segunda-feira, 27 de abril de 2015

                               Outono chegou!



 Estamos em pleno Outono, a estação mais suave do  ano.  Começou em 20 de março e vai até 21 de junho.
     A Primavera é a mais bela estação, sem dúvida, por causa da natureza que se veste de cores variadas, animando o olhar das pessoas. Verão é a estação quente, do calor insuportável, de sede constante, de suor que tanto incomoda e, nos faz procurar sombra ao dar um passo na rua. Inverno é tempo de frio, dos agasalhos, das botas, das meias...
     E Outono? 
    Ensinamos aos alunos que Outono é a estação sazonal dos pomares, e que podemos nessa época saborear frutas variadas. Acho porém que estávamos errados. No Brasil, a frutificação ocorre o ano todo, porque temos vastas regiões onde o clima varia, a quantidade de chuva é diferente e o solo é propício. Então, quando as frutas acabam na região Oeste do Estado de São Paulo, outras regiões oferecem as  mesmas, cuja safra terminou aqui. É o caso das mangas e uvas...
Independentemente de ser Outono ou não, no Brasil podemos consumir frutas saborosas durante o ano todo, embora elas custem mais, se importadas.
Como nosso país está localizado na região tropical do planeta, não ocorre o belo koyô, que é a coloração das folhas das árvores quando o Outono vem chegando. As árvores ficam coloridas de amarelo, dourado e vermelho por causa da baixa iluminação da época. Isso ocorre nos países frios da Europa e da Ásia. As folhas das árvores se colorem totalmente e, passam a impressão que estão floridas, mas não, são as folhas que ficam avermelhadas.
   O Outono porém, é uma época de iluminação mais suave, de menos calor e convida as pessoas para uma boa leitura, uma caminhada em locais arborizados... É nessa época que começamos a tirar os agasalhos dos armários, por conta do friozinho que vem anunciando a chegada do Inverno. As madrugadas esfriam e às vezes, precisamos usar mantas leves...
É no Outono que faço meus artesanatos para os Bazares promocionais da cidade, os cachecóis e coletes  de lã para crianças, as toucas para o Hospital de Barretos. Nessa época mais fresca é possível trabalhar com fios de lã.
No Outono, os dias são luminosos, mas os raios solares não são ardentes como no Verão. É agradável andar pelas ruas no período da manhã. Tomar um cafezinho na casa de amigos, conversar com os vizinhos nas calçadas, espiar vitrines das lojas...
Gosto demais de cutucar a terra, de replantar mudas, de podar roseiras, de adubar os vasos... De combater pragas e ervas daninhas. De fotografar as flores... Todos os dias há uma flor nova desabrochando!
Há uns anos, vi um filme japonês “Outono Prematuro”, que é uma lição de vida. Os protagonistas vivem um dia a dia agitado, preocupados com o trabalho, e se esquecem de viver, de curtir a família, de olhar ao redor, de ouvir o canto dos pássaros, de ver as folhas das árvores mudando de cores... E em meio a esse turbilhão de cidade grande, de repente o chefe da família fica muito doente. Doente e sem cura... E aí tudo muda. Todos param e percebem que ninguém estava vivendo direito, que haviam esquecido o verdadeiro sentido da vida. E então, todos se empenham em proporcionar ao doente e a si mesmos, um tempo de paz, de vivência esquecida. Interrompem tudo e vão para uma casa de campo. Em meio à paisagem maravilhosa, passam as horas rindo e conversando, enquanto as folhas das árvores vão se transformando de douradas para vermelhas. E no silêncio das longas tardes, ouve-se o cantar dos passarinhos... E embalado pelos risos dos familiares, pelo arrulhar dos pombos, o doente parte... Suavemente.
Imagino que, a nossa trajetória aqui na terra também esteja dividida em quatro estações: a Primavera compreende a fase que vai do nascimento até os vinte e cinco anos, tempo de formação; o Verão vai dos vinte e cinco aos cinquenta anos, tempo de trabalho e produção; Outono já é tempo de ir parando, de passar as responsabilidades para os mais novos, e vai dos cinquenta aos setenta e cinco anos; e Inverno é tempo de aposentadoria, de preparar-se para a partida final... Mas, é muito triste viver o Inverno da vida, porque a maioria de nós nem saúde tem mais nessa  época, e não pode viver plenamente. Nessa altura da vida, as articulações não funcionam direito, os órgãos dos sentidos vão perdendo suas acuidades e a memória, oh! a memória só consegue resgatar coisas e fatos dos tempos antigos, que não interessam a ninguém...


Então, é melhor viver pouco mas viver plenamente, enxergando, escutando, falando, sentindo, rindo e andando com as próprias pernas...
Por tudo isso, é melhor partir no Outono da vida.
Eu particularmente não quero esperar o Inverno.
Por isso Carpe Diem!

Mirandópolis, abril de 2015.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

        As pedras do meu caminho
     
       “No meio do caminho tinha uma pedra.
        Tinha uma pedra no meio do caminho...”
Quando se fala em pedra, a primeira coisa que me ocorre são esses versos do famoso poema de Drummond de Andrade. Com esse poema, ele conseguiu passar claramente a ideia de que às vezes, pedra é uma barreira, um estorvo, que atrapalha quem passa pelo caminho. Pedra que pode ser uma pessoa, um trabalho, um trambolho, um bicho ou até mesmo, uma pedra simplesmente.
Mas, as pedras já foram e continuam sendo a causa de muito sofrimento para gente que cobiça as preciosas. Existem minas no solo, de onde são retiradas essas pedras em estado bruto, e depois de lapidadas por especialistas, passam a valer fortunas. E se tornam motivos de disputas que, não raro provocam mortes entre os envolvidos.
Mas, o que é uma pedra?
É apenas um mineral sem vida, que faz parte do solo do planeta. Um dia, alguém viu no brilho de algumas pedras além da matéria e, se encantou com os reflexos que produz. E desde então, certas pedras foram consideradas tesouros. Além do atributo beleza, todas as pedras são iguais. São matéria apenas. Não têm vida própria...Existem pedras mais duras como o diamante, outras mais maleáveis como a pedra sabão, que os artesãos aproveitam para fazer lindas esculturas. Existem pedras azuis, amarelas, vermelhas, roxas, verdes, pretas, brancas, lilases... para todos os gostos. As esmeraldas verdes despertaram a cobiça de um português bandeirante, Fernão Dias Paes Leme que devassou as florestas do Brasil nos tempos bravios e, morreu sem encontrá-las. Só achou turmalinas, pedras verdes de pouco valor...As turquesas são pedras lindas pela cor suave que possuem e os rubis encantam as mulheres pela cor vermelha... Mas, as pedras mais valiosas são os diamantes, raros e duros. Tão duros que são usados como material cortante. Dentre as preciosas, conheço alguns nomes como ônix, diamante, rubi, esmeralda, turquesa, safira, topázio, ametista, quartzo e pérola. A maior jazida de diamantes do mundo está na Sibéria. E diamantes existem em várias cores. E o nosso Brasil quando foi descoberto pelos portugueses, despertou a cobiça de gentes da Europa, que vieram aqui e devassaram rios e florestas, atrás de pedras preciosas. Havia muito ouro. Até existe uma história que nem sei se é lenda, de um cacho de bananas de ouro maciço, que foi enviado ao Rei de Portugal na época do Brasil colônia. E havia muitos diamantes. Mas, a extração descontrolada levou as minas à exaustão. O que havia e ainda há é o ferro, muito usado na Indústria. E Minas Gerais como diz o próprio nome, foi o Estado mais rico em minérios. Dessa época de procura desenfreada, o que ficou até hoje é a fundação de cidades que comprovam a História da mineração: Ouro Preto, Diamantina, Ouro Branco...
Vi em filmes coreanos, que a gente simples do povo tem o costume de empilhar pedras no meio da floresta ou beira de rios, quando fazem seus pedidos aos ancestrais... Então, de repente se veem pilares de pedras soltas, feitas por mãos humanas que oraram...Se alcançaram as graças só Deus sabe...
Existe uma brincadeira de se lançar pedras no rio, para provocar ondas. Tem gente habilitada que consegue fazer ondas em sequência, numa velocidade incrível. A pedra lançada vai saltando sobre a água e onde ela bate, formam-se círculos, cada vez maiores, que se emendam uns aos outros... E formam um caminho de água em movimento. É muito bonito de se ver.
A palavra pedrada deve ter um significado forte para quem já foi moleque, e brincou de atiradeiras ou estilingues... Vidraças quebradas e pescoções... Todos os moleques devem ter lembranças dessas artes...
“Que a monarquia do Imperador
dure por milhares e milhares de gerações,
Até que o pedregulho
se torne um rochedo
E os musgos venham a cobri-lo.”

Esse poema é a tradução do Hino Nacional Japonês. Hino contestado por muitos intelectuais do Japão, atualmente. Eles alegam que essa veneração ao Imperador remonta ao passado imperialista, e nada tem a ver com a Democracia Parlamentarista adotada pós guerra...
Quanto tempo leva para as pedras se tornarem rochedo? É que o Hino Nacional Japonês é muito antigo, dos tempos em que o Imperador era considerado um Deus, de origem divina. Hoje a realidade é outra, embora o respeito à Casa Imperial permaneça. “Até que o pedregulho se torne rochedo, e os musgos venham a cobri-lo” significa “Eternamente”
E pensemos no inverso das circunstâncias.
As pedras que se soltam dos rochedos, das montanhas vêm rolando ladeira abaixo por intervenção do vento, da chuva, da neve, dos rios... E se transformam em pedregulhos e piçarras...

Você já imaginou quantos milhares de anos, esses pedregulhos vêm sendo carregados pra lá e pra cá, pelas ações da natureza? Nós usamos essas pedras para forrar terrenos, para construir pontes, casas e prédios, para decorar fachadas, para represar rios, para preencher espaços... E nunca pensamos de onde vieram, como vieram, de que montanha se soltaram, quanto tempo vieram rolando de deu em deu...E ao longo do caminho percorrido, foram perdendo as arestas e se transformaram em pedras e pedregulhos arredondados e lisos. Alguns apresentam listras, outros têm outras pedrinhas embutidas, muitos apresentam uma coloração atraente, alguns são transparentes e ficam incandescentes ao reflexo da luz solar...
Gosto de catar pedras do chão, pois cada pedra tem uma história, que ninguém contou nem seguiu. Ah! Se elas falassem! Com certeza, contariam de que morro, colina ou montanha foram arrebatadas pelo vento, pela chuva, pela enxurrada... Contariam dos ásperos caminhos por onde vieram descendo, do canto dos pássaros, das flores nos tempos de primavera, das chuvas torrenciais que as lavaram, da neve gelada que as enterraram, dos animais que as cheiraram, dos humanos que as pisaram, dos bichinhos minúsculos que se abrigaram junto delas... E do futuro incerto que as esperam...Ah! Se elas falassem! Contariam do vento brigando com a montanha para desprendê-las... Do medo sentido quando foram quebradas... Da brisa suave que soprou nas noites enluaradas... Do sol inclemente que durante anos seguidos queimou sua superfície...
É por tudo isso que sinto atração pelas pedras. E vou catando uma aqui, outra ali, e imaginando o histórico delas. Existem pedras lindas no meio das piçarras, nos caminhos, na beira dos rios... Já tive um anel com um brilhante, que me foi roubado e me deixou muito chateada. Hoje, não me importo mais com essas coisas, pois tudo é apenas uma matéria, que nada acrescenta à minha pessoa.
Por isso, gosto de catar as pedras do caminho e ficar imaginando a história de cada uma delas...

Essas vem rolando através dos tempos, e chegam aos nossos pés sem nenhuma intenção de se sobressair, enfeitar, despertar cobiças e proporcionar lucros... São iguais às gentes humildes do povo, que levam a vida como uma bênção recebida de Deus, e vivem-na simplesmente.

Mirandópolis, abril de 2015.
kimie oku in




terça-feira, 7 de abril de 2015

     Minha Religião

Todo ser humano precisa de uma religião.
        Mas o que é Religião?
Religião vem da palavra Religar, que significa estabelecer contato de novo. No caso da Religião, significa religar a criatura com o Criador. Ou seja, estabelecer contato do homem com Deus.
Por que tal religação é necessária?
Porque o homem foi criado à semelhança de Deus, com um corpo material, que um dia irá se desfazer na terra e uma alma, que permite esse contato, essa religação. Essa alma, ou espírito é a essência do homem e mora num corpo terreno, que é o corpo humano, composto de cabeça, tronco, membros e órgãos... Há que se cuidar do corpo, porque é a morada da alma.
No princípio dos tempos, a Religião era uma coisa simples, sem os rituais que hoje são muito sofisticados. Os rituais foram inventados pelo homem, para exercer algum poder sobre os outros. E continuam criando rituais os mais diversos, para diferenciarem umas igrejas das outras.
Nos tempos que Jesus andou pela Terra, os homens comuns seguiam-no, sem outro desejo senão o de ouvir seus ensinamentos. Depois que Ele se foi, a Igreja/Templo foi construída e os representantes de Deus foram se sucedendo, para passar esses ensinamentos... Mas, representar Deus na Terra é uma glória imensa e, muitos desses representantes se perderam pelos caminhos e labirintos, atraídos pela prepotência, vaidade pessoal e falta de humildade...A glória de ser Representante de Deus subiu à cabeça e muitos Papas foram maus representantes de Deus, cometendo absurdos contra a própria humanidade, que deveriam defender...
        E a Igreja que deveria ser Uma e Santa se dividiu e outras correntes apareceram. Hoje há milhares de religiões e seitas, que se torna difícil até de nomeá-las.
        Mas, historicamente, a Igreja seria a Casa de Deus.
        Tenho absoluta certeza de que, a Igreja de Roma com toda a pompa e luxo não representa o santo Jesus que andou descalço, e conviveu com os pobres mais pobres da época. E naqueles tempos, Jesus pregava debaixo de uma árvore, à beira de um rio, no descampado, na encosta de uma montanha... Não havia lugares luxuosos, decorados de ouro e prata... Isso tudo foi invenção do homem, que não consegue se desapegar do lado material.
Mas, voltando às várias Igrejas que cuidam do lado espiritual dos homens, o que mais me assusta é o radicalismo de certas religiões. O ataque às Torres gêmeas, que vitimou milhares de pessoas teve motivação religiosa. E todos os ataques que ultimamente têm ocorrido no Oriente Médio e, em alguns países da Europa matando tanta gente inocente, também foram de caráter religioso.
        Por que esse radicalismo, esse ódio contra o próximo que professa outros credos? Acredito que tem o lado econômico embutido, porque ninguém mata alguém só porque seu credo é diferente. O motivo maior bem disfarçado é o rancor de ser dominado, de ser humilhado, de ser roubado e esculhambado sempre pelos que têm mais poder. Essa é a grande razão, o verdadeiro motivo para os ataques absurdos que acontecem na Índia, nos Estados Unidos, na Síria, em Israel, na Palestina... É pelos territórios perdidos, pelas minas de petróleo roubadas, pelos campos de minério... Pela posse, sempre pela posse! É uma medição de forças, para mostrar ao inimigo que não tem medo, e os ataques matando inocentes têm a intenção de machucar profundamente.
        Mas, nenhuma religião ensina e prega matar os outros. Isso ocorreu na época das Cruzadas, em que se cometeram atrocidades contra os diferentes, os que nem sabiam o que era a religião... Aqueles que a Igreja chamava de ímpios... Naqueles tempos ou se aderia à religião pregada, ou era exterminado... Então o radicalismo, a intransigência saiu da própria Igreja, que queria dominar o mundo. Acredito que isso nunca foi a missão delegada por Deus aos homens...
        E esses loucos que vestem disfarces de Klux Klux Klan e saem executando os outros e outros que, tais como os kamikazes do Japão, mergulham em prédios para devastar tudo, herdaram essa loucura dos “santos” mais ferozes da Igreja. A época do obscurantismo ainda continua.
Então, a Religião é uma coisa que dá medo. Temo demais  o homem de um livro só, como diz o ditado. É que ele enxerga apenas a sua verdade, é incapaz de se sintonizar com o outro, para sentir sua dor, sua tristeza, suas necessidades... O que um homem hindu, xiita, angolano, judeu, tibetano, chinês, ainu do Japão, senegalês, índio americano, nossos irmãos txucarramães têm em comum?   Apenas que são humanos e querem viver em paz uns com os outros. E aí, vem a religião... Que prega a diferença, afirmando que tal Deus é mais verdadeiro, e que os outros são falsos... E aí começa a discórdia...
Tenho medo dessa religião dura, que desfaz do credo dos outros, que condena os que são diferentes, que expulsa um padre negro porque ele acolhia os aidéticos e os dependentes químicos, como aconteceu numa cidade próxima recentemente... Tenho medo das beatas que vão à Igreja, se ajoelham, se benzem mil vezes, e ignoram um vizinho passando necessidade, e são as primeiras a criticar os outros... Tenho medo dos padres que, fecham os olhos para a dura labuta de seus párocos para sustentar a prole, e pedem dinheiro e mais dinheiro para as obras, que nunca acabam, porque construir é preciso. E com luxo. Tenho medo da intransigência pregada na Religião, que considera sem Deus todos os que não professam a mesma fé.
 Deus é Um só. Nunca houve mais de Um. E todos os caminhos levam a Ele, porque Ele é o Criador e nós, todos nós sem distinção somos apenas uns pobres de Deus. Deus não criaria os pigmeus lá da África para os condenar, porque vivem uma religião primitiva. Os ianomâmis, os mendigos das ruas de Calcutá também são criaturas de Deus... Quem pregou a diferença foram os religiosos pela ótica da discriminação.
Taí, tenho medo da Religião que prega a diferença e não respeita o ser humano. Mas, tenho a minha Religião, porque sem ela não sou nada.
Minha religião é o meu estilo de vida. Amo o ser humano, independente de sua cor, religião, nacionalidade, condição social, cultural, sexual. Sofro muito ao ver o outro sofrendo nos saguões de hospitais, gemendo de dor, ardendo de febre, sofrendo humilhações e discriminação... Sendo relegados ao último plano pelos que governam o país.  Sendo tratados como lixo.
Minha religião é o meu jeito de ser. Acudindo quem precisa de ajuda, sendo justa com quem me serve, respeitando os diferentes e orando sempre. Sim! Oro o Pai Nosso, a Ave Maria, que são os caminhos de minha comunicação com Deus. Oro todos os dias ao despertar, ao empreender algo novo, ao sair de casa, ao retornar. Oro ao me deitar agradecendo mais um dia de vida, e oro pedindo proteção aos familiares, amigos e vizinhos.
Minha religião é apenas isso. Não faço salamaleques a ninguém senão a Deus, e sou feliz porque Deus está sempre atendendo aos meus pedidos.
        Não uso a Religião para justificar minhas ações, e nada quero em troca além de paz do coração.
Gostaria que todas as pessoas agissem assim.
Não haveria guerra no mundo e todos viveriam bem.
E glória a Deus!

Mirandópolis, abril de 2015.
kimie oku in
  

quarta-feira, 1 de abril de 2015

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    1  3  5  7  9     

 Você já se deu conta que é impossível viver sem números?
Não?
Em primeiro lugar, você é um número do Registro Geral, ou R.G., é um número do Cadastro de Pessoa Física ou C.P.F. Sem eles, você não existe para a sociedade civil.
Você mede um metro e tantos centímetros, pesa tantos quilos, tem tantos anos de idade, nasceu no dia tal do mês tal de tal ano. Você é o primeiro, segundo ou terceiro filho de seus pais que são dois, e tem tantos irmãos, filhos, netos e tantos e tantos amigos.
      Os números comandam a sua vida.
      Em primeiro lugar, o tempo é marcado por números, dividido em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios... Calendários e relógios nem existiriam sem números.
      Você acorda às tantas horas, toma tantos goles de café e leite, come tantos pães com tantos gramas de margarina e mais tantas fatias de mamão...
      Pratica jogging? Anda tantos minutos, dando tantas voltas no quarteirão ou na Pista da Saúde. Encontra tantos amigos e fica papeando tantos minutos com eles... Volta para casa, toma banho em tantos minutos (tem que ser rápido para poupar água!) e senta-se para ler jornais. Lê tantas manchetes interessantes, escolhe o caderno do Cotidiano e lê duas ou três linhas para saber de uns acidentes e assaltos na cidade ou região. Vai para o Caderno de Esportes e, constata que seu time perdeu de tanto a zero. E fica decepcionado. Mas, aí volta à primeira página para saber das últimas sujeiras do Governo, dos troca-troca de autoridades, para abafar as ações de corrupção de gente do alto escalão. Daí fica mais revoltado, joga o jornal e liga a tevê.
O primeiro canal não está legal, vai para o segundo que está ensinando receitas de comida. Ah! É a sua comida preferida. Fica assistindo meio interessado. São tantos filés de peixe, tantas colheres de café (medida) de sal, de limão, de pimenta do reino, tantos ovos, tantos gramas de farinha de rosca, tanto de óleo.... Frigir em tantos minutos. Depois é só degustar, que é feito em poucos minutos... Comprar filés de peixe...
Daí resolve dar uma volta na rua. Anda uma quadra, duas quadras, vai ao barbeiro que está com dois ou três clientes só, porque “tá tudo difícil”. Escuta dois dedos de prosa e vai lá na esquina dos aposentados, onde os companheiros costumam se reunir. Ali tem diversos grupos de gente comentando as últimas notícias, falando do timão que ganhou de novo, falando mal da Dilma, do preço da gasolina, das manifestações pelo impeachment da Presidente... Aí, se lembra que a patroa pediu para comprar umas frutas, vai lá no Vanderley, escolhe umas laranjas bonitas, uma dúzia de bananas nanicas para evitar cãibra, paga tantos reais. Sobrou uns trocados, pega cinco espigas de milho verde para mistura, passa no Jomar pega um maço de alface e uns tomates (caros!), e volta para casa. Sua romaria cotidiana de aposentado está feita.
O almoço está pronto!
Melhor hora do dia! Pega um prato, duas conchas de feijão (hum! tá com cara boa!), tantas colheres de arroz, um bife     frigindo, duas colheres de abobrinha... Nossa! Como está bom! Para controlar o colesterol, come duas folhas de alface, três rodelas de tomate e umas lasquinhas de cebola. Mastiga devagar para degustar a comida, prolongando o prazer de saborear. Toma dois copos de suco, come uma banana e bebe uma xícara pequena de café. Daí, toma os dois comprimidos para controlar a pressão arterial, que anda sempre lá pelos 16 por 10.
Pronto. Está comido!
Agora se posta em frente à tevê para “ver as notícias”. Só vê e ouve uma parte. Uma ou duas ocorrências de acidentes e roubo na região... Cochila. A tevê ligada para ninguém. Também as notícias não são boas. O Promotor de Justiça fazendo devassa nos órgãos públicos, que não estão funcionando direito... Uns tiros no Bairro tal e a morte de dois adolescentes, que consumiam drogas... E aí cochila por uns bons minutos, até que o pescoço começa a doer e desliga tudo e vai para a cama. Tira uma sesta de uns vinte minutos e está novo e vivo novamente.
Toma um cafezinho para reanimar-se e volta aos jornais, esmiuçando notícias do time do coração. Lê os detalhes da história do Petrolão e acaba desanimado pelos rumos da investigação.
      E aí sem opção vai para a tevê, vendo os programinhas sem graça da tarde. Quando tem sorte, passa um jogo de futebol, que os mais ficam para as noites de quarta e quinta-feira, ou fins de semana.
      Dá uma conferida na conta de aposentado e, constata que este mês gastou mais por conta da prestação do IPVA e do Imposto da casa. É preciso apertar o cinto... Os números da conta bancária são sempre baixos, quando não negativos... E tem que fazer a Declaração do Imposto de Renda.... “O Governo me ferra todos os anos!”
      E assim caminha o dia a dia do cidadão aposentado, enredado sempre por números, que tem como base única 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Números ou numerais arábicos, porque foram inventados pelos árabes, lá na antiguidade... Esses numerais funcionam assim na contagem, como em ordem sendo chamados primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono... décimo, vigésimo e assim por diante e, ainda como porcentagem, 5 por cento de aumento no salário e, desconto de 20 por cento no Imposto! Sempre ferrando o trabalhador!
      São usados para marcar páginas de livros, de jornais, de talões de cheques, de casas do quarteirão, de salas e quartos de hospitais e hotéis... Carros e outros veículos também levam números para identificá-los. Telefones fixos e celulares funcionam à base de numerais. São eles ainda que, determinam os limites das compras de dona de casa, são eles que quebram os grandes empresários, quando extrapolam os limites de suas rendas. São eles que, determinam a vitória numa eleição, que aprovam alunos de série em série, e em Vestibulares e Cursos de Faculdade.
      São os números ainda que, determinam o preço das coisas, o valor do trabalho, o suor dos trabalhadores...
      Ainda são eles que despertam a cobiça e a ganância de quem parte para a corrupção, para o desvio de dinheiro a que não tem direito... É por isso que está acontecendo a vergonha nacional do Petrolão e do Mensalão.
      Enfim, os números comandam a nossa vida.
      E não só a vida.
      Quando a morte o levar, ainda assim não estará livre dos números. No cemitério, no jazigo da família ao lado do termo “Perpétua”, você será um número para identificar os seus restos mortais...
      Números... para que os quero? Me deixem!
     Mirandópolis, março de 2015.
      kimie oku in