quinta-feira, 22 de setembro de 2016







Padre Epifânio Ibanêz           
                 Baños

É praga do Padre Epifânio!”
É uma frase que tenho ouvido ao longo dos anos, toda vez que uma seca prolongada castiga Mirandópolis.  
Sei que jamais esse nosso antigo Pároco praguejaria contra o seu povo, mas há um fato que justifica essas palavras. É que esse Ministro de Deus que, aqui aportou em 30 de novembro de 1939, e pelejou durante vinte e cinco anos em Mirandópolis e região, foi injustamente desterrado para outras terras e outras Capelas. Por questões políticas.
E esse desterro dói até hoje na alma de todos os mirandopolenses. Ele já estava envelhecido, cansado de muitas labutas, quando o apartaram da maravilhosa Igreja Matriz que construiu, e deixou como legado histórico para a posteridade. Acredito que seja o remorso coletivo que, faz o povo repetir essa frase ao longo desses trinta e três anos, após a sua partida.
        Mas, o Padre Epifânio que se tornou Monsenhor, não é lembrado só nesses tempos de estiagem prolongada. Hoje, sabemos que foi a autoridade mais importante que passou por aqui.  A Igreja Matriz em estilo colonial brasileiro que construiu é, sem dúvida nenhuma, uma das mais belas da região. Ela se tornou o cartão postal da cidade. Pela obra magnífica que nos deixou e, por seu trabalho na propagação da palavra de Deus, Padre Epifânio é venerado por todos até hoje.
        Vamos então, contar a história desse homem que fez tanta diferença para Mirandópolis e região.
        Epifânio Ibanêz Baños era filho de EstebanIbanêz e Maria Baños. Nasceu em Puebla de Valdávia, Espanha em 07 de abril de 1899.
        Após tornar-se Sacerdote chegou em São Paulo, Brasil em 18 de abril de 1925. Em 1926, foi nomeado Vigário da Paróquia de Taquaritinga (SP), onde atuou até 1931. Em 1931 foi transferido pra o Colégio Santo Agostinho, em São Paulo.
De 1931 a 32 foi Vigário da Paróquia de São José em São Carlos, de onde foi transferido para a Paróquia de Catalão em Goiás, onde ministrou também aulas de segundo grau, pois era portador de registro de Professor em diversas disciplinas no Ministério da Educação.
Em 1939 veio para a Diocese de Cafelândia, e em 30 de novembro desse mesmo ano foi nomeado Pároco da Capela São João Batista de Mirandópolis.
Em 1939, não havia uma Igreja em Mirandópolis, apenas uma tosca Capela de madeira, e o vilarejo estava rodeado por densa floresta, onde habitavam muitas onças e outros animais selvagens. Na época da colonização, a região fora domínio dos índios caingangues.

Naquela época, havia apenas um amontoado de casas desalinhadas, porque o que florescia realmente era o Bairro do Km 50, onde o Senador Rodolfo Miranda pretendia instalar uma metrópole, que superasse o comércio de Araçatuba. Como a única via de acesso à sua propriedade era por uma deficiente ferrovia, que ligava Lussanvira(hoje Pereira Barreto) a Araçatuba, o Senador abriu uma boa estrada, a que deu o nome de Rodovia Rodolfo Miranda. A intenção era povoar e fazer prosperar o Bairro do Km 50. Entretanto, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) em sua penetração pelo sertão, para chegar a Mato Grosso, por questões de economia, houve por bem desviar o traçado de Lussanvira. E a linha férrea foi fixada no local que estava prosperando São João da Saudade (hoje Mirandópolis), de Manoel Alves de Ataíde. E aqui foi construída a Estação Ferroviária. A passagem do trem na localidade trouxe um progresso repentino, e logo os moradores do Km 50 acabaram se transferindo para cá. E o sonho do Senador morreu... Mas, o nome que o próprio Senador dera à cidade de seus sonhos prevaleceu: Mirandópolis para eternizar o nome de seu idealizador.
Em 1939, quando o Padre Epifânio aqui chegou, Mirandópolis era uma região inóspita, cercada de floresta fechada. A mata estava sendo devastada para se plantar café, que era a base da economia brasileira. E os trabalhadores que derrubavam as árvores eram todos nordestinos, que aqui vieram à procura de trabalho e de uma vida mais confortável.  A chegada do Padre foi providencial para impor ordem, respeito e religiosidade entre os moradores.
E o Vigário era muito sisudo e rigoroso quanto às obrigações religiosas. Logo se impôs e, começou o seu trabalho de regularizar a vida religiosa de todos, catequizando, batizando, casando e convocando todos à missa. A população cresceu rapidamente e, a pequena Capela não comportava mais os fiéis.
Então, o Padre Epifânio iniciaria uma grandiosa missão: a de construir uma Igreja Matriz que pudesse atender a todos com dignidade. Era o tempo do café, em que fazendeiros ficavam ricos da noite para o dia com a venda do precioso grão, que era exportado para o mundo todo. Prosperaram as Máquinas do Lourencinho, a Comercial Peres, a Máquina Wada de beneficiar o café. Este era descascado, e toneladas de café foram enviadas para o porto de Santos, para atender aos compradores estrangeiros. O Brasil era o maior produtor e exportador de café do mundo.
O Padre apoiado por cidadãos locais começou a campanha do café, para reverter em benefício da Igreja de seus sonhos. O jovem clérigo acompanhado de seu amigo Eleotério Sanches, percorreu vezes sem conta, as tortuosas estradas de terra em busca dos sacos de café, num caminhãozinho. Buscava também leitoas e frangos, para as intermináveis quermesses, para angariar fundos. Padre Epifânio era incansável.
Era um trabalho hercúleo, pois além de Mirandópolis, ele atendia ainda a Paróquia de Lavínia, Guaraçaí e aos Bairros de Tabajara em Lavínia, de Machado de Mello (Amandaba), as três Alianças e mais as fazendas de Mirandópolis. E a campanha do café e as quermesses ocorriam em Lavínia e nessas outras localidades para a construção de Capelas... E celebrava missas todos os dias em latim... Dominus Vobiscum! Et cum spirit tuo!... E realizava batizados, casamentos, confissões e dava assistência aos moribundos. E era um só para tudo isso. Além disso, ele coordenava a atuação dos vários grupos de oração, como o Apostolado da Oração, a Congregação Mariana, a Pia União das Filhas de Maria, a Associação São José, o Grupo da Cruzada Infantil...
O senhor Manoel Alves de Ataíde, fundador da cidade ao tomar conhecimento da intenção do Pároco, fez a doação do terreno para se construir a Igreja e a Casa Paroquial. Doou um quarteirão inteiro medindo oitenta metros de lado, situado entre as ruas São João, Rua do Comércio, hoje Nove de Julho, Rua Getúlio Vargas e Rua João Pessoa, hoje Rua Ana Luiza da Conceição, que era o nome da senhora esposa do fundador. Como ele doou também o terreno anexo para se construir a Praça, a Igreja foi construída defronte à Praça Manoel Alves de Ataíde, a principal da cidade. E formou um belo cenário, com a Igreja sobressaindo diante da Praça.
No dia 5 de março de 1943, Padre Epifânio consultou a comunidade sobre a construção da Igreja. Foi constituída uma Comissão integrada pelo Vigário, por Francisco Godino, Dr. Alcides Falleiros, Dr. Hermes Bruzadin, Jorge de Lima e Gumercindo Teixeira Guimarães. Mais tarde, esses dois últimos foram substituídos por Dr. Neif Mustafa.
E no dia 24 de junho de 1945, após bastante labuta realizou-se a bênção da pedra fundamental da nova Igreja. Uma senhora amiga nossa, dona Nair Rodrigues de Munhoz Lopes, era criança ainda e foi dar uma espiada no ajuntamento do povo. E viu uma fila imensa de pessoas da comunidade depositando seus braceletes, anéis e cordões de ouro ali junto da pedra. Estavam doando seus tesouros para construir a Igreja, conforme ouviu da senhora Antiniska de Lucchi Mustafa, uma das grandes colaboradoras...
A construção da obra ficou a cargo dos arquitetos Moya e Malfati, formados pela Escola de Belas Artes de São Paulo. De acordo com a informação de Vilma e Ézio Veroneze, o estilo de nossa Matriz foi copiado de outra Igreja que o Padre Epifânio conhecia na Espanha, conforme afirmação do próprio. Isso foi revelado quando o casal esteve na Capela do Asilo São Vicente em Araçatuba. Naquela ocasião, o Padre mostrara um álbum em que havia fotos de todas as fases da construção da nossa Igreja... O estilo colonial foi adotado nos séculos quinze e dezesseis, quando foram construídas muitas Igrejas em Minas Gerais e na Bahia. Essa arquitetura requer muito mais recursos, muito mais mão de obra e profundo conhecimento artístico. Com certeza, Padre Epifânio era um perito e apreciava esse estilo de arquitetura.

Tenho uma lembrança linda a respeito da nossa Igreja. Quando era aluna do Ginásio Estadual, há mais ou menos sessenta anos, um Professor veio de Mococa, para dar aulas de Desenho. Era um homem culto, competente e elegante, chamado Carlos Alberto de Pádua... No segundo dia de aula, ele nos levou à Igreja Matriz para dar uma aula sobre arcos, ogivas, nichos e altares, colunas e capitéis. Capitel é um trabalho com volutas em alto e baixo relevo, feitas no acabamento das colunas. Falou sobre a beleza sem par dos vitrais coloridos de São João pregando e do Batismo de Jesus no Rio Jordão. Disse que o estilo da construção misturara arte barroca colonial com a greco-romana. Não me lembro do que mais falou, só lembro com nitidez que ele ressaltou a beleza da obra, considerando-a uma relíquia da cidade... Foi nesse dia que, aprendi a apreciar a nossa Matriz como uma obra de arte.


Além da bela Matriz, o Padre Epifânio se empenhou na construção da Matriz de Lavínia e dasCapelas: Capela de Nossa Senhora do Carmo em Machado de Mello, decorada com vitrais, Capela de Santo Antônio em Tabajara, Capela de São Domingos no Bairro Pé de Galinha, quase que totalmente às expensas da Família Rizzo, Capela Santo Antônio na Fazenda Santa Josefa, Capela do Bairro da 3ª Aliança em estilo romano, Capela particular da Fazenda Cachoeira dos Irmãos Marques,Capela do Bairro Monte Serrat,Capela de Nossa Senhora Aparecida do Km 42, Capela do Bairro Km 50, Capela do Bairro da1ª Aliança,
Capela do Bairro da 2ª Aliança, Capela do Km 20, Capelas de São Lucas e de Santa Cecília na Fazenda Santa Cecília, Capela de Lussanvira em Pereira Barreto e a bela Capela aberta do Cemitério local. Esta também uma verdadeira obra de arte em estilo romano. Foram anos e anos dedicados a essas construções.

Dessas Capelas todas, atualmente estão ativas as de Amandaba, de Tabajara, das Três Alianças, do Km 50 e da Fazenda Santa Cecília. Na área urbana, outras foram construídas mais tarde. As demais ficaram inativas devido ao êxodo rural, que despovoou os campos.
        No dia sete de março de 1950, foi solenemente inaugurada a Igreja Matriz de Mirandópolis, cuja construção levou quatro anos para ser concluída. Nessa data também foi celebrada a última missa na velha Capela, que seria demolida.
A matriz não estava concluída, mas já era possível fazer as celebrações em seu interior, que era amplo e confortável.
Essa data de 7 de março foi escolhida porque se comemorava o Jubileu de Prata de ordenação do Padre Epifânio.
E após vinte e cinco anos a serviço da religião, longe de sua terra natal foi concedida licença para o Padre Epifânio viajar para a Espanha, para rever seus familiares. Esteve ausente de 13 de abril a 27 de outubro de 1950, período em que as obras ficaram praticamente paralisadas.
A  torre só seria inaugurada em 28 de dezembro de 1952. O Engenheiro arquiteto Dr. Guilherme Malfatti, autor da planta da Igreja, e grande admirador do estilo colonial brasileiro veio especialmente assistir às inaugurações. Ficou admirado de constatar que a obra ficara primorosa, conforme a sua idealização, e não poupou elogios aos operários e ao Padre Epifânio. Este fora o orientador e Diretor de toda a obra.
“Nenhum tijolo empregado na construção foi assentado sem que o Vigário verificasse seu alinhamento e a composição da argamassa, nenhum arco de sustentação foi fechado sem que fosse verificada sua solidez, nenhuma trave ou viga colocada sem que a madeira fosse examinada e escolhida”, palavras de Dr. Alcides Falleiros que acompanhou a construção em “Mirandópolis, sua evolução no século vinte.”
Esta foto à esquerda é do mecanismo do relógio da torre, que tem o mostrador voltado para quatro lados, marcando as horas, o tempo de Mirandópolis...
A imagem de São João Batista, em tamanho gigantesco que encima o portal do altar mor, foi doada pelo senhor Francisco Hidalgo, pai do senhor Nego Hidalgo. Houve uma bela festa para conduzir a imagem até o interior da Igreja, conforme lembra sua neta Floripes Marchi Forte.
O relógio que marca as horas lá na torre da Igreja foi doação da Câmara e da Prefeitura Municipal. O sino maior de 530 quilos foi doado pela família do Dr. Raul da Cunha Bueno, e o menor de 410 quilos pelos Irmãos Santa Rosa, de Pirajuí que eram fazendeiros aqui. No sino maior está gravada a sua função: “Afugento as tempestades, congrego o Clero, reúno fiéis, decoro as festas e pranteio os mortos”

Sobre a fiscalização dura desse Padre Mestre Mor de Obras, há uma história que ouvi do Lió de Amandaba, quando trabalhou na construção da torre. O Lió achava o Padre muito duro e exigente, pois não perdoava nenhuma falha no alinhamento e assentamento dos tijolos. Então, para se vingar de sua dura inspeção, lá do alto da torre jogava pedrinhas na cabeça do padre, para o provocar...
Em 1953, a Paróquia recebeu do Deputado Dr. Antonio Sílvio da Cunha Bueno, uma generosa doação em dinheiro, para a construção do Salão Paroquial.
Dezenas de operários se empenharam na construção da nossa bela Matriz. Infelizmente não há um registro de seus nomes. Há o destaque especial de Ernesto José dos Reis que foi o Mestre de Obras das fundações e levantamento das paredes. O seu Cláudio Menegatti que, era um jovem na época ajudou na construção das sapatas de 1,30 m de largura por 0,30 m de espessura. Essas sapatas foram reforçadas assim para suportar o peso das paredes. Como Mestres de Obras, atuaram ainda os senhores Orestes Momesso e Luiz Di Bernardi. A estrutura de madeira de todo o corpo da Igreja foi trabalho do Carpinteiro Osvaldo Garilli, contratado em Araçatuba. A construção da difícil estrutura de madeira da torre foi obra do Senhor Antônio Vieira de Barros. As calhas foram responsabilidade do Senhor Ataídes Tavares. E todo o acabamento final da fachada e do interior foi obra dos senhores Olindo e Narciso Marchi, Cipriano Rodrigues, Durvalino Rapina e José Alves Lima, que eram os pedreiros construtores da época. Olindo Marchi é quem moldou os anjos, que enfeitam a fachada frontal do prédio, acima da porta principal.
A partir de 1953, a Diocese começou a manifestar-se politicamente, visando o combate ao Comunismo e orientando os fiéis a votarem somente nos candidatos da Liga Eleitoral Católica. Nessa época, o Padre Epifânio incentivou o ensino de Religião nas Escolas, nomeando professores para tal fim e visitando Escolas, na hora do Ensino Religioso.

Nessa época, os Irmãos Gottardi fizeram doação do Batistério e dos ricos vitrais com cenários bíblicos. Foi colocada a balaustrada de 79 colunas de imbuia no Coro, na parte superior da entrada da Igreja. O pedreiro José Alves Lima doou uma réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida, que foi colocada num altar de mármore, confeccionado por ele mesmo. Castiçais de prata   foram doados por Francisco Pardo e sua esposa Maria Emília.
Em 05 de julho de 1953, uma geada muito forte acabou com os cafezais de Mirandópolis e região. Os lavradores tiveram imenso prejuízo. E a Igreja teve que desistir dessa campanha.
Por essa época, a Igreja estava se transformando. Passou a celebrar os batizados em Português, para melhor compreensão dos fiéis. Mais tarde, o Latim seria substituído pela Língua Portuguesa na celebração das Missas...
Diligenciando junto às autoridades municipais, estaduais e da Federação das Indústrias do Estado, Padre Epifânio sempre preocupado com as condições econômicas de seus fiéis, conseguiu a instalação de uma Escola de Corte e Costura, administrada e mantida pelo SESI (Serviço Social da Indústria). Cedeu o Salão Paroquial para possibilitar esse ensino profissionalizante a mais de cem alunas, sob a orientação da Professora Jamile Dib Assad. Muitas costureiras saíram dessa Escola, para ajudar na renda de suas famílias.
Também conseguiu trazer um grupo de Irmãs Salvatorianas em 1959, que sob a direção de Madre Teodora Lopes abriram o Externato São José, que só funcionou por três anos, por falta de estrutura.
Também em abril de 1959, vieram as Missões, com o propósito de fortalecer a fé e conquistar mais fiéis para a Igreja. Eram cinco Padres Redentoristas, que animaram a comunidade com suas pregações, missas, regularização de batizados e casamentos. Durante vários dias percorreram também as Capelas dos Distritos e Fazendas pregando a palavra de Deus. Fortaleceram bastante o trabalho do Padre Epifânio.
Em 1960, com a crise do café, teve início o grande êxodo rural, que inchou as cidades. Havia muitos trabalhadores desocupados e isso era uma grande preocupação da sociedade. A Igreja Católica promoveu encontros de trabalhadores rurais, com o objetivo de pleitear a Reforma Agrária e resolver os problemas do campo. Padre Epifânio empenhou-se então, na orientação aos trabalhadores rurais, para formar um Sindicato, que defendesse os interesses da classe. E em novembro de 1963, foi fundado o Sindicato Rural de Mirandópolis, sob a orientação do Padre Epifânio e apoiado pelo DD. Promotor Público local.
Na década de 60, houve muitos melhoramentos na Matriz. Os Irmãos Torrezan fizeram a doação dos doze belíssimos quadros da Via Sacra, que decoram as paredes laterais da Igreja. E a Municipalidade sob o comando do Prefeito Geraldo Braga embelezou a praça que circunda a Matriz, com calçamento e ajardinamento. E o senhor Aparecido Cabrini e esposa fizeram a doação de ¾ de alqueire de terreno para a Cúria Diocesana.


E em 1963, os padres de todo o mundo foram liberados do uso da batina. Nesse mesmo ano, o nosso Pároco foi agraciado com o Título de Monsenhor Camareiro Secreto do Papa, concedido por Sua Santidade o Papa João vinte e três.  E durante os festejos da cidade em 24 de junho de 1963, D. Henrique Gelain, Bispo da Diocese de Lins veio especialmente condecorar em sessão solene o novo Monsenhor. Reconhecimento pelos serviços prestados à Igreja e à comunidade. Mesmo tendo esse honroso título, o povo local nunca se acostumou a chamá-lo de Monsenhor. Até hoje, todos nós o chamamos de Padre Epifânio, porque parece mais íntimo, mais familiar. Monsenhor... Padre Epifânio.

Por ocasião da Revolução de 1964, que terminaria com a tomada do poder do Brasil pelas Forças Armadas, há um registro sobre a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” - O povo saiu às ruas para se manifestar contra o Comunismo, que queriam instalar no país. E em 31 de março de 1964, foi celebrada uma Missa Campal em Ação de Graças pelo Triunfo das Forças Armadas.
Na ata do livro Tombo da Paróquia, por ocasião de sua despedida, que se transferia para Vacaria, no Rio Grande do Sul, o DD. Bispo de Lins registrou:
“Mirandópolis possui uma Matriz que faz inveja a muitos, tem Casa paroquial confortável, Salões Paroquiais (2) e outros melhoramentos, além de quinze Capelas disseminadas pelos campos. 03 de maio de 1964 D. Henrique Gelain”.
Nessa época, o Padre Epifânio teve a grata satisfação de receber o Padre Francisco Xavier Nobuo Sano, que nascera na Segunda Aliança e escolhera o caminho do Sacerdócio. Foi o primeiro religioso saído destas terras e deixou o velho Pároco muito orgulhoso.

E há muitas passagens interessantes da relação do Monsenhor com a comunidade. Dona Idalina Maria Menegatti lembra que, esteve muito doente quando era uma meninota. Vítima de varicela, que atacou a família toda, ela foi mais atingida, ficando entre a vida e a morte. Seu pai desesperado prometeu a São Sebastião, que se a curasse, mandaria rezar uma missa em sua casa. E ela foi curada.  E num determinado dia de semana, o Padre Epifânio foi até lá num pé de bode, e celebrou uma bela missa na paupérrima sala da tapera, onde morava. A casa se encheu de gente, e todos ficaram admirados de assistir a tal evento. Foi na Fazenda do Dr. Castelo Branco que distava uns vinte quilômetros de Lavínia.
De acordo com o depoimento da senhora Derley Delai, era costume as senhoras das associações lavar a Igreja e a casa paroquial aos sábados, porque naquele tempo nem havia faxineira para tal. E toda vez que terminavam o serviço, o Padre as gratificava com “torrones de la España” que recebia de seus parentes da Europa. E como o vinho utilizado na missa vinha em tonéis, essas senhoras para facilitar o manuseio, o dividiam em garrafas desinfetadas e as tampavam com rolhas, que eram lacradas com vela derretida.
       
Dona Derley se lembra ainda que ajudou a confeccionar a hóstia. Usava-se água do poço e uma farinha especial em dosagens determinadas, e a massa era prensada num aparelho semelhante a um ferro elétrico de passar, E as hóstias seriam consagradas depois durante a missa, para serem distribuídas na hora da comunhão.  Também se lembra do padre andando de charrete para oferecer a extrema-unção aos doentes terminais. Ele visitava frequentemente os doentes. Era um homem bastante caridoso e humano.
O fato mais comentado sobre sua dureza se refere às vestimentas das mulheres durante as celebrações. Ele não admitia roupas sem mangas e colos à mostra. Certa feita, num casamento com a Igreja cheia, ele olhou para as madrinhas perfiladas ao lado do altar e anunciou: “A cerimônia de casamento não se realizará, enquanto as pessoas não estiverem cobertas adequadamente!”  Um dos padrinhos correu para os assistentes e, pediu emprestada uma echarpe de outra senhora, para cobrir a madrinha. Só que a outra dona estava mais decotada que a primeira...
Quando crianças corriam ou choravam durante as pregações, ele ficava muito irritado, e convidava os pais a retirarem-nas. Porque atrapalhavam a concentração.
Numa sexta-feira santa, dona Fermina Moreno Rodrigues vestiu sua filha Jane Meire com um lindo vestido vermelho e foram às celebrações da Semana Santa. Quando o padre as viu, chegou perto e perguntou:” A senhora acha que essa menina está vestida de acordo com a celebração?” Era a celebração da morte de Jesus. Dona Fermina foi para casa, trocou a roupa da menina e voltou.
O pai da amiga Isabel, o senhor Cristóvão Leal afastou-se da Igreja depois de um tempo. E pretendia ir à Espanha, mas sempre havia um obstáculo que o impedia. Então, uma das filhas lhe disse que ele teria que ir visitar o padre e pedir a sua bênção, para poder viajar. Um dia, ele e sua filha foram lá no Asilo e visitaram o velho Padre... E a viagem aconteceu. O João Francisco Rodrigues esteve internado na Casa de Saúde, na mesma época que o padre. Ele se lembra que o Padre Epifânio sentia muito frio e, sempre tinha gorro na cabeça...
Tenho duas lembranças da minha adolescência. Teria uns  dezesseis anos, e gostava de ir à tarde pedir ajuda a Deus para meus problemas juvenis. Toda vez que entrava na igreja, avistava a figura do Padre Epifânio em sua veste preta desbotada, andando no corredor lateral lendo o seu Breviário. Lembro que à tarde, a luz do sol incidia nos vitrais azuis/amarelos e brancos e jogava uma luz clara no interior. Era muito bonito e a Igreja ficava iluminada por uma luz clara maravilhosa... Outra lembrança é a de ter visto livros na pequena biblioteca do Padre. Na época eu lia qualquer coisa, sem escolher... E disse ao Padre que gostaria de ler Freud. Ele olhou feio para mim e disse muito bravo: “Isso não é leitura para uma menina como você!” Só muitos anos depois, acabei entendendo a razão dessa proibição – Freud em sua Psicanálise abordava sobre assuntos sexuais, incestos...
Depois de exaustivos trabalhos à frente de nossa Paróquia, o Padre conseguiu uma nova licença para visitar sua família na Espanha. Partiu em 15 de junho e voltou em 06 de outubro de 1965.
       
     “Lutando com a falta acentuada de padres na Diocese, o novo bispo D. Pedro PauloKoop, que substituiu D. Henrique Gelain, procurou trazê-los da Europa, para trabalharem nas diversas paróquias existentes como em outras cuja criação se tornava necessária. Da Irlanda vieram os padres Missionários do Espírito Santo, aos quais foram destinadas várias paróquias. E em 1º de janeiro de1967, para atender à solicitação desse padres, o sr. Bispo resolveu destituir Monsenhor Epifânio do cargo de Vigário de Mirandópolis, para lhes entregar a paróquia. Depois de ingentes e contínuos serviços prestados à paróquia e ao povo de Mirandópolis, o velho pároco viu-se simplesmente dispensado, sem aviso prévio. Nem ao menos foi lhe designada nova paróquia, humilde capela que fosse, onde pudesse continuar pregando a palavra do Senhor, exercendo na plenitude seu sacerdócio.”  (Excerto do livro Mirandópolis, sua evolução no século vinte, de Alcides Falleiros).
        
     Eu me lembro que nesse dia houve uma pequena passeata contra essa decisão da Diocese. As pessoas rezavam e choravam, magoadas com tão injusta medida.
No livro Tombo, há o registro da vinda do bispo para empossar os Padres irlandeses Lourenço Ailbe Obrien e Patrício Donovan.
Anotação do próprio Padre Epifânio sobre a sua destituição. No Livro Tombo nº 2 -



 “1-1-1967    Nesta data foi entregue a Paróquia, obedecendo mandato do Sr. Bispo aos Padres da Congregação do Espírito Santo, nas pessoas dos Padres Lourenço Ailbe Olivier e Patrício Donovan da mesma Congregação.
Neste mesmo dia, após a solenidade de entrega da Paróquia de que fui vigário durante vinte e cinco anos, me retirei provisoriamente a Lavínia, onde passarei alguns dias em companhia do amigo Padre Cesar Toppino.”
E no livro Tombo há uma anotação do próprio padre sobre um  jantar, que a Prefeitura ofereceu ao Bispo e aos novos padres... E o Bispo agradeceu ao Prefeito e ao Deputado.
Cunho político? Sim, com certeza. O Padre Epifânio era durão, tinha suas convicções e não arredava pé, mas tomar-lhe as chaves do Sacrário e entregá-las a sacerdotes estranhos foi muito cruel. O rigor de suas atitudes se devia à formação religiosa muito rígida que recebera, e ele não sabia proceder de outra forma. E no Livro Tombo não há nada que explique a sua situação depois dessa destituição. De repente, depois de construir essa nossa bela Matriz, mais de uma dezena de Capelas, o velho sacerdote se viu sem casa, sem paróquia, sem família... Padres de terras estranhas se apossaram de sua Paróquia, de sua Igreja, de sua casa. Tinha sido descartado... Sem nenhuma consideração.
Então, ele partiu para Espanha para terminar seus dias com a família... Mas, já acostumado com o clima tropical daqui, não aguentou o rigoroso inverno da Europa e voltou... Para a Diocese deve ter sido um problema, pois o mandaram para um pequeno Patrimônio de Araçatuba – Paróquia de Santo Antônio de Aracanguá, ou Patrimônio da Mata, como era conhecido. Aracanguá é um termo caingangue e significa “papagaio da cabeça vermelha”. A Paróquia de Santo Antônio de Aracanguá pertence à Diocese de Jales.
Naquela época, Aracanguá era um vilarejo rural, onde se cultivava algodão, milho, feijão e amendoim.
E aí muita história foi divulgada, sobre dificuldades que o velho padre estaria passando por lá. Realmente, o local era um lugarejo com ruas de terra, sem urbanização com uma pequena Igreja, que é a mesma até hoje. E deve ter sido um choque para o Padre encarar esse novo lugar. Sem contar com a injustiça de seu desterro, após anos e anos a serviço de Deus...
Mas, estivemos lá para conferir essa história. O Padre Joilson Domingos André, Pároco atual nos recebeu com carinho. E como não conhecera o nosso Padre, promoveu um encontro com duas pessoas que conviveram com ele - os senhores Ademir de Souza e José Waltrick Matos nos relataram sobre a alegria de ter pela primeira vez, um padre residente no lugar. Disseram que ele foi bem recebido e sempre muito respeitado pelo povo. Lá como aqui ele arregaçou as mangas e, trabalhou bastante indo às distantes capelas rurais, para celebrar missas. Capelas do Bairro Major Prado, do Distrito de Vicentinópolis e da Fazenda Guarita. Como na época, o Patrimônio era pequeno e os fiéis eram da zona rural, ele só celebrava missa aos domingos. Mas, ele nunca descansava. Criou uma Escola de Corte e Costura e instalou o Curso Mobral no Salão Paroquial.  Sempre preocupado com as condições dos paroquianos. E realizou muitas quermesses. Com a renda colocou forro de madeira na Igreja, que durou mais de trinta anos.

Eles falaram também do caráter exigente do Padre, sobre seu descontentamento pelas vestimentas das mulheres nas celebrações e, sobre crianças que atrapalhavam a concentração religiosa, correndo e chorando... Mesmo assim, a comunidade o aceitou e seguiu suas orientações. Ficou apenas três anos lá, mas sua passagem foi tão marcante que, no Distrito de Vicentinópolis há uma Rua Monsenhor Epifânio Ibanêz...


E um fato que nos comoveu bastante foi o relato de que, aos domingos sempre havia uma família de Mirandópolis que comparecia, fazia o almoço e passava o dia todo em sua companhia... Isso lavou a nossa alma. Dona Antiniska e dr. Neif?  Dona Maria e seu Aldo Freddi?  Dr. Alcides Falleiros e dona Dolvina?  Dona Maria Bruzadin?  Dona Maria dos Anjos? Quem sabe?
A lembrança que esses dois aracanguaenses têm dele é de um sacerdote vestido de batina preta, com um chapéu preto e uma maleta que sempre carregava, para usar no atendimento aos paroquianos. Disseram que, embora tivesse sido bastante rigoroso e duro, foi muito respeitado e estimado, a ponto de buscarem-no lá no Asilo São Vicente de Paulo em Araçatuba, para celebrar casamentos. Disseram que ele era acima de tudo, um homem extremamente correto!
E Aracanguá hoje é um município independente de Araçatuba. É uma cidade de interior, pequena, mas bem urbanizada, Hoje o Padre ficaria espantado de ver as mudanças ocorridas, desde o tempo que lá morou. E as pessoas são muito atenciosas, foi o que pudemos constatar.
Em 1974, Padre Epifânio foi nomeado Capelão do Asilo São Vicente de Paulo, em Araçatuba.

Esse Asilo teve início em 1936, com a aquisição de um casebre no Bairro São Vicente. Os voluntários e os Irmãos Vicentinos começaram a recolher e cuidar de idosos carentes, e assim surgiu o Asilo. Há 66 anos vem prestando serviços humanitários à comunidade araçatubense. A primeira missa foi celebrada debaixo de uma árvore... Oficialmente o Asilo foi inaugurado em24 de dezembro de 1950. Para esse Asilo foi enviado o nosso velho e digno Padre. Era uma Instituição desprovida de recursos e tinha uma capela acanhada.
Fomos recebidas no Asilo, pela senhora Eliana Caetano dos Santos, que é uma voluntária vicentina, que está sempre ajudando no Asilo. Constatamos que agora o Asilo está bem equipado, tem um linda Capela e atende a meia centena de idosos, que dependem exclusivamente dos cuidados oferecidos pela entidade. Esta por sua vez é mantida por doações e campanhas, que são realizadas durante o ano todo pelos vicentinos.
Tem uma Capela muito ampla e bonita, cujas missas aos domingos são frequentadas também pelos moradores do Bairro, além dos internos. Todas as instalações são amplas, arejadas e bem cuidadas, com jardineiras de flores naturais nas janelas... Muitos voluntários se revezam no cuidado e conservação do Asilo.

Como a senhora Eliana não conhecera o Padre, nos apresentou a senhora Corina Maria de Jesus, que serviu ao Padre Epifânio nos últimos anos de sua vida. O Padre morava numa casa em frente ao Asilo, e a dona Corina cuidava da limpeza e da organização da casa. Mas, ele era muito sistemático e não lhe permitia cozinhar. Muitas vezes nem lhe permitia entrar na casa.  Mas, celebrava missa todos os dias no Asilo, e cumpriu essa missão até o fim. Era muito ranzinza com quem fosse perturbá-lo, principalmente com a dona Corina. Mas esta lhe oferecia doces que ele gostava muito.
Hoje, dona Corina com 73 anos também é uma interna do Asilo, e gosta de relembrar os anos que passaram.
Já no fim da vida o padre estava alquebrado com uma hérnia que o atormentava, e foi trazido por uns tempos para a Casa de Saúde de Mirandópolis, para tratamento. Dr. Neif é que se encarregava de interná-lo, sempre que precisava. Enquanto esteve internado aqui, muitos amigos foram visitá-lo para demonstrar gratidão e carinho.
As Irmãs Vicentinas que atuavam no Asilo cuidaram dele nessa época. Ele sentia muita tontura e caía, e a dona Corina tinha que dissolver os comprimidos e misturar com o leite para ele tomar... Não gostava de tomar remédios... No final foi desobrigado pelo Bispo de celebrar missa, devido à precariedade de sua saúde.

Ele nunca aceitava companhia, mesmo estando tão fraco e doente. Por fim, levaram-no à Santa Casa de Araçatuba, onde acabou falecendo no dia 16 de agosto de 1983. Tinha 84 anos. Foi velado na Capela do Asilo, de onde seu corpo foi trasladado para Mirandópolis. Aqui foi velado na Igreja Matriz São João Batista que ele construíra, e foi sepultado no Cemitério Local. A população de Mirandópolis em peso compareceu ao seu velório. Há uma lenda sobre o último desejo dele: Dizem que ele teria escolhido a parede esquerda do altar mor para seu jazigo. Teria dito a um dos operários que gostaria de ser sepultado lá na Igreja, que ele construíra, como ocorria em muitas Igrejas antigamente. Ninguém soube me informar a razão de não terem cumprido esse desejo final. Com certeza, deve ser algum protocolo que desconhecemos. De justiça, ele merecia repousar lá para sempre. Para ser o Guardião eterno.
Sobre a sua morte há uma nota fria no Tombo 2 da nossa Paróquia: 

“Morreu o Monsenhor Epifânio Ibanêz. Ele trabalhou durante 25 anos até janeiro de 1967, data em que os Padres da Congregação do Espírito Santo assumiram a Paróquia. Depois de sair de Mirandópolis ele passou a morar em Araçatuba perto do Asilo de São Vicente, ficando aí até a sua morte. Muita gente participou do seu velório e do enterro.”

E é só. Nada mais consta no livro.
Fiquei desolada ao constatar que, a Paróquia foi omissa e ingrata com o Pároco mais famoso. Que tanto pelejou para erguer esse monumento histórico, que é o orgulho da cidade. Passados trinta e três anos, ainda dói em nossa alma essa omissão, essa indiferença, esse desterro, essa falta de caridade de uma Igreja que, vem pregando amor e caridade desde o princípio dos tempos...
        Após os funerais, veio uma comovente carta da Espanha endereçada ao Presidente da Câmara Municipal, que à época era o senhor Riyuiti Ijichi. Do Professor Universitário Jose Antonio Abad Ibañez,que lecionava Liturgia na Faculdade de Teologia de Burgos, Espanha.

         Excelentíssimo señor:  Soy un sobrinho – el mayor y sacerdote – de Mons. Epifânio Ibañez, cuyo fallecimiento há tenido lugar em fechas próximas passadas.
         Las hermanas del Asilo de San Vicente de Araçatuba han tenido la delicadeza de informarme inmediatamnete de la muerte de monseñor y de escribirme una detallada carta, em la que me informan de las muestras de cariño   que autoridades y pueblo de Mirandópolis han demonstrado hacia él tan pronto conocieron su fallecimiento.
         No es difícil que su Excelencia so haga cargo de la satisfacción que nos ha causado a todos el hecho que Mirandópolis haya querido da cristiana sepultura a los restos mortales de mi tio. Es un gesto que honra a su Excelencia, a la Ciudad de Mirandópolis y al Brasil, pues manifiesta un afecto profundo, sincero, desinteresado y fiel a quien hiro de Mirandópolis su segunda família física y su primero preocupación humana y sacerdotal. Qué bien han sabido corresponder al cariño que mi tío profesaba a Mirandópolis y a la Excelentíssima Corporación que V.E. preside tan dignamente!
         Me imagino que con este motivo la prensa local se habrá hecho eco de mi tío. Si así fuera y estubiera em sus manus, le agradeceria muchíssimo que me remitiera 2 ejemplares del periódico, pues 2 son las Hermanas de mi difunto tío: mi madre y outra, y me parece que a las dos haria la misma ilusión. Seria pedir demasiado que me enviara alguna fotografia, caso   de que se hayan hecho con motivo del enterro? Gracias por antecipado.
         No sé si la vida me deparará la posibilidad de conocer esa bendita tierra del Brasil. Quizás por mi condición de profesor universitário tenga que desplazarme ahi para dar alguna conferencia o assistir a algún congreso internacional. Puede estar seguro que aunque Brasil es muy extense, haré todo que este em mis manos para conocer la ciudad donde reposan los restos mortales de mi tío y perdura el afecto gracia él.
Aprovecho la oportunidad para agradecerlo todo em nombre de toda la família y para ofrecerle a Su Excelencia el testimonio de nuestru gratitud. Si algún dia visitar Espanã, nos honraria com su presencia.
Mientras me despido de S.E., haga extensivos mis votos a toda la Corporación y a la Ciudad de Mirandópolis.
Com el más sentido agradecimiento.
Jose Antonio Abad Ibañez”

Honestamente, estou feliz por ter pesquisado a sua trajetória. As revelações sobre famílias mirandopolenses, que cuidaram dele com carinho e atenção no desterro, de alguma forma resgatou a dureza da injustiça. Conseguiram provar que, mesmo que autoridades tenham sido ingratas, a gente simples do povo entendeu a grandiosidade de sua missão, e soube cuidar dele com o carinho e respeito que realmente merecia. E mais feliz ainda por ter constatado que, mesmo tendo sido tão duramente punido, Padre Epifânio não sucumbiu ao desterro. Continuou cumprindo sua missão de levar a palavra de Deus, por onde passou. E conquistou muitos corações com a sua honestidade e religiosidade. Foi autêntico até o fim.


No período que foi Capelão do Asilo, as famílias mirandopolenses também não deixaram de visitá-lo, levando o conforto da amizade e do respeito. Com certeza, devem ter sido os mesmos casais que o visitaram em Aracanguá.
Como ele residiu diante do Asilo, fomos conhecer a antiga casa, que hoje está totalmente remodelada. Fotografei lá um pé de figo daquele tempo, e soube de algo que me comoveu extremamente. A nova residente mostrou-me um quarto, que lhe serviu de Capela, onde rezava missas...  Religioso até os ossos...
Nesses dois meses de pesquisas, deparei com tanta gente ávida para contar algo, referente ao velho padre. Muitas histórias se perderam, porque ninguém as registrou. Mas, percebi claramente que, o próprio Padre Epifânio foi abrindo as portas para eu ter acesso às informações. A gentileza do pessoal de Aracanguá, do Asilo São Vicente de Paulo e a presteza dos moradores daqui me comoveram bastante.
Numa manhã resolvi fotografar o interior da nossa Igreja, e lá me deparei com um filho da amiga cirandeiraOnofraMaria Gonçalves Nunes, que falecera recentemente. Odmir Nunes é eletricista e estava na Igreja prestando algum serviço. E quando lhe contei sobre a minha pesquisa, ficou muito interessado. Sugeriu que fotografasse o mecanismo do relógio, os sinos e o sistema de amarração da laje imensa, que forma o teto do vão livre do interior da Igreja. E como é uma peripécia muito arriscada subir os cento e poucos degraus da torre, se ofereceu ele mesmo a galgá-los e fotografar o relógio, os sinos ... E o sistema de sustentação da laje... Assim, obtive tanta informação e consegui fotos, que foram enriquecendo essa pesquisa, graças à intervenção divina. Isso debito na conta da Providência Divina, que através de anjos humanos me permitiram contar essa história tão bonita. Valeu, Odmir!
Reparem nas fotos, como a pesadíssima laje da igreja foi amarrada para não desabar. Na primeira foto, dá para se notar os sacos de estopa que foram embebidos em gesso, para amarrar a laje em traves de madeira. Estas, por sua vez foram presas dos lados e no alto junto à cobertura. Ninguém imaginaria que, seria necessário um serviço tão engenhoso de carpintaria, para garantir o vão livre do interior da Igreja.
De tudo isso que vivenciei, cheguei à conclusão que é preciso alguém fazer um documentário sobre a nossa Igreja. Há tanto que mostrar, que levar ao conhecimento de quem passa por ela e, nunca reparou na beleza arquitetônica de suas linhas.  Muita gente vai a Minas, a Parati e a Bahia para conhecer as belezas das Igrejas seculares... E desconhece a beleza da nossa. Presente do Padre Epifânio. A comunidade mirandopolense agradece.
E me permitam encerrar este relato repetindo as palavras, que ouvimos tantas vezes do nosso querido Padre:
Requiescat in Pacem aeternam, Padre Epifânio!
Per saecula saeculorum, amém!




Mirandópolis, agosto de 2016.

Créditos:
-Livros Tombo 1 e 2 da Paróquia São João Batista
-O bilhete nº 231 de nov/dezembro de 2015 – publicação da         Sociedade São Vicente de Paulo - Araçatuba
- Mirandópolis – sua evolução no século vinte -  Alcides Falleiros
- O Labor nº 1071 de 21 /08/1983
- O Labor nº 1077 de 02/08/ 1983

Agradecimentos a:
Padre Washington Lair da Diocese de Lins                               
Padre Joilson Domingos André – Pároco de Aracanguá,                Marina eAdemir de Souza e José Waltrick Matos  de Aracanguá,      
Eliana Caetano dos Santos e Corina Maria de Jesus do Asilo São Vicente de Paulo - Araçatuba
De Mirandópolis:                                                                                    
Padre Alexandre Santos, Pároco atual,                                            Cláudio e Idalina Maria Menegatti,                               
Isabel Leal e José Maria de Carvalho,                                                     
   Derley Delai, José Antonio de Lima,Odmir Nunes, Fermina Moreno Rodrigues, Nair Rodrigues de Munhoz Lopes, Luis Momesso, Jane Meire Chossani, Marina Sanches, João Francisco Rdrigues,Murilo Pinhata, Vilma e Ézio Veroneze, Carla Pin e Maria Helena Batista.