quinta-feira, 29 de outubro de 2015

                                A mão de Deus

Há exatamente um ano que ocorreu uma tragédia que abalou a cidade. O amigo Sadao, sua esposa Kazuko e o filho Ricardo partiram pra sempre.
Estávamos tão acostumados com o Sadao na Relojoaria Kawasaki, servindo aos clientes com a seriedade e honestidade de sempre, que jamais imaginaríamos uma partida tão repentina levando toda a família. E a Kazuko, a mulher que fez de sua vida a missão para cuidar do filho Ricardo, que não enxergava. Lembro que ele conseguiu enxergar até os dois anos de idade mais ou menos, mas o nervo ótico apresentava uma deficiência, que não teve cura. E não permitia nem transplante de córnea. Quando ele estava perdendo a visão chorava muito, e eu tive oportunidade de ouvi-lo algumas vezes, lá da loja. O coração chegava a doer...
Cercado pelo amor dos pais e pelo carinho inabalável da avó dona Kimiko, Ricardo conseguiu viver quase quarenta anos. E marcou pela paixão à música. Aprendeu a tocar piano, e conseguia tocar os clássicos... Para isso, a mãe o ajudara vertendo as partituras escritas tradicionalmente para o Braille. Ela estudou o Braille para ajudar o filho não só nas partituras musicais, mas também nos trabalhos escolares. Dona Kazuko viveu a vida para o filho exclusivamente, deixando praticamente de viver a própria... Missão.
O temor desses pais e da avó era deixar o Ricardo neste mundo, sem alguém que pudesse ser seu arrimo. E a avó resistiu, vivendo até mais de noventa anos, preocupada com o futuro do neto. Quando o menino era mais novo, essa avó o conduzia pelas calçadas para fazer a caminhada diária. E todas as pessoas viam o cuidado com que o conduzia.
Nós, pais de filhos sem deficiência física, emocional ou mental não conseguimos imaginar como deve ser dificílimo cuidar de uma criança, que não enxerga... Só podemos supor. Mas, conviver todos os dias, todas as horas... E o medo do filho não se tornar autossuficiente, isso estava presente no coração da dona Kazuko dia e noite, sem parar.
Apesar da deficiência, Ricardo conseguiu viver uma vida tranquila, participando das missas na Igreja católica, onde tocava piano volta e meia. Quando partiu, estava ensaiando para tocar na Missa do Galo... E no Clube Nipo ele ouvia as sessões de Nodojiman e Karaokê, onde se encantava com os enkas ou baladas japonesas.  Conseguia memorizar facilmente as músicas que ouvia tocar. E cada enka que tocava ele relacionava com os amigos do Nipo, que as cantavam. Seu avô senhor Toshio Kawasaki foi um dos fundadores da Banda Aiko Kai, que tocava nos concursos de canto japonês no Nipo. Assim, os filhos Sadao, Tomie e Satiko juntamente com outros jovens locais, aprenderam música e tocaram na Banda nos Obon Odori, por um bom tempo.
Mesmo carregando uma grande preocupação com o futuro do filho sem acuidade visual, Sadao e Kazuko cumpriram seu destino na Terra como cidadãos comuns, trabalhando com afinco, cumprindo seus deveres religiosos, indo à missa semanalmente e participando das atividades sociais, sem nenhum problema. Deram conta de sua vida, sem se tornarem um peso para a comunidade. E conseguiram o respeito e a admiração de todos.
Acredito que assim como a batian Kimiko, os pais Kazuko e Sadao passaram boa parte de suas vidas orando a Deus e, pedindo proteção para o jovem Ricardo, que não poderia viver sozinho nesse mundo. Tanto a batian como a senhora Kazuko confessaram para mim que, a grande preocupação era o futuro do Ricardo, quando elas já tivessem partido. Porque ele dependia muito delas.
Mas, Deus que tudo vê, que tudo provê, mostrou para toda a população de Mirandópolis que, Ricardo não ficaria sozinho, quando seus pais tivessem partido. E assim, numa noite de outubro do ano passado, Deus os levou de uma vez. Foi, é verdade, uma coisa assustadora que deixou a cidade estarrecida. O choque para a família foi muito grande.  Todos se preocuparam com a batian Kimiko, que estava fraca de saúde e com noventa e um anos... Mas, passado o choque inicial, ela mesma aceitou bravamente a partida dos três e agradeceu a Deus, porque como me disse nenhum deles poderia sobreviver sem os outros. Porque o Ricardo era a razão da vida dos pais e estes eram o seu verdadeiro arrimo.
E assim, passados apenas uns cinco meses, a avó Kimiko Kawasaki também conseguiu partir em paz, certa de que o neto e a família estão sob a guarda de Deus. Partiu suavemente, com a certeza de ter cumprido sua missão na Terra.
Tudo isso provou que a mão de Deus é poderosa. Ninguém em sã consciência pensaria que, aconteceria o que realmente aconteceu. Ninguém desejaria a partida dos três de uma vez e tão subitamente.
Deus tudo vê, Deus sabe das dores de seus filhos, das ansiedades de uma mãe, de um pai, de uma avó. Só Deus pode ler o que se passa na mente de cada um de nós...
Deus tem solução para tudo. Basta ter fé.
Por isso, vamos confiar na Providência Divina e aguardar que se cumpra o nosso destino.
Na mão de Deus.
Mirandópolis, outubro de 2015.
kimie oku in

terça-feira, 20 de outubro de 2015

                      Cinco anos cirandando...

 No dia 15 de outubro de 2010, começamos uma brincadeira chamada Ciranda. Para isso reunimos os amigos Ana Maria Abranches Jacomelli, Egídio Vicente de Souza, Mary Magro, Ikuko Kazi, Milton Lima, Poliana Ventura, Mário Dias Varela e eu Kimie Oku. Depois tivemos a adesão de Floripes Marchi Forte.
     Ensaiamos a primeira brincadeira lá na Cozinha Caipira, com meia dúzia de convidados idosos. O objetivo era proporcionar uma tarde de lazer a idosos solitários, que gostariam de estar junto de amigos.
 E nessa tarde, brincamos de ciranda, rodopiando, cantando e rindo, e todos ficaram felizes pela tarde diferente. E no mês seguinte fizemos outra cirandada, com mais convidados... E então, apareceram os sanfoneiros e os violeiros para animar a festa.

Inicialmente era o sanfoneiro Albertino Prando, que ofereceu a sua linda Chácara Prando para sediar os encontros. Depois foram chegando o seu Gerval e o Jovaninho, o seu Zeferino Coqueiro, o Toninho, e recentemente o Agnaldo no pandeiro.
Graças à música desses amigos, as tardes de Ciranda ficaram animadas, mais ainda com a cantoria de todos os cirandeiros. E a Ciranda se firmou de vez.
Para evitar problemas, estabelecemos três requisitos importantes: não falar de política, não discutir religião e não cobrar nada. Tudo funciona à base de doação. Doação de refrigerantes, de salgadinhos, de doces, doação de tempo para levar e trazer de volta os idosos, doação de atenção para com os convidados.

E assim chegamos aos cinco anos de cirandadas sem nenhum incidente. É verdade que perdemos os cirandeiros Egídio Vicente de Souza, Luizinha Cury, Jorge Cury, Aristides Florindo, Walther Víctor Sperandio, Lourdinha Codonho, Maria Menegatti, Toninho do pandeiro e dona Onofra... Depois de curtir uns encontros com a turma, esses amigos foram cirandar no céu.
Aproveito esse espaço para comunicar que, não convidamos tanta gente que gostaria de participar, porque priorizamos os mais necessitados. E os mais necessitados são os idosos solitários, que não têm vida social e precisam de muita atenção. Além do mais, não há espaço para um grupo muito grande. Mesmo porque, volta e meia temos os internos da AMAI participando de nossas tardes. Que vibram de felicidade quando comparecem. E mais que ninguém eles precisam de lazer.
O grupo inicial de apoio foi se desfazendo aos poucos, porque a Ana Jacomelli e o Milton Lima foram embora de mudança; a Poliana por força de estudos também foi embora, e o senhor Varela se afastou por problemas de saúde. Felizmente, conseguimos a adesão de Gabriel Tarcizzo Carbello, de José Maria de Carvalho, de José Antonio Lima, Etelvina Ramires, Jandira Morales e, mais recentemente  Maria José Braga Candil, Jacira, Euclídia, Dimar Martin Meneggazzi e Leonor Rezeke.


E assim viemos até aqui. Cirandando, cantando, brincando e rindo muito. Vivendo com alegria.
E no dia 16 último comemoramos com um almoço na Cozinha Caipira. Após a cantoria, fizemos uma avaliação da Ciranda. Pelos depoimentos ouvidos em painel aberto, constatamos que a Ciranda só trouxe benefícios. Os participantes disseram que agora são mais felizes, que anseiam todo mês pelo encontro, que a amizade com algumas pessoas se consolidou de vez, que o encontro é a única diversão para alguns, que remoçaram e recuperaram a alegria de viver. Saldo positivo.
Aproveitamos o momento para agradecer ao senhor Varela, pelo apoio que nos deu para formar o grupo de fato e pô-lo em prática. Não fosse a firme vontade dele, a Ciranda não teria saído do papel. E o Jorge Chain falou da força de uma ideia que foi concretizada e trouxe alegria para muita gente. E todos desejaram que a Ciranda continue por muitos anos.
Como acontece sempre, o seu Orlandinho declamou um poema de sua autoria e a Nair fez uma apresentação cômica do poema “O guarda chuva”. Ambos foram bem aplaudidos.
No final foi servido um sorvete, que agradou muito pelo calor que estava fazendo.
E todos voltaram para suas casas com o coração repleto de felicidade.



Mirandópolis, outubro de 2015.
kimie oku in


sábado, 10 de outubro de 2015

       Metamorfose
  

   Aninha é uma adolescente de 15 anos, plena de vida, cheia de curiosidade diante da natureza.
    Já se interessou por várias atividades, às quais se entregou de corpo e alma, para obter o máximo de realização. Aos poucos porém, foi descobrindo que, nem tudo é possível  fazer com perfeição, devido às limitações próprias de cada um.
    Ultimamente, tem se dedicado à fotografia.
    Tudo é motivo para registrar com a sua câmera,   especialmente  flores e bichinhos miúdos como  borboletas, beija-flores, joaninhas, louva a deuses, moscas, lagartas...  E outros, não tão miúdos como tatus, morcegos, bezerros, cachorros, cavalos......Nada escapa de sua inseparável câmera.
     Há uns dias atrás, ela viu uma lagarta amarelinha se enrodilhando para se tornar crisálida, ou hibernando para virar borboleta.
O interessante é que a lagarta se  fixa  num galho, numa folha ou mesmo num varal através de uns fios quase invisíveis, que ela própria fabrica e fica pendurada, aguardando a metamorfose.
Aquela estava pendurada na parede externa de um velho vaso, presa por dois fios muito finos.
Quando a garota descobriu o que estava acontecendo, ficou muito empolgada, porque queria conhecer toda a evolução da metamorfose.
E todos os dias, fascinada com as alterações de aparência, foi fotografando as mutações do bichinho. Cada dia era uma surpresa.
     Quando o corpo da futura borboleta estava quase formado, e a ansiedade da menina estava no auge, o vento e a chuva mais forte derrubaram-na e interromperam o processo.
Borboleta interrompida e imensa decepção da garota.
Seqüência perdida....
     Mas, haverá outras oportunidades para recomeçar tudo de novo... lagartas é que não faltam.
     Enquanto isso, sua mãe, que nunca morou no campo, descobriu de repente um pé de algodão, e ficou pasma ao constatar que o algodão hidrófilo, que é utilizado nos curativos é fruto seco de um arbusto, beneficiado para uso medicinal e para higiene corporal. Pensava que o mesmo era invenção do homem, e nunca um produto de origem vegetal. Ignorância de quem só viveu na cidade......
     E ao constatar que, a flor se abre amarelinha de manhã e, muda para rosa ao entardecer, foi tomada de encantamento. Encantamento, que foi aumentando ao conhecer a maçã, que se transforma numa cápsula com
os flocos de algodão dentro.
     E daí, ao saber como os catadores de algodão faziam a colheita, retirando os flocos e, ferindo os dedos nos espinhos dos capulhos, pensou que havia descoberto um mundo novo, que nunca havia imaginado.
     No estudo das ocorrências naturais do ecossistema,  há nos compêndios, uma parte que trata da metamorfose de alguns bichos, como  das lagartas em borboletas e  dos girinos em sapos.
     Entretanto, como é possível constatar, as plantas também se metamorfoseiam.  Dum caroço pequenino nasce uma planta, que dá frutos e desses frutos saem os chumaços de algodão, que são aproveitados para tecelagem e outros fins.  Assim acontece também com a seringueira que dá o látex, e com outras diversas plantas, que o homem aproveita para seu conforto e bem estar.
     E não são somente os bichos e as plantas que sofrem metamorfoses. O ser humano também se metamorfoseia. Quando nasce é um ser totalmente incompleto e dependente, e começa a se rastejar, depois vai engatinhando de quatro, até conseguir se firmar sobre as duas pernas, ficando ereto para caminhar sozinho, para se tornar autossuficiente, independente.
     Mas, a transformação maior ocorre na ideia, na inteligência. É uma transformação que não se percebe, porque ocorre internamente.
     Assim, enquanto Aninha está descobrindo o mundo e os inumeráveis mistérios, está ocorrendo uma transformação dentro dela. Aos poucos, vai percebendo a complexidade da vida animal, vegetal e mineral.
      E vai captando as diversas informações, que irão ao longo dos anos, formar o seu cabedal de conhecimentos e experiências da vida. Que farão parte de sua personalidade única.
 Enquanto a garota vai descobrindo as ocorrências corriqueiras do dia a dia, sua mãe ainda tem muito que aprender, muito que conhecer.
     E isso não se aprende nas escolas.
     E a metamorfose do ser humano não termina nunca. Sempre há algo novo para conhecer, para absorver.
    Porque o campo do conhecimento é infinito e complexo.
    Como cantava Raul Seixas:  
  “Prefiro ser essa metamorfose ambulante,
  do que ter aquela  velha opinião formada sobre tudo."
   Que sabedoria, hein?
   Porque mesmo quem já viveu mais de um século, não conhece nem a milionésima parte do conhecimento do mundo.
   E por mais sábio e estudioso que seja o cidadão, não consegue absorver tudo que gostaria de saber.
  Há um limite, porque ele é apenas humano.
  Na verdade, somos como as borboletas pairando por aí, tentando conseguir o melhor mel, tentando descobrir os meios de defesa para se viver bem.
  E totalmente alienados, ignorando a existência de outras formas de vida que, também lutam para sobreviver.
  Entretanto, como a vida é um grande mistério, nunca saberemos para que fim nós fomos criados.
  Conforta–nos pensar que, talvez a nossa metamorfose final, seja a mutação para anjos.
  Não é isso que a maioria das religiões prega?
   Que somos apenas espíritos?
     
   Mirandópolis, 12 de janeiinro de 2012.


 kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/                                                                            

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Entrevistar pessoas...

Gosto de entrevistar pessoas.
Pessoas simples do povo que pelejaram todos os dias de sua vida e nunca receberam uma homenagem sequer. Mas, não quero transformá-las em heróis ou modelos de cidadãos. Quero apenas contar suas histórias, tudo que fizeram, que vivenciaram, que aproveitaram, que construíram.
Com esse intuito andei sondando alguns amigos e conhecidos... Uns se sentiram honrados e envergonhados e, alegando que suas vidas não eram excepcionais se recusaram a contá-las... Fiquei decepcionada, porque são belas histórias de labuta, de conquistas e realizações no anonimato. Outros não me deram importância, e simplesmente se negaram... Talvez pensassem que eu teria lucros com a publicação de suas histórias de vida?
Um amigo me disse que aceitaria ser entrevistado quando se transformasse numa pessoa de destaque, de renome. Quando lhe respondi que só entrevistava gente simples do povo, ele concordou, e saiu a linda história de Gerson Possenti, que é uma celebridade aqui.
Outros ainda, se dispõem mas não têm tempo, e vou toureando-os volta e meia para conseguir... Dr. Roberto Yuassa e Dr. Afonso... Ainda vou conseguir, tenho fé!
Já contei dezenas e dezenas de histórias. Desde o vendedor de churrasquinho da esquina, ao último charreteiro, ao último boiadeiro, ao famoso Professor Walter Víctor Sperandio, à senhora Dirce Cury Costa, esposa do célebre Dr. Edgar Raimundo da Costa, um dos grandes construtores de nossa cidade, ao farmacêutico mais antigo, ao barbeiro mais conhecido... Todos, todos cidadãos que com sua arte, seu trabalho e dedicação ajudaram no progresso dessa Mirandópolis.
Gosto demais das histórias de gente do povo. Como começaram suas vidas no campo (a maioria morou na roça e labutou nos cafezais), a  escola que frequentaram,  a descoberta de suas aptidões e a dedicação ao trabalho até se aposentarem. E todas as histórias que contei são muito belas e, servem de exemplo de labor, de persistência e dedicação.
Interessante é que tempos atrás, só eram contadas as histórias de pessoas famosas, que se destacavam em algum campo de atividades. E a televisão brasileira tem o péssimo hábito de apenas contar as biografias de gente que venceu no Cinema, no Futebol, em Show business, na Música... Não se lembram de Professores, que conseguiram realizar coisas grandiosas com jovens que estavam perdidos na vida; com Operários que deram duro, duro na vida e conseguiram estudar meia dúzia de filhos em ótimas Faculdades; de Médicos que nunca faltaram aos plantões e deram sua vida em prol dos enfermos... Pela análise da tevê brasileira, as vidas dessas pessoas não são interessantes. Pensam que não dão IBOPE.
Como gosto de conversar com qualquer pessoa, sempre acabo descobrindo heroísmo na batalha diária de pequenos e anônimos trabalhadores. Que dão duro todos os dias, mesmo com dores nas pernas, nas costas, e apesar do sol inclemente, da chuva fria que gela até os ossos dos catadores de recicláveis... Então, todos são heróis, porque andaram em linha reta para cumprir bem a sua missão, para prover a família com alimentos e outras necessidades, além de deixar o bom exemplo como verdadeira herança. E existem as mulheres provedoras de casa, que ajudaram sempre o chefe no orçamento familiar, entrando com a renda da confecção de bolos, de roupas costuradas para alheios, de faxina em casas de família, de eventuais serviços de garçonetes em festas. Todas também heroínas, porque ajudaram a segurar o casamento e proporcionaram uma vida organizada e confortável para a família. Graças também a elas, os filhos puderam estudar e escolher uma profissão...
Mesmo que viva duzentos anos e conte uma história verdadeira por dia, acredito que nunca vou parar de me surpreender. Há histórias lindíssimas de mulheres, que vieram a esse mundo apenas para cumprir a missão de criar cinco ou seis filhos sozinha... E histórias de filhos tão gratos pelos sacrifícios dos pais para os encaminhar na vida, que se transformaram em modelos de cidadãos da comunidade...
Muitas vezes, nem sabemos das pelejas dos vizinhos do lado, para  encaminhar os filhos, dar-lhes o suporte necessário para iniciarem no mercado de trabalho. Sabe Deus, como suas cabeças estão recheadas de preocupações financeiras, nesses tempos de crise braba. Cada um tem uma história linda que vale a pena ser contada. Todos sem exceção travam os dentes e caminham sempre pra frente, com fé mirando seus objetivos. Força do Ser humano, que não quer desistir nunca.
A nossa sociedade tem o hábito de apenas valorizar gente que venceu e se destacou da massa. Mas, a massa é que faz o mundo girar, que faz o Estado funcionar direitinho, que provê a sociedade com alimentos, remédios, aparelhos, máquinas e livros. Se a massa parar, mil cientistas ou gênios não conseguirão fazer a roda da vida girar, mesmo que seja por um dia apenas. Então, devemos tirar o chapéu para os Josés, as Marias, os Joões e as Aparecidas que garantem que a cidade desperte cedo, que abasteça os lares com alimentos, com remédios, calçados e roupas. E os anônimos Professores que cuidam da Educação para os pais ficarem com a consciência leve. E o médicos incansáveis que cuidam das dores do corpo e da alma...
É verdade que em contraponto, existem os folgados da vida, que se acomodam, que nada fazem além de explorar o outro e comer para viver. E não são poucos. São os mortos vivos da sociedade, que nem sabem a que vieram a este mundo. Exploram os avós, os pais, os filhos, os vizinhos, os cidadãos que passam... E pedem um dinheirinho para passagem para não sei aonde, para comprar o gás para a comida do filhinho que nem sabe onde anda, para comprar um remédio para uma doença que nem tem... E a gente tromba com eles volta e meia, e tem uns bravos, que saem xingando se alguém lhes oferece um pão... E umas espertalhonas que vendem cartelas de bingo para arrecadar dinheiro para si mesmas...
Eu estou cansada de ser ludibriada por gente mal intencionada, que vem com a maior cara de pau choramingar e pedir ajuda... Fico envergonhada de recusar e essas pessoas olham com olho branco... Não trabalham, incomodam quem trabalha, acham que são uns pobres coitados, mas nada fazem para conseguir uma renda própria sem explorar o próximo.
Tenho muita pena dessas pessoas que vivem pela metade, à margem da vida, explorando o próximo e gastando seus dias, seus anos, sua vida na inutilidade. A vida é para ser vivida uma vez só. Nunca soube de alguém que tenha tido oportunidade de retornar e viver de novo. Seria uma experiência e tanto, mas já estamos no ano 2015 e em nenhuma sociedade moderna ocorreu tal fato. A não ser que nós todos estejamos aqui agora, repetindo a vida de outros que não sabemos quem...
De qualquer forma é muito bom viver. E ninguém quer morrer.
Então, por que não viver bem e procurar ser feliz?
E aí, você tem uma bela história pra contar?
Quer ser entrevistado?

Mirandópolis, setembro de 2015.
kimie oku in




domingo, 4 de outubro de 2015

  Brincando com o "X"

          Nossa língua tem mil artimanhas para nos derrubar.
Vejo todos os dias no face como as pessoas cometem erros crassos, ao tentar comunicar algum fato. São erros notáveis que incomodam, mas como não sou corretora nem revisora de textos, passo batido sobre eles. E o face book não é uma página para se ensinar e nem corrigir a Língua Portuguesa. Para isso existem Escolas, Cursos e o Google tão fácil e acessível. E o mais importante é comunicar-se, mesmo com erros.
Mas, voltando à língua, percebi que o X é uma letra endiabrada, porque confunde sempre, pelas variadas maneiras de usá-lo e lê-lo. Para você ter uma ideia vou tentar escrever essa crônica, usando palavras que se valem do X. Reparem como a sua pronúncia é diversificada.
Comecemos com a palavra da moda Coxinha, que é um substantivo nomeador de um saboroso salgado recheado de coisas gostosas. Hoje virou sinônimo de gente burguesa que tem tudo e não precisa de nada... Isso na cabeça de gente, que defende a situação caótica da atual política  do país... E que não aceita críticas.
E por conta de mil fuxicos, há excessos dos dois lados, uns apelando para a exortação ao Exército Brasileiro, para derrubar esses governantes que aí estão, e se excederam nas maracutaias. Outros garimpando exemplos de políticos da oposição em conexão com a Máfia da Corrupção, como se isso diminuísse a culpa de todos os corruptos que estão no xilindró. Uns e outros são todos exemplos de maus cidadãos e devem morar no xadrez.
E ultimamente, todos se transformaram em xerifes defensores do PT ou xerifes do Brasil. E cada dia que passa, uma caixinha de surpresas sai da Operação Lava Jato, para vexame do Governo, que deve estar sofrendo de enxaqueca braba, com as denúncias que vão asfixiando a senhora Presidente. Exageros à parte, exala um cheiro de podre dos Palácios de Brasília. Falta oxigênio e tudo é reflexo da ingerência dos Governantes, que não souberam enxugar os assessores, que estão saindo direto das residências oficiais para os complexos penitenciários..
E tudo é pretexto para os ataques de ambas as partes, O brasileiro gosta exageradamente de bancar o Juiz em todas as questões. Em se falando de Política, então há uma excitação geral. Embora, a Justiça esteja seguindo os trâmites legais, os justiceiros não têm paciência e vivem exaltando-se, e apelando para medidas excepcionais, para punir os políticos comprovadamente ladrões da Pátria. Acredito na Justiça, e espero que todos os que lesaram a Pátria brasileira, devolvam aos cofres públicos tudo que roubaram até o último centavo. E sejam banidos do convívio social. Lugar de ladrão é no xilindró!
Antigamente, os traidores da Pátria eram punidos com exílio num país distante como a Sibéria, e como o Brasil para os ladrões e malfeitores de Portugal, à época do descobrimento. Hoje, muitos desses maus exemplos de cidadãos nossos são exaltados como heróis e, ainda posam de vítimas... O povo está intoxicado de informações deturpadas. Aliás, o povo acredita só no que lhe convém. É incapaz de enxergar o outro lado da moeda. Isso é o reflexo da sociedade atual, onde os que estão no poder resolveram valorizar demais gentes que não trabalham, que só reivindicam direitos e querem bolsas, e querem casas e querem salário/desempregos, e querem terras... Valorizando mais do que os trabalhadores que pelejam diariamente, sem descanso e não têm nenhum privilégio... Basta verificar a questão do 13º dos aposentados, que será parcelado... Mas, as bolsas serão parceladas? Vale lembrar que os aposentados é que garantiram o funcionamento regular do país até agora.
Examinando a situação caótica do país, com o dólar a níveis nunca alcançados, e o bolso do contribuinte ficando cada vez mais vazio, a Presidente teve a ousadia de aventar a possibilidade da volta do CPMF... Os governantes erram, gastam além do que comportam os cofres públicos, e se voltam para os cidadãos para lhes apertar mais a corda no pescoço... E tem cidadãos aplaudindo! Esses infelizes ainda não descobriram a diferença entre o côncavo e o convexo. Que essas medidas não se destinam a uma faixa da população apenas, mas para todos. Para os côncavos e os convexos sem exceção. Mexer no bolso do contribuinte agora, nessa crise braba, não deixa de ser um exercício idiota e provocador. O povo está exausto de sustentar a gangue de políticos que nada fazem pelo país, e só sabem roubar e roubar. E o assustador disso tudo é que todos eles têm conexão com o Palácio da Alvorada... Sem distinção de raça, de cor, de sexo, de fé religiosa. Conseguiram selecionar os piores elementos em todas as extensões do governo.
Relendo o que escrevi até agora percebo que usei as seguintes palavras com X: Coxinha, fuxico, exortação, Exército, Excessos, excederam, exemplos, conexão, xilindró, xadrez, xerifes, caixinha, vexame, enxaqueca, asfixiando, Exageros, exala, oxigênio, reflexo, enxugar, complexos, pretexto, exageradamente, excitação, exaltando-se, excepcionais, exílio, exemplos, exaltados, intoxicado, Examinando,  convexo, faixa, Mexer, deixa, exercício, exausto, sexo, extensões... Leia em voz alta cada palavra. Verá que a pronúncia delas é tão diversificada.
De tudo isso, ainda volto ao extinto (pelo nosso governo) ensinamento chinês que diz que, é preciso ensinar o cidadão a pescar, para que ele tenha peixe  para saciar a fome. Os Reais e os Dólares estão se extinguindo... E aí eu pergunto: E agora, José?
Xereteando no mundo dos vocábulos, tentei escrever um texto coerente usando palavras com X, que na verdade é uma caixinha de surpresas... Eu me diverti um bocado e espero que o leitor também. Minha paixão é escrever tudo que me vem à ideia, às vezes bem exuberante e outras nem tanto, mas sempre me desintoxica a cabeça e a alma. Porque tenho xodó pela comunicação.
Ops, acrescentei ainda; extinto, peixe, extinguindo, Xereteando, texto, caixinha, paixão, exuberante, desintoxica, xodó e...  Norfloxacino.
50 palavras!
Mas, agora lhe pergunto como é que se lê esse nome do antibiótico NORFLOXACINO?  Honestamente, não sei.
Mirandópolis, agosto de 2015.
kimie oku in