à dor da perda, o respeito de toda a cidade por esse gesto da família.
      Com certeza, o jovem continuará vivendo em outros corpos, cumprindo uma nova e bela missão: ser o suporte para normalizar a vida dos beneficiados.
      Para mim, que nada entendo de procedimentos cirúrgicos, menos ainda de transplantes, é uma coisa espantosa poder recuperar ou normalizar vidas através da substituição de órgãos doentes por outros saudáveis.
      Acredito que a parte implantada, quando não rejeitada deva assumir as condições do novo ambiente físico, regenerando o organismo doente. Deve ser um milagre! Como um enxerto que se faz em plantas machucadas. E tudo se normaliza e a pessoa passa a viver tranquilamente, sem medo de mal estares súbitos.
      Pensando em tudo isso, é preciso pensar na necessidade de mais doações, de mais desprendimentos para ajudar outras pessoas a levar uma vida normal. Imagino a felicidade de alguém que, receba um coração sadio quando a sua vida está por um fio. Deve agradecer a Deus e ao doador todos os momentos de vida vivida a partir daí. E outros que recebem córneas e passam a enxergar melhor o mundo. Deve ser fantástico!
      Enxergar com olhos alheios, pulsar com um coração de outro, ter um novo fígado processando os alimentos direitinho... novos rins eliminando as impurezas do corpo... são simplesmente milagres, que nunca passaram pela ideia de nossos antepassados. Quantos deles foram embora porque tinham órgãos afetados e, não se cogitava em transplantes ainda.
      A história de transplantes é bem antiga, pois em 1933, um médico ucraniano, transplantou um rim para tratar um paciente que sofria de insuficiência renal. E em 1967, o médico sul africano Christiaan Barnard fez o transplante de um coração humano. É verdade, que o receptor não usufruiu muito da alegria de ter um novo coração batendo no peito, pois houve rejeição... Mas, foi o começo de uma nova era na Medicina, e na vida de milhões de pessoas, que hoje vivem com órgãos transplantados.
       No Brasil a história de transplantes começou em 1968 e, de lá para cá não parou mais. Hoje efetuar transplantes já é rotina.
      Na minha total ignorância, ficava imaginando como seria receber um coração alheio. Porque sempre achei que o coração pulsasse conforme os sentimentos da pessoa... Desânimo faria o coração devagar... Alegria faria com que se agitasse... E rancor o acelerasse... Mas um coração estranho entraria em sintonia com os sentimentos da pessoa que o hospedou?  Ou, o coração nada tem a ver com os sentimentos? Taí uma boa pergunta. Mas, por que meu coração dispara quando fico nervosa e tensa?
      Mistérios da vida...
      Será que os sentimentos de um palmeirense que recebeu um coração de corinthiano serão afetados? Será que sua paixão pelo time anterior se manterá no mesmo nível. Ou haverá mudanças? Já imaginou um crente bem radical de Alá receber um coração do mais puro cristão... Sua visão sobre o mundo sofrerá mudanças?  E uma criança pequenina receber o coração de um jovem já mais maduro. Passará a agir como um jovem ou continuará criança mesmo?
      Perguntas... perguntas... dúvidas... Dão um nó na cabeça de gente ignorante como eu. Mas, essas indagações continuarão martelando a minha cabeça, enquanto não houver respostas...
      A gente sabe de frutas cruzadas que acabam adquirindo características novas. Experiências com melancias, melões e outras frutas que criaram novos sabores, novas imagens...
      Só os humanos manterão as características anteriores?  Afinal, no sangue ou no coração transplantado não se transplantam novos genes???
      Vou parar por aqui, porque o nó na minha cabeça está apertando demais.
      Também vou pensar em como continuarei a viver outras vidas, quando parte de mim for enxertada em alguém, já que sou doadora...
      Mirandópolis, janeiro de 2017.
      kimie oku in


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

                 Imigração Japonesa em Mirandópolis
(Pronunciamento de Takeshi Kido no Rotary Clube em 17/06/2008)

       No mês de junho, precisamente no dia 18 estaremos comemorando 100 anos da Imigração Japonesa ao Brasil. Mirandópolis uma célula deste imenso Brasil, recebeu os Imigrantes em suas terras que tão bem souberam cultivar, produzindo riquezas, participando de todas as atividades culturais, sociais, políticas e econômicas.
       Quando falamos do município de Mirandópolis, não podemos deixar de enaltecer a saga das primeiras famílias de Imigrantes que pisaram nestas terras, provenientes de diversas Províncias japonesas.  A realidade do Japão no início do século XX (1900), era de muita gente principalmente jovens sem grandes perspectivas de um futuro promissor. O desenvolvimento do país        encontrava nos setores de serviços, indústria e comércio poucas chances de trabalho e isto causava preocupações, principalmente no Governo e seus membros. No início os primeiros imigrantes que vieram como colonos, para a lida do café sofreram muito por falta de conhecimento da língua, por moradias precárias e trabalho estafante de sol a sol, num país onde as estações do ano não eram distintas como no seu país de origem, além da baixa remuneração, o que frustrava aqueles que pensavam e sonhavam em enriquecer e retornar à pátria.
       Nessa ocasião, a nossa região hoje denominada Noroeste apenas começava a ser penetrada pelo homem branco. Por suas matas frondosas ainda corriam indômitos os índios Caingangues altivos, fazendo ecoar pelas grotas os seus brados de guerra, num tremendo desafio ao homem branco invasor, preferindo a morte a serem despojados de suas terras, que eram suas por direito de nascença, que lhes dava o sustento fácil da caça, pesca e dos frutos e de sua rudimentar agricultura. Somente anos depois (1912) é que foram totalmente batidos e quase dizimados. Os poucos remanescentes acabaram vivendo completamente abandonados nos seus postos, vítimas não mais de balas assassinas, mas das moléstias e dos vícios que os brancos transmitiram.
       Os primeiros moradores do nosso município vindos do Japão já vieram em condições melhores do que os primeiros imigrantes, pois em algumas províncias do Japão começaram a surgir Companhias de Colonização de Além Mar, que adquiriam glebas de terras no Brasil para revendê-las aos que se interessavam em transferir-se para este país, Brasil. Já na condição de proprietários de glebas para que pudessem cultivar seus sonhos...
       Assim, em 1922, na Província de Nagano, liderado pelo senhor Shigueshi Nagata surgiu a Nippon Rikko Kai (Associação Promotora de Expansão Japonesa Ultramarina), uma associação de pessoas interessadas no estudo de Além Mar, e para tanto convidou agricultores, capitalistas,  industriais e comerciantes a participar da Rikko Kai, tendo em vista a necessidade de muito capital para novos empreendimentos no exterior. O senhor Nagata, homem de cultura e visão futurista planejava toda a infraestrutura necessária, para implantação de um projeto de assentamento de seus compatriotas no exterior. E para isso visitou Hawaí, Estados Unidos, México, Peru, Argentina e Brasil.
       O Brasil estava aberto a todos os povos do mundo e no ano seguinte 1924, em outra viagem ao Brasil, o sr. Nagata decidiu investir num Projeto grandioso que era de assentar Imigrantes Japoneses em 10.000 alqueires de terras. Inicialmente, adquiriu uma gleba de 2.200 alqueires através do senhor Shyngoro Wako, localizada a mais ou menos 600 km da capital do Estado de São Paulo, no município de Araçatuba, do Coronel Francisco Schimith, grande fazendeiro de café na região de Ribeirão Preto. O Coronel Schimith era amigo da Família de Santos Dumont, que era representado por seu procurador Senador Rodolfo Nogueira da Rocha Miranda, a quem mais tarde cederia as áreas contíguas à margem esquerda do Rio Tietê.
       Adquirida a área, o primeiro ato dos pioneiros no qual tomaram parte Shigueshi Nagata, Chikazo Kitahara, Shyngoro Wako e Taichiro Nishizawa, foi a escolha de um nome para o Projeto e então foi escolhido Aliança, cujo significado simbolizava “União, Harmonia e Cooperação”.
       Em 20 de novembro desse mesmo ano chegava ao Km 35 o senhor Chikazo Kitahara com sua comitiva composta de esposa, um agrimensor, um escriturário, um carpinteiro e mais alguns membros no hoje chamado Bairro da 1ª Aliança. O dito Km 35 refere-se medição que partia da Estação de Lussanvira, hoje Pereira Barreto, margem esquerda do Rio Tietê, como marco zero ou Km Zero, seguindo em direção ao atual município de Mirandópolis. A Fazenda Aliança estava localizada entre o Km 32 e km 43. Enquanto Kitahara trabalhava para instalar a Colônia, Wako procedia à venda de lotes para os imigrantes que já se encontravam no país. E os primeiros que aqui chegaram foram os Kitayama, Ito e Kitazawa e respectivas famílias, que vieram de Registro. Os primeiros que vieram diretamente do Japão com famílias foram os Ogawa, Suzuki, Kamijo e Shinohara em agosto de 1925. E começaram então, para não mais cessar as atividades dos japoneses nessas terras, que somente vinte anos depois vieram a integrar o município de Mirandópolis.
       A experiência da colonização do 1º núcleo foi coroada de êxito e tinha na Seção Central (sede) a realização dos serviços essenciais comunitários: cultural, comercial e médico/hospitalar (1º Hospital de Mirandópolis). Outras aquisições de terras foram feitas com o auxílio do Governo da Província de Tottori e posteriormente por Toyama, tendo sido nomeados para administrá-las os Senhores Massao Hashiura e Kenji Matsuzawa, o 1º na gleba que se tornou a 2ªAliança (1926) e o senhor Matsuzawa na gleba que se tornaria 3ª Aliança (1927).  O interesse de outras Províncias como Kumamamoto fizeram que outras glebas fossem adquiridas e formassem os núcleos da Nova Aliança, Vila Nova e Machado de Mello, onde muitas famílias que já haviam chegado antes, aqui se fixaram. O Distrito de Amandaba, antes chamado Espigão e Machado de Mello foi fundado pelo senhor Hiroko Sano na gleba que havia adquirido. O sonho do Sr. Nagata, o pioneiro, se concretizava atingindo a meta de assentar membros da colônia em 10.000 alqueires de terras do Brasil, que contou com a inestimável colaboração do sr. Chikazo Kitahara em todos os núcleos da colonização, com a sua experiência e liderança incontestável. Aproximadamente ao final de 1940, contabilizava-se a chegada de quase 900 famílias de japoneses, numa média de 6 pessoas por família, totalizando 5400 pessoas entre adultos e crianças.
       Contudo, imensas eram as dificuldades desses pioneiros desbravadores, que tiveram como primeiro obstáculo a densa floresta tropical, que não conheciam e precisava ser removida, para que as terras pudessem ser cultivadas. Esse trabalho era difícil e oneroso, sem perspectiva de compensação financeira imediata, pois o café, único produto agrícola exportável, que rendia bons lucros demorava em média de 4 a 5 anos para produzir. Outros produtos agrícolas obtidos em menor prazo apenas serviam para a subsistência da família, pois o transporte dos mesmos para os grandes centros consumidores absorvia todo o lucro eventual. Os obstáculos e dificuldades aos poucos foram superados graças à perseverança daqueles pioneiros, que seguindo o exemplo dos japoneses radicados na Grande São Paulo que haviam fundado a Cooperativa Agrícola de Cotia com sucesso, fundaram aqui a Cooperativa Agrícola da Fazenda Aliança, instituição quase que inteiramente desconhecida no Brasil.
       Auxiliando-se mutuamente, procurando se livrar de intermediários   que devoravam os lucros dos lavradores, entregavam os produtos para a comercialização direta pela Cooperativa e isto lhes trouxe grandes benefícios. Paralelamente a esta fundaram a Cooperativa Pecuária com finalidade de industrializar produtos suínos e bovinos, mas funcionou por pouco tempo e foi absorvido pela Cooperativa Agrícola da Fazenda Aliança.
       O senhor Rodolfo Miranda não satisfeito em apenas colonizar a gleba, quis salientar os feitos de maneira a perpetuar o seu nome e imaginou erguer uma cidade. O local da nova cidade foi cuidadosamente escolhido na área em torno do Km 50 da Rodovia Lussanvira - Vila São João da Saudade, hoje Mirandópolis. Tudo foi tratado com o máximo de cuidado e carinho e para tal destacou diversos assessores para projetar e lotear a futura cidade, cujo nome Mirandópolis perpetuaria o seu nome. Esse nome oficial no entanto não pegou e o local continuou a ser conhecido como Km 50, como é até hoje. Mesmo assim, o desenvolvimento foi muito rápido, tornando-se em breve uma cidade. Possuía hotéis, farmácia, restaurantes, bares, serrarias, máquinas de beneficiamento de arroz e café, casas comerciais diversas, chegando a rivalizar-se com Araçatuba. No entanto, com o traçado da variante da Estrada de Ferro passando pela Vila São João da Saudade (atual Mirandópolis), fez com que aos poucos o comércio estabelecido lá no Km 50 se transferisse para cá, e a Vila começou a se expandir a olhos vistos. E Km 50 foi abandonada.
       Os imigrantes japoneses deixaram o comércio do Km 50 e partiram para o Patrimônio São João da Saudade, que prosperava de maneira impressionante. E o nome do local mudou para Distrito de Paz de Comandante Árbues em 1937. O primeiro comerciante japonês que se estabeleceu nesta foi o senhor Yoshio Nakamura, que viera da cidade de Guararapes. Depois vieram as famílias Wada, Kawamoto, Kido, Mizukami, Anze, Miike, Yanagi, Hombo Kawata, Kawasaki, Nagata, Takayanagi, Sato, Fujino, Sugisaka, Motomiya, Tonossu, Amikura, Mochida, Sadano, Tanikawa, Tanaka, Ijichi, Kojima e muitas outras. A Avenida Internacional, hoje Rafael Pereira era o centro comercial da cidade. A maioria desses comerciantes eram japoneses.
       Além dos comerciantes, vieram residir na sede do município, muitos agro- pecuaristas preocupados com a educação dos filhos. Dentre estas, as famílias Ariki, Nakano, Miguita, Inoue, Sumita, Fujikawa, Miyamaru, Sasaki, Shiota e outras mais.
       Com a entrada do Brasil na Segunda Mundial contra o eixo formado pela Alemanha, Itália e Japão, a Cooperativa Agrícola da Fazenda Aliança por exigência do Governo Brasileiro, foi obrigada a nacionalizar a sua diretoria. Então, a Presidência foi entregue ao sr. Francisco Antonio de Toledo Piza e para Diretor Gerente foi indicado o sr. Manoel Flauzino Correa. Mesmo assim, o ritmo expansionista não diminuiu. Como o tecido de seda natural era utilizado para fins bélicos (paraquedas), e os preços eram bons os japoneses da região optaram pela Sericicultura, ou criação do bicho da seda, para retirar o fio de seda dos casulos para a industrialização. E logo, Mirandópolis se transformaria no maior produtor mundial de seda, a ponto de ser construído o Instituto de Sericicultura da 2ª Aliança, que dava suporte técnico aos produtores. Isso encorajou as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo a instalar uma Unidade de Fiação e Tecelagem de Seda em Mirandópolis, onde atualmente funciona a Empresa Nutribem. Também os japoneses foram os pioneiros no cultivo da soja em nosso município, e até foi realizada a Primeira Festa de Soja nas Alianças. Também, por iniciativa dos japoneses, Mirandópolis chegou a ser o 2º maior produtor de ovos do Estado de São Paulo.
       Desde o início da Imigração japonesa até os dias de hoje, os seus descendentes têm contribuído positivamente em todos os setores da vida brasileira. No entanto, não podemos deixar de registrar uma mancha negativa na história dos japoneses no Brasil...  Ao término da 2ª Guerra Mundial, que terminou com a derrota do Japão, com a bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, os japoneses aqui residentes não aceitaram a derrota de seu país de origem. Um país com 2600 anos de existência que nunca havia perdido uma guerra... Descrentes dos noticiários, formaram uma facção chamada Shindo Renmei, ou Liga do Caminho dos Súditos (Súditos do Imperador do Japão, que era venerado como um Ser Sagrado). Os membros fanáticos pelo Imperialismo japonês não admitiam a derrota e começaram a atentar contra os próprios patrícios que acreditavam na derrota. Esse fanatismo fez muitas vítimas em todo o Estado de São Paulo, nas regiões ocupadas pelas colônias de japoneses. Até aqui em Mirandópolis, no Bairro da Vila Nova houve destruição de barracões de bichos de seda... Muitos atentados foram registrados em Penápolis, Marília, Bastos... Houve no balanço geral, 23 mortes e mais de 150 feridos. 400 fanáticos presos e confinados na Ilha Anchieta. Houve necessidade de intervenção do Governo Federal para conter essa fúria de fanáticos. Após dez anos de cumprimento da pena, o Presidente Kubistchek comutou as penas e os libertou. Mas, ficou essa mancha na História dos Imigrantes Japoneses, infelizmente ...
       No campo cultural, a construção do 1º Grupo Escolar dentro dos padrões exigidos pelo Departamento de Educação em 1941 foi um marco importante, pois foi construído às custas da comunidade e posteriormente doado ao Estado. Os japoneses também colaboraram nessa empreitada. O Primeiro Grupo Escolar começou a funcionar em 1942, incialmente com o nome de Comanndante Árbues. E em 30/11/1944, com a Criação do Município, passou a se chamar Grupo Escolar de Mirandópolis. Sinto-me privilegiado por ter sido um dos primeiros nisseis graduados pelo Ginásio Estadual de Mirandópolis (1950/53 – 1ª turma) em companhia de Natsumeda, Kamada, Kazuo Kawamoto, Toshio Sugisaka, Keitaro Mizukami, Chinzo Amino, Kunitaka Shimoda, Aiko Morita, Akiko Kanzawa, Naoko Sugisaka e Miyuki Mochida. A Comunidade Yuba é um exemplo de arte e cultura, com o seu Balé conhecido no Brasil e internacionalmente. Também é preciso destacar que a Granja Yuba foi a maior Granja Avícola da América do Sul no pós guerra, quando ainda estavam instalados no Bairro Formosa em Guaraçaí.
       Os japoneses e seus descendentes hoje integram a classe laboriosa e bem educada que brilha nas várias áreas de Ciências Biológicas, Exatas e Letras, para orgulho dos pais e avós, que sempre tiveram na cultura a esperança de dias melhores. Apenas a título de ilustração, em 1977 conforme a Revista Veja, apenas 2,5 % da população do Estado era composta de japoneses e seus descendentes. No entanto, 13% dos jovens aprovados nos Vestibulares da USP, 16% no ITA e 12% na Fundação Getúlio Vargas eram nisseis.
       Os reflexos da crise econômica da década de 80, mais as consequências do Plano Collor e a demanda do Japão por mão de obra, fizeram que entre 1980 e 1990, cerca de 8500 japoneses e descendentes residentes no Brasil decidissem tentar a vida no outro lado do mundo, em busca de um futuro que não viam aqui, efetuando o caminho de volta dos antigos imigrantes que aqui vieram. Hoje esse contingente de dekassegis ultrapassa a casa dos 31.300 indivíduos. Todos em busca de sonhos a serem realizados.
       No campo político, os nisseis e sanseis tiveram em Mirandópolis uma atuação destacada, pois tivemos um Prefeito Dr. Mitsutoshi Ikejiri, dois Vice- Prefeitos Dr. Eduardo Sunada e Dr. Celso Minomi. E os seguintes Vereadores: Tomico Uemura e Kenji Hattori por Amandaba; Luís Oba, Tooru Kamijo, Mamoru Sueta, Tokuji Horie, Sussumu Yamakami, Issao Yoneyama Hajime Komatsu, Carlos Hiramatsu e Tiaki  Kamano pelas Alianças. E por Mirandópolis, Paulo Miike, Dr. Massayuki Otsuki, Dr. Yoshito Kanzawa, Dr. Takeshi Kido, Itio Nakano, Takaomi Ijichi, Dr. Takeshi Sasaki, Dr. Mitsutoshi Ikejiri, Haruo Nakano, Dr. Riyuichi Ijichi, Dr. Celso Minomi e Dr. Yukio Abe.
       Na área profissional, 50% são descendentes de japoneses nascidos aqui em sua maioria, e prestam serviços à comunidade. Temos que destacar o saudoso Dr. Yoshito Kanzawa que atuou no Rotary Clube de Mirandópolis, e nos legou ensinamentos e assistência médica à comunidade. Foi Presidente do Rotary Clube e líder de intercâmbio cultural nos Estados Unidos. Também merece destaque o Dr. Takeshi Sasaki, que foi atuante na comunidade e idealizou a construção da sede social do Rotary. 40% dos Rotarianos daqui são de origem nipônica e compartilham do ideal do Clube que é “Servir e como fim procurar a Paz Mundial”.
       Nosso país Brasil foi cenário dessa epopéia moderna, e não só comemoramos a chegada das primeiras 165 famílias a bordo do Kassato maru, que aportou em 18 de junho de 1908 em Santos, mas também louvamos o exemplo de sagacidade, tenacidade, perseverança e confiança das quatro gerações de Nikkeis que hoje vivem no país, com dedicação ao trabalho e respeito aos padrões da Ética.
       Obrigado!
Rotary Clube de Mirandópolis, 17 de junho de 2008.
Dr. Takeshi Kido

       

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Canções de ninar

  



        "Boi, boi, boi ,

          boi da cara preta,
  Pega esta menina
   que tem medo de careta!”


Essa canção tão prosaica tinha o poder de fazer a minha filha de 2, 3 aninhos chorar muito... Mesmo chorando, gostava de ouvi-la... E nunca soube porque essas palavras tocavam o seu coração, a ponto de fazê-la chorar. Acho que nem ela saberia explicar... Os outros filhos e a neta não tiveram essa estranha reação.
Sempre cantei canções de ninar pra fazer minhas crianças dormir.  Cantei centenas de vezes
“Nana nenê,
Que a Cuca vem pegar!
Papai foi na roça
E mamãe no cafezal!”
Já nem havia cafezal, mas a canção é herança dos tempos duros da época das colheitas de café, em que todas as mulheres tinham que participar. Retrato de uma época.
E cantei:  Fui no Itororó, beber água e não achei, achei bela morena que no Itororó deixei... Cachorrinho está latindo lá no fundo do quintal. Cala a boca, cachorrinho! Deixa o meu amor entrar!  Atirei um pau no gato to to. Mas o gato to não morreu rreu, rreu. Dona Chica ca admirou se se... do berro do berro que o gato deu Miau! À mão direita tem uma roseira que dá flor na Primavera. Que dá flor na Primavera. Entrai na roda, linda menina e escolhei a mais bela flor, a mais bela flor...  Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão. Acudiram três cavalheiros, todos três de chapéu na mão... O primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão, o terceiro foi aquele que a Teresa deu a mão...
Muitas vezes, acalentando a criança sonolenta, eu acabava acalentando meu coração também. Atormentada pelos afazeres mil que, tornavam meus dias muito turbulentos.  E cansativos entre a escola, os deveres domésticos, cuidando das crianças, do marido e da alimentação de todos.
Mas, ao longo da vida conheci maravilhosas canções de ninar. Algumas aprendi a tirar ao piano como a Berceuse de Brahms, e  o Dorme, filhinho de Mozart.  São lindíssimas e só de ouvi-las, percebe-se que são doces canções de ninar, mesmo não conhecendo a língua em que são entoadas.
Acredito que todas as mães entoaram alguma canção de ninar quando tinham crianças pequenas. As canções de ninar têm o poder de acalmar e adormecer. Elas funcionam até para adultos tristes e desconsolados... E muitas vezes, essa entoação serve também para consolar e confortar a pessoa que canta.
Há um encanto, uma nostalgia e uma doçura inexplicável nessas canções. Talvez por carregarem histórias de outras mulheres e outras crianças, que precisaram delas ao longo dos séculos, para acalmar seus corações... São canções que se perpetuaram através de tempos mais remotos, passando de ouvido a ouvido e de boca a boca.
Folclore?  Tradição?  Cultura?
É tudo isso e muito mais. Carregadas de emoções, de choros que devagarinho se acalmaram, de carinho da pessoa que canta, de silêncio que enfim acaba reinando no aconchego do lar...
Canções de ninar, remédio da alma.
Gosto muito de cantar a Berceuse de Brahms:
“Boa noite, meu bem!
Dorme um sono tranquilo!
Boa noite, meu amor,
 Meu filhinho encantador!
Que uma santa visão
Venha a mente extasiar!
E uma doce canção
Venha o sono embalar!”

E ao piano, se torna uma canção terna, que alenta e consola.
        Existem lindas canções japonesas, que ouvi quando criança e nunca esqueci, como Nanatsu no ko ouKarasu, naze naku no? e Yuyake Koyake , que cantei muitas vezes.
         “Yuyake, koyake de hi ga kurete.
Yama no oterá no kane ga naru.
Ootete tsunaide minna kaero!
Karasu to ishioni kaerimasho!
Kodomo ga kaeta ato kara wa,
Sora ni wa ookina otsukisama!
Kdomo ga yume o miru  koro wa,
 Sora ni guin guira, guin no hoshi!”
Traduzindo:
“Ao pôr do sol,
Toca o sino da capela!
De mãos dadas, vamos voltar pra casa.
Voltemos, assim como os corvos...
Depois que as crianças se vão.
Imensa lua surge no céu!
E enquanto elas sonham
 No céu brilham estrelas de ouro!”
Canção de ninar me lembra meu pai que ninava as crianças pequenas de casa, carregando-as nas costas, ao anoitecer. Ele andava devagarinho cantando Kojo no tsuki ou
Luar da Fábrica. É uma antiga e triste canção, que fala de saudades ao ver o luar na fábrica. Acredito que ele a cantava para matar as saudades de sua terra natal, de onde viera embora com apenas treze anos de idade, sem a família. Quando ouço essa canção chega a doer a alma...
Mas a canção mais bela se chama Jinsei no namiki michi. Composição de Koga Massao, um dos mais venerados compositores do Japão. É a história de duas crianças, que perderam os pais e estão fugindo da vila, durante a guerra. A menina chorando e o menino consolando-a... Dizendo pra não chorar, porque mesmo depois da neve, a Primavera virá. E que é preciso caminhar sempre para frente.  E viver com coragem e esperança nessa estrada da vida.
Quando essa canção foi lançada no pós guerra, comoveu a todos os japoneses, porque era a história verídica de milhões de crianças órfãs, perdidas no mundo... Até o cantor Ookawa Eisaku confessou que, se desmanchou em lágrimas, quando a cantou pela primeira vez. Na época também tinha uma irmãzinha...
Aprecio demais canções de ninar.
A voz da mãe, o colo quentinho, os braços aconchegantes, a interação total fazem dessa cena, uma das mais belas da humanidade.
E tenho certeza que em algum lugar remoto da África, da Índia, da Alemanha, haja nesse instante uma mãe ninando seu bebê com uma doce canção de amor.
Boa noite, meu amor, dorme um sono tranquilo...

Mirandópolis, janeiro de 2017
kimie oku in





quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

      Hortifrutigranjeiros

Há umas décadas atrás, a preocupação dos hortifrutigranjeiros locais era o escoamento de seus produtos e, a defesa dos preços para cobrir as despesas e garantir renda.
Os atravessadores imperavam na época e os lavradores perdiam o lucro para eles, e nunca eram recompensados pelo trabalho duro de plantar, adubar, cuidar capinando e combatendo pragas, colher e embalar... Era muito desanimador e muitos agricultores acabaram desistindo dessa ocupação.
Então, um grupo de gente séria resolveu formar uma Associação,  para defender os interesses dos produtores de Mirandópolis e região.
E em 06 de dezembro de 1991 foi fundada de fato a Associação de Hortifrutigranjeiros de Mirandópolis. Para essa formação, recebeu orientações do Engenheiro Agrônomo Dr. Alberto Marcos Belintani e de todos os funcionários da Casa da Lavoura, especialmente do Toninho, da Nice e da Ana. A primeira reunião foi na Casa da Lavoura.
A primeira diretoria compunha-se de:
Presidente – José Maria de Carvalho
Vice Presidente – Osório H. da Silva
1º Secretário – Noriyoshi Oku
2º Secretário - Pedro Bertuzzo Neto
Dezenas de membros como Sebastião R. Dilete, Manoel Carneiro da Silva, José Ulisses Milanesi, Nobuo Kazama, Rosalvo H. da Silva e Osvaldo Brandão, uniram forças com a diretoria e impulsionaram a nova entidade.
A primeira viagem foi em 1992 para Muriaé, Minas Gerais com uma carga de goiaba, que na época era produzida em grande escala em Mirandópolis. Foi um sucesso, e todos ficaram animados.
Como não havia uma sede para ajeitar a carga, tudo era feito na rua, e a pracinha do Jardim Miguita serviu bem para esse propósito. Logo, porém todos perceberam que seria necessário um barracão para receber e despachar os produtos. O sol e a chuva dificultavam o trabalho de todos. Mas, não havia recursos...

Conforme o grupo foi crescendo e o escoamento dos produtos aumentando, fez se necessária uma sede para proporcionar conforto a todos. A Prefeitura através do Prefeito da época Mitsutoshi Ikejiri fez a concessão do terreno por 30 anos.  E assim, com a sugestão do Agrônomo Belintani, para garantir a estrutura da construção foram utilizadas umas colunas de ferro, que estavam depositadas no hangar do antigo Campo de Aviação no Bairro Aeroporto.  Essas colunas de ferro foram doadas pelo Governo do Estado, para se construir um barracão destinado a guardar produtos agrícolas. Mas não se sabe porque ele nunca foi construído.
O atual barracão/sede sito no final da Rua Anchieta foi construído com a colaboração da Prefeitura. A Prefeitura através dos Prefeitos Jorginho, Zanon e Chicão Momesso sempre ajudaram nos melhoramentos do prédio. Para levantar fundos estabeleceu-se a cobrança de jóias para os participantes e carnês de contribuição mensal dos associados. E com essas verbas arrecadadas foi possível fechar e cobrir o barracão, que inicialmente só tinha o cercado... Hoje os caminhões carregados de produtos sazonais entram por uma porta, descarregam os produtos e saem por outra. O espaço interno é considerável e o carregamento também é feito dentro do barracão. O movimento é grande, porque há associados de Lavínia, Guaraçaí e Mirandópolis, incluindo as Alianças e Amandaba. É comum ver caminhões dos Estados Sulinos como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul levando carregamentos daí.
A Associação possui um caminhão, que busca os produtos na roça. Às vezes essa busca acontece de madrugada ou no meio da noite. E há dois motoristas que se revezam nesse trabalho.
Há pouco tempo foram mandadas três carretas carregadas de limão para Amazonas. Compradores de várias regiões do país chegam para levar esses produtos, que são abacaxi, acerola, limão, goiaba, abacate, manga; e legumes como mandioca, batata doce, jiló, pepino, berinjela, abóbora e quiabo.
Recentemente foi aberta uma Feira do Produtor, que oferece produtos diretos da roça para o consumo da comunidade. Os preços são  bem mais acessíveis que dos mercados. São vendidos cerca de 30 produtos sazonais como pepinos, berinjelas, jiló, quiabo, limão, laranja, abacaxi, abacate, batata doce, inhame, abóbora, banana, tomate, cebola, vagem, ovos...
Atualmente, a Associação tem oito funcionários, dos quais cinco são registrados e três são voluntários, que recebem pequena ajuda e se dedicam bastante ao trabalho. O horário de funcionamento é das 8 às 17 horas, e a Feira funciona aos sábados e domingos também, no período da manhã. Parte da renda fica com a Associação, para cobrir as despesas dos funcionários, luz e telefone.

O rústico barracão que mede 20 por 54 metros é ladrilhado, e possui vários equipamentos necessários como a Balança capaz de pesar até 30 toneladas, Esteira rolante que higieniza os limões e laranjas, Câmara fria para guardar o leite dos granjeiros, que é encaminhado para um Laticínio de Andradina. Há também uma sala/câmara para guardar os produtos mais perecíveis. Ainda, há uma cozinha espaçosa, que pode ser utilizada para a realização de Cursos de Culinária aos lavradores e produtores de leite.  Atualmente, o Sindicato Rural local assumiu os Cursos, mas a Associação já proporcionou vários Cursos pela SEBRAE  e pelo SENAR.
 O controle dos valores é anotado com rigor para garantir os lucros e a transparência das transações.
Os funcionários que garantem o recebimento e o escoamento dos produtos e o funcionamento da Feira são: Pedro Bertuzzo Neto, Carlos Aparecido Marques da Silva, Sidmar Almeida, Renato Teixeira, Paula Souza, Vanderleia Loche, Cleiton Amaral e José Maria de Carvalho.
Associados: Paulo Kazuo Sassaki, Pedro Bertuzzo Neto, Mizael José da Silva, Luís Carlos Corte, Benedito Alves de Souza, Márcio José Pim, Leonardo Lopes, Carlos Aparecido Marques da Silva, Elzio Leôncio, Roberto Rosa, Manoel Carneiro da Silva, Sérgio Corte, Sussumu Hattori, Ailton Cruz Martins, José Maria de Carvalho, Noboru Kazama e Ailton Diletti.
Atual diretoria:
Presidente -  José Maria de Carvalho,
VicePresidente -  Edgar H. da Silva

Secretário - Miguel Cruz.
Pelejando com dificuldades, o grupo conseguiu manter a Associação funcionando regularmente, encaminhando a produção agrícola da região para várias partes do Brasil. O trabalho nunca foi fácil, pois buscar os produtos na roça por estradas tortuosas, poeirentas e barrentas é o cotidiano dos motoristas. Muitas vezes, essas buscas se realizam no meio da noite e nas madrugadas, para escoar rapidamente o produto que é perecível, e perde a qualidade diante do forte calor tropical.
Mesmo diante de tantas adversidades, os associados se mantiveram firmes no seu propósito, e em Dezembro de 2016 se reuniram para comemorar as Bodas de Prata da Associação. 25 anos de existência! A Associação deu certo e hoje é um orgulho para Mirandópolis. Para chegar até aqui, o grupo recebeu a inestimável colaboração da Polícia Militar, da Casa da Lavoura, da Prefeitura, do Jornal Diário, que vem publicando todas as notícias referentes às atividades dos produtores.
A Agricultura em Mirandópolis e região não faliu por causa dessa Associação. Em várias regiões do país, por falta de estímulo do Governo e pelas dificuldades próprias de escoamento, os lavradores desistiram da terra e do plantio. Vai chegar um tempo em que, o Brasil terá que importar alimentos de outros países. Alimentos que podem ser produzidos aqui, dada a grande extensão das terras e de mão de obra disponível.
     Aqui deu certo porque houve união, dedicação à terra e vontade de produzir. Deu certo porque todos se empenharam e acima de tudo, porque os produtores não desistiram. Plantar e colher ainda é uma atividade gratificante para quem gosta da terra. E nada é mais gratificante que ver as plantas crescendo e os frutos amadurecendo. E é justamente isso que garante o sustento de quem está lendo agora esse depoimento.
Mas é preciso fazer um destaque!
A Associação deu certo porque dois cidadãos se dedicaram de corpo e alma no seu sucesso: José Maria de Carvalho, bancário aposentado, proprietário de uma Chácara e Pedro Bertuzzo Neto, agricultor. Para eles, não existem dificuldades insuperáveis. Vão ao campo buscar os produtos mesmo no meio da noite, junto com os motoristas. E a transparência de suas ações registradas com fidedignidade nos livros do Escritório é que conquistou a confiança dos associados. Parabéns a todos os Associados, aos funcionários, e principalmente aos produtores agrícolas da região.
Que a Agricultura continue firme e forte e vida longa à Associação de Hortifrutigranjeiros de Mirandópolis
Mirandópolis, janeiro de 2017.
kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/