segunda-feira, 28 de abril de 2014


            Ciranda, cirandinha...
            Vamos todos cirandar!
     
       De novo, nos reunimos para cirandar.
     Foi na última sexta-feira, dia 25 de abril, na Chácara do seu Albertino.
         Compareceram três convidados novos: O José Antonio Lima, o João sem terra e o Valdomiro de Oliveira, que foram conhecer a Ciranda.
        Infelizmente, o senhor Albertino estava ausente, a serviço. Mas, o senhor Jovanini e o senhor Zeferino Coqueiro salvaram a tarde com os acordes tirados do violão, acordeão e gaita.
         Aos acordes da sanfona, o pessoal começou a cantoria. Seu Jovanini deu um show com sua gaita e animou a tarde com o amigo Coqueiro.
     A tarde corria tranquila, com muita cantoria e conversação, quando o pessoal da AMAI chegou. A Lílian Arantes Romero Gonçalves, Assistente Social, a Patrícia Aparecida Viana, Enfermeira e a Nutricionista Cecília Gabrielle Mattara conduziram nove internos do Asilo. Compareceram Ester da Silva Santos, Cícero e Maria José Aquino, Regina de Jesus, Joaquim de Paula, Rosa Marques, Cícero Gonçalves (o popular Teo, filho da Maria Magra), Osvaldo dos Santos e Valdemar Ramos.
    
         Todos chegaram meio acanhados, com exceção da Rosa, que ao ouvir a sanfona já foi gritando: Olha o forró e saiu rebolando. Dançou a tarde toda.
         Servimos um lanche para os visitantes, e em seguida todos participaram da grande roda da Ciranda. O Professor Gabriel deu as boas vindas aos internos, o seu Orlando declamou um poema, a Professora Rachel disse da alegria de participar da Ciranda e a Vina cantou uma canção. O Lima declarou que ficou muito admirado de constatar que o grupo é grande e animado, e disse que irá participar como voluntário.  O Valdomiro, que é o Secretário de Cultura do Município, também ficou surpreso com o grupo e a organização, e prometeu voltar. O João sem terra também agradeceu o convite e parabenizou o grupo. Também um dos internos da AMAI cantou uma canção.
         Finalizando a Ciranda, a Kimie falou da persistência da Assistente Lílian, em proporcionar essa participação dos internos na Ciranda. Há um ano que, ela vinha pelejando e só agora foi possível realizar. E acrescentou que os cirandeiros irão retribuir a visita, fazendo uma Cirandada em breve na sede da AMAI. Assim, todos os que não puderam comparecer, poderão também usufruir de uma tarde de alegria. Essa ideia teve aprovação geral. É mais fácil Maomé ir à montanha, que a montanha vir a Maomé.
    Terminada a grande roda, a música continuou e todos ficaram dançando, especialmente os internos da AMAI. Nesse momento, ficou patente o carinho e a atenção da Lílian e da Patrícia para com todos eles. Elas estimularam todos a dançar. Foi uma alegria geral, porque os cirandeiros arrastaram os mais acanhados para participar. Confraternização natural e geral.
         Ao terminar a festa, cada um foi conduzido ao carro com extremos cuidados para voltar ao Asilo. Todos agradeceram muito e partiram com um belo sorriso.
         Em maio tem mais!

         Mirandópolis, 27 de abril de 2014.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/





quarta-feira, 23 de abril de 2014



                                               72 anos
      Completei 72 anos!
       De repente, percebi que envelheci de fato. Antes fingia que estava envelhecendo. Mas, agora, finquei o pé na descida dos idosos. E não tem mais volta.
       O máximo que posso fazer é olhar para trás e relembrar fatos e momentos que vivi, quando ainda podia correr, pular e gargalhar. Na fase atual, tudo acontece devagarinho.
    Andar devagarinho, falar devagar para melhor articular as palavras e me fazer entender. Ouvir de novo, e de novo... Ler de novo, de novo, de novo... Para entender... Estou bem lerda...
      Nosso corpo é tal qual uma máquina. Quando novinha em folha tem muita potência, e funciona a todo vapor. Com o uso constante, as engrenagens ficam gastas, e começam a caquear, enroscar e acabam travando o motor. E é preciso fazer revisões periódicas (no médico), para dar uma engraxada aqui, minimizar uma dor ali, encaixar melhor as juntas... E isso vai num crescendo até que, o motor comece a falhar dando umas patinadas, até parar de vez. De vez em quando, os médicos fazem o coração pegar no tranco, mas como máquina velha e sem potência, uma hora não responderá mais.
    Por tudo isso, a gente tem que se preparar para o momento supremo, que é o da abdicação à vida. O corpo físico começa a avisar que, está chegando a hora. Mas, a gente ama viver e vai insistindo, ignorando um sinal hoje, outro amanhã, até que tudo acabe parando.
     Deixar esse mundo!  Ninguém pensa nisso!  Porque viver é muito bom!  A vida é uma grande aventura. Cada dia, uma surpresa! Cada dia, uma emoção!  Mesmo os dias tristes de Inverno trazem surpresas inesperadas. Um canto de passarinho, uma borboleta amarela procurando mel, um grito de criança feliz, um telefonema de alguém querido... É assim que a gente tem que pensar. Porque, mesmo que nada aconteça, só de estar vivo já é uma graça de Deus. Tem uma canção japonesa que diz que “Se souber que  morrerá amanhã, verá que os problemas de hoje não são nada”
      E se a gente consegue locomover-se, indo pra lá, pra cá mesmo com certa dificuldade, é preciso agradecer, porque ainda se é livre, e não depende de ninguém.
    E se a gente ainda enxerga, (mesmo usando potentes óculos), ainda é uma bênção, porque dá para mirar as faces queridas... De familiares e de amigos.
      E se a gente ainda ouve, (mesmo com algumas falhas), também é uma felicidade, porque dá para se comunicar com os próximos e ainda ouvir uma boa música.
      E se a gente consegue concatenar as ideias e se fazer entender, é que o Alzheimer ainda não se instalou em nossa cabeça. E dá para conviver com muita gente ainda. Até com os jovens.
    Percebi com pesar que, mesmo que a gente se empenhe em participar ativamente da vida, o corpo físico vai ficando cansado, a ponto de não aguentar ficar muito tempo de pé.  É por isso que, inventaram o atendimento preferencial para os idosos e aposentados...      Até um tempo atrás, não me incomodava de esperar, de ficar em filas, mas agora sinto que realmente preciso de atendimento especial. Eu me canso à toa... Peso dos anos... E também não tenho aquele fôlego de andar rapidinho e nem vencer longas distâncias a pé...
  Ultimamente tenho pensado muito nas pessoas idosas, que circulavam pelas ruas da cidade todas as manhãs, e que sumiram de vista. Com certeza, estão com problemas de locomoção, com dores nos joelhos, nas juntas, ou dificuldades de localização. Sei que a minha vez não está tão longe assim. Então, ando quase todos os dias, enquanto minhas pernas permitirem, para ir de encontro à vida, fazendo uma comprinha aqui, olhando uma vitrine ali e, principalmente encontrando os conhecidos e amigos. Não há nada mais gratificante que reencontrar amigos de repente e, receber um carinhoso abraço.
      Por tudo isso, tenho muito dó das pessoas que ficam confinadas em suas casas, por impossibilidade de ir e vir. É muito triste ficar só com os pensamentos, sem ver os amigos, sem ouvir uma voz diferente para alegrar seus dias.
    A solidão é uma triste companheira e não faz bem a ninguém, principalmente a pessoas idosas...E com o advento da tecnologia, a comunicação hoje está sem voz. Nós nos comunicamos por e-mails, pelas redes sociais, através de mensagens escritas. Pouco se usa o telefone. E os que mais precisam de contato para sair da solidão, não têm acesso a esses meios de comunicação. Telefone calado. Nenhuma voz amiga, para dar um alô ao solitário esquecido... É muito desolador.
     Mas, não falemos só de tristezas. Ter vivido sete décadas é uma bênção, que muitos não conseguiram. Até aqui, vim caminhando normalmente, cuidando de mim e me comunicando bem ou mal com as pessoas. Até aqui li os livros que quis, vi os filmes preferidos, apreciei obras de artes, ouvi dezenas de lindas canções e conheci pessoas maravilhosas.
      É certo que, conheci gente muito chata, arrogante, que  age como se fosse a dona do mundo, mas essas pessoas não contam. São as desventuradas da vida, que terão que tropeçar muitas e muitas vezes, para aprender a respeitar os outros.
      Além do mais, ainda devo agradecer a Deus por ter vivido uma época de transformações, onde tudo que era feito manualmente passou a ser automático. E tudo ficou mais fácil de executar. Tive a oportunidade de experimentar o trabalho duro feito no muque, como lavar roupas manualmente e, conhecer as facilidades proporcionadas pela tecnologia.
      E mais que tudo o ter vivido uma época em que mulheres estudam, trabalham e dão conta de suas vidas, sem depender do sexo forte.               Tudo isso foi um privilégio.Sou muito grata a Deus.
       
    Mirandópolis, abril de 2014.






        

quarta-feira, 16 de abril de 2014



       Mil folhas





   Recentemente, vi uma coisa fantástica na tevê NHK do Japão. Há duas semanas que, em todos os noticiários, os apresentadores vêm mostrando a florada dos sakurás. Entre os dias vinte até vinte e cinco, havia um frisson, para descobrir as primeiras flores... O sakurá é a flor mais apreciada dos japoneses. Ela anuncia a chegada da tão ansiada Primavera, que vem substituir o rigoroso Inverno asiático, com as terríveis nevascas e temperaturas abaixo de zero.
      Fiquei fascinada ao constatar que todo o país se encantou com o desabrochar das flores. Aqui no Brasil, ninguém toma conhecimento das flores maravilhosas, com que a natureza nos brinda o ano inteiro. Os ipês. Ah! Os maravilhosos ipês!... As primaveras se derramando dos muros...
     Gosto muito de plantas. Mesmo dos matinhos, que insistem em nascer nas gretas dos muros e calçadas. E acredito que, Deus foi muito sábio em tingir de verde toda a vegetação, ou pelo menos a maioria que existe. O verde não cansa os olhos.
    Como aprecio flores, fico comparando cores e formatos delas. E percebi que, assim como existem mil variedades de flores, há também outro tanto de folhas.
      E as folhas têm vários usos como saladas de alfaces, almeirão, agrião, couves, repolhos, acelgas, imprescindíveis na nossa frugal alimentação. E há folhas sem as quais, os animais herbívoros não poderiam viver. São o capim, os napiês, as gramas, os coloniões, as canas, que formam as pastagens do gado vacum, equino e ovino.
      Desde o início dos tempos, as plantas foram usadas como remédio para os males físicos da humanidade. Delas se fez uso das sementes, das flores, das raízes, das cascas e também das folhas como unguentos para inchaços, dores e torções. Também muito chá ajudou a curar males, estancar hemorragias e baixar febres.  Os moradores das selvas conhecem de sobra, a utilidade das plantas.
      Lembro-me que, na infância, a dona Regina, uma velha senhora de origem italiana ensinou mamãe a fazer emplastros, para curar inchaços, usando folhas de batata doce. Mais tarde, usei chás de camomila e de erva-doce para combater cólicas dos bebês. E tomei chás de quebra-pedra para cólicas de rim...
      Acho que todas as pessoas já usaram alguma erva, para combater suas dores físicas. Mesmo a Farmacologia vive pesquisando plantas, para elaborar remédios que curam.
      O inconveniente de certos remédios, que costumamos consumir é que contêm substâncias químicas necessárias para sua elaboração, que causam efeitos colaterais. É por isso que, os antigos não punham fé em medicamentos de farmácia...
      Mas, as folhas ainda têm outras propriedades, além de servirem de alimento e remédio. Diante da luz do sol, elas renovam o ar, absorvendo o gás carbônico e produzindo oxigênio, tão necessário para a nossa respiração. É por isso que, a gente se sente tão confortável debaixo de uma árvore frondosa, pois há bastante oxigênio, que ao ser aspirado transforma nosso sangue venoso em arterial, eliminando as toxinas.
   Elas ainda amortecem o barulho produzido pelos seres humanos, nas grandes cidades. Os sons de carros, motos, trens, aviões e indústrias são reduzidos ao chegarem às folhas das árvores, por isso seria impossível viver numa cidade sem árvores. Além disso, elas produzem a maravilhosa sombra, que são oásis no deserto dos asfaltos, em dias ardentes de Verão.
    Lembrei-me também das antigas aldeias japonesas, cujas casas são cobertas com palha de capim. Na Província de Gifu, existe a Vila de Shirakawa-go, composta de casas antigas cobertas com palha de susuki, uma espécie de capim. São casas construídas há cerca de duzentos anos, e foram dispostas nesse vale, formando uma Aldeia Antiga. Essa Aldeia foi considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. As coberturas de capim seco são trocadas a cada trinta ou quarenta anos, durante uma cerimônia, que reúne todos os moradores da vila. Geralmente, são trocados quando o herdeiro atinge os trinta anos de idade. Então, todas as gerações fazem a troca da cobertura da velha casa, que passa de pai para filho, tradicionalmente. O capim seco protege os moradores da neve e mantém o interior aquecido, mesmo quando as temperaturas caem abaixo de zero.


    Há tanto que falar e escrever sobre as folhas, que acabei me perdendo, e desviando do foco principal. Queria abordar sobre o formato delas, que é muito variado.
    Como Deus foi um Artista completo, produzindo folhas dos mais variados estilos, formatos e cores! Na minha coleção de vasos, que é bem limitada dá para perceber essa variedade. E fico encantada ao descobrir novos formatos e novas cores.         
     E que tal você também olhar à sua volta, e apreciar as obras de Deus? Há tanta coisa linda para ser vista e admirada!   

     


      Mirandópolis, abril de 2014.



quinta-feira, 10 de abril de 2014



                Ser Mulher
  8 de março – dia Internacional da Mulher. Por que esse dia? 
     É que há uma ocorrência dolorosa que marcou essa data.
    No dia 8 de março de 1857, operárias que trabalhavam numa fábrica de tecidos em Nova York nos Estados Unidos, resolveram fazer um protesto. Elas pediam melhores condições  de trabalho, pois a sua  jornada era de dezesseis  horas diárias e ganhavam um terço do  salário pago  aos  homens  pela mesma função. Era praticamente um trabalho escravo. Os patrões, porém ao invés de ouvi-las, trancafiaram-nas numa sala e atearam fogo. Cento e trinta tecelãs foram queimadas vivas.
     Esse tipo de protesto ocorreu na Rússia também e em várias partes do mundo, porque a mulher era totalmente discriminada e, tratada como escrava mesmo.
    Muitas manifestações e reivindicações após, as mulheres  passaram a ser um pouquinho valorizadas.
      Não sei se por ter sido criada a partir de uma costela de Adão, de acordo com a lenda, a mulher sempre foi considerada um ser inferior, que deveria servir ao homem como uma simples criada. Nos antigos livros de História das Civilizações, há relatos de arrepiar. Mulheres não tinham direito de se assentarem nos  lugares destinados aos homens porque sangravam (menstruavam). Eles as consideravam impuras e perigosas. Mesmo entre as tribos meio bárbaras, quando ocorriam cataclismos ou desastres da natureza como inundações, chuvas intermináveis, secas prolongadas, uma jovem mulher (nunca um homem) era sacrificada para acalmar os deuses. E quando faziam as iniciações, para os meninos serem integrados na vida dos homens, as mulheres mães não tinham direito de participar ou assistir.
 
  Mesmo no Brasil colonial, as mulheres eram apenas servas de seus donos ou maridos. Deviam respeito total ao marido e não podiam contestar suas ordens, mesmo que se referissem à educação dos filhos. A imagem que me vem à cabeça, quando penso nos coronéis dessa época, é da esposa ajoelhada no chão tirando as botinas dos maridos ...
   Durante séculos, em qualquer país do mundo onde havia um Reinado ou Império, o Rei ou o Imperador poderia ter suas concubinas, que às vezes chegavam a dezenas, e a Rainha ou a Imperatriz deveria aceitar e ficar calada. Essa relação irregular dentro de um Reino provocou guerras e mais guerras, por causa dos filhos que disputavam o poder, estimulados pelas mães que almejavam o trono.
      No Japão antigo, quando o país era assolado por crises terríveis de fome, as meninas eram vendidas a troco de sal, esse sal que é usado na culinária. Como havia carência de alimentos, achavam que não valia a pena alimentar meninas que, mais tarde iriam embora quando se casassem... Não dariam retorno da despesa gasta... E o destino delas era fatal: seriam escravas de seus donos ou vendidas a prostíbulos... Mesmo na China, na era moderna foram relatados casos de mortes de nascituros, quando eram do sexo feminino...
    No Japão moderno, tem uma história estranha referente ao Sumô, ou aquela luta de homens gordos e quase nus, que se pegam na arena de terra. Essa arena ou Dohiô é feita de terra com palha de arroz. Para levantar essa arena ou dohiô, por dias e dias a terra é amassada e socada enquanto monges budistas rezam suas sutras. Pois é, tudo é meticulosamente preparado para abençoar esse lugar, que será o palco de muitas contendas.  Abençoado para os Deuses protegerem os lutadores. E a mulher não pode subir nesse lugar porque é impura, porque sangra. E os lutadores não nasceram de mulheres?
     Desde que foi criada, a Mulher foi a outra metade do Homem. O côncavo do convexo, que unidos formam um só ser. A respeito disso, há uma lenda grega engraçada. Zeus, o Deus da antiguidade havia criado os humanos em duplicata, isto é num só corpo havia um homem e uma mulher, unidos pela frente. De repente, Zeus notou que essas criaturas ficavam se alisando o tempo todo, e resolveu parar com a brincadeira. Separou o homem da mulher, cortando verticalmente e separando as metades. E desde então, ambos saíram pelo mundo procurando a sua metade... O côncavo e o convexo...
      Estranho é notar que a discriminação ocorre só com os humanos. Nunca vi as gatas, as galinhas e as cadelas serem escorraçadas do convívio comum pelos machos. Há é verdade, disputa pelas fêmeas, abordagens, cenas de conquistas como entre humanos, mas discriminação não. E o homem é racional...
     Fico imaginando como seria o Mundo, esse Planeta, essa Terra Mãe, se não houvesse Mulheres. Se não tivessem pisado esse chão que pisamos, tantas heroínas valentes que se destacaram no mundo das Artes, da Literatura, da Medicina, da Assistência aos Carentes como a Madre Teresa de Calcutá.
      E se não houvesse a Maria, Mãe de Jesus, a quem apelaríamos em nossos momentos de desespero?
       Sou Mulher e muito me orgulho disso!
     
      Mirandópolis, março de 2014.

terça-feira, 8 de abril de 2014

           Cultivar Flores e polir a alma
    
      Uma das paixões de minha vida é cultivar flores.
    Não importa se é uma flor nobre, cultivada em jardins famosos, ou se é uma flor caipira sem nome, que nasce em qualquer greta do chão ou da calçada, onde caiu a semente.    
    Gosto e aprecio muito enterrar os grãozinhos, e ver os brotinhos erguendo o topete, para se transformarem em novas plantinhas. E isso ocorre devagarinho, conforme vão recebendo luz do sol e água...
      E diariamente, como se fosse um ritual, espio as novatas, para ver seu crescimento. E retiro os inimigos que estão sempre à espreita, para devorá-las. E as replanto em vasos, e as adubo com carinho, para que cresçam fortes, e deem belas flores. E é uma alegria, quando começam a despontar os primeiros botões.
      A essa altura, a minha felicidade é tanta que, gosto de expor as plantas floridas, junto da grade de minha casa, para os passantes também as apreciarem.  Então, sempre coloco uns vasinhos à vista, para dar um pouco de alegria às pessoas apressadas, que passam pela calçada, preocupadas com seus problemas... Penso que ver algo belo da natureza, num momento de aflição, ajuda a esquecer por instantes, os tormentos da alma... .
     Então, um vaso cheio de flores coloridas é sempre um refrigério para a alma. Penso que é uma bênção. De Deus.
      Mas nem todos pensam assim.
      Hoje tive a decepção de ver arrancada e furtada uma plantinha coberta de flores roxas, tão lindas... Tristeza...
      A pessoa que a furtou não vivenciou nada para possuir a planta. Não a plantou, não a regou com carinho, não afofou a terra, não a adubou, não combateu as pragas, não endireitou os talos, não a colocou umas horas ao sol, não a protegeu do vento e do frio, não observou seu desenvolvimento, não viu os primeiros botões despontando, não testemunhou a primeira flor se abrindo para a luz do dia... Mas a arrancou e levou embora.
 
    Assim, grosseiramente, sem nenhuma consideração. .
      Furtou-a de minha vista e de todos. Como se tivesse o direito de fazê-lo. Como se tomar posse de algo alheio fosse natural. 
      E como tinha consciência da ação ilícita, fê-lo furtivamente, às escondidas.
Não lhe tenho raiva, porém. Tenho-lhe muita pena. Tenho pena porque ela deve ter inveja, muita inveja das coisas belas, que pertencem a outros.
      E por ser incapaz de cultivar uma plantinha que seja, precisa surrupiar de outros. Acho que é uma pobre criatura, para quem roubar as coisas alheias é o máximo de felicidade.
      Acho também que deve ser amoral, pois se não é capaz de respeitar a propriedade alheia, não deve respeitar direitos de ninguém também.  E acredito que, se é capaz de surrupiar objetos alheios como flores, deve ser capaz também de outras atitudes ilegais.
      Porque é tão simples pedir, sem precisar roubar.
      Mas, acostumada em praticar atos ilegais, não tem a sensibilidade de pensar na decepção, que é capaz de provocar aos outros. Conheço amigos que têm essa mania, de não resistir às coisas belas que vêm. De um jeito ou de outro, eles querem ter a posse do objeto, mesmo que não esteja à venda. E aí acabam cometendo pequenos furtos.
     Se não forem barrados no início, acabará virando mania, ou cleptomania, que tanto transtorno causa aos familiares...
     Quando eu era criança de uns sete anos de idade, vi uma régua transparente de vidro, que me deixou fascinada... Naquela época, ninguém possuía réguas desse material, e nem de plástico, pois era tudo de madeira.
     Peguei a régua na mão, alisei-a, e senti forte tentação de surrupiá-la, porque era muito bonita, e mais que tudo, era uma novidade.  O objeto do desejo estava na casa de uns vizinhos. E não havia ninguém à vista.
     Mas... Mesmo querendo de qualquer jeito pegar a régua, fui tomada de medo do meu pai, que era rigorosíssimo quanto a essas atitudes.
     Ele não admitia que se pegasse objetos dos outros, mesmo que fosse por brincadeira.
       Na minha ideia de criança, veio a imagem de papai pedindo explicações sobre a régua...
     E deixei-a, onde estava.

     Com muita pena, mas deixei...
     Quanto a desejei!...
     E nunca confessei isso aos meus pais, nem aos irmãos...
     E jamais esqueci esse momento de tentação de afanar um objeto alheio.
E agradeço à educação rígida que papai nos impôs, para nunca envergonhar a família. E sempre que ouço sobre larápios, cleptomaníacos ou ladrões mesmo, fico pensando que tudo teve um começo como a situação que vivi.
     E mesmo sendo uma criança pequena ainda, já sabia discernir o que era certo ou errado.  Como poderia justificar o ato diante de papai, que não admitia mentiras?
     E a verdade ensinada por papai foi tão forte, que mesmo passado mais de meio século, ainda ressoa em minha alma, como lição gravada a fogo na minha formação. E desperta a lembrança com as ocorrências tão corriqueiras, como a que vivenciei hoje.
     Roubar flores...
     Alguém pensa que pode roubar a beleza de uma linda flor, surrupiando sorrateiramente um vaso de flores, uma muda... Mas, ledo engano!
     Ela nunca saberá da felicidade de semear, cuidar da brotação, de regar com delicadeza, para não machucar as folhas tenras, de afofar a terra, para as raízes se desenvolverem livres, de ver o crescimento da planta, correspondendo aos cuidados dispensados... Ela poderá ter a posse do objeto, mas de um objeto que não conhece...
     Porque o melhor de cultivar flores está no processo de cuidar, acompanhando cada passo, participando da evolução...
     É tal qual a alegria de se organizar uma festa. Cuidar dos detalhes, selecionar e preparar o cardápio, a decoração, a música, reunir as pessoas e dividir tarefas... Existe algo mais contagiante?
     Mas essa linguagem só poderá ser entendida e compartilhada, por quem sabe dar valor aos sentimentos, mais que aos objetos materiais.
     E hoje em dia, muito pouca gente sabe cultivar a linguagem da alma.
     Então, furtam-se flores.
     E outras coisas mais...

     Mirandópolis, 25 de janeiro de 2012.
    
      kimie oku


terça-feira, 1 de abril de 2014



                          Velhas Casas Velhas

    Há uns dias, postei as fotos do antigo Clube Nipo, que está desmoronando, e um amigo me pediu que escrevesse sobre ele.  Só que não conheço sua história e não tenho o direito de versar sobre esse clube. Mas, me chocou ao ver as condições atuais de uma construção, que serviu para realizar tantas festas e tantos treinos de judô. 
    Apenas postei as fotos porque bateu uma tristeza ao ver aquelas imagens, e quis compartilhar com os amigos. Acredito sinceramente que, deve haver uma razão muito forte para esse abandono, porque a Associação Nipo de Mirandópolis é muito ativa e não abandonaria o velho casarão, se não houvesse motivos fortes para tal.

    Os amigos do face book, comentaram que fizeram aulas de judô lá, e relembraram com saudades daqueles tempos em que vinha um Sensei, para ministrar tais aulas.  Comentaram sobre o baseball que era praticado no campo de terra, e das aulas de Educação Física ministradas pelos Professores do Ginásio Estadual, além dos treinos de basquete e vôlei. Outros citaram as festas de casamento celebradas lá no clube, alguém até se lembrou do casamento do saudoso Yoshiharu Ogasawara com a Glória.
    Certa vez, escrevi sobre uma casa que está há muito tempo fechada e desmoronando. O que me incomodava eram os pés de carrapicho que se multiplicavam na calçada, atrapalhando a circulação dos pedestres... Pois, alguém não gostou e, me disse os maiores impropérios que se possa imaginar... Deixar a calçada dos pedestres virar um carrapichal?  Ninguém merece!
    Sei que deve haver mil razões para se abandonar uma casa velha. Questões de herança, de partilha, de acordos desacordados, de Justiça, de recursos pendentes, de impostos não pagos...  Mas, um dia, tem que ser solucionado...
  Toda vez que, passo diante de uma velha casa abandonada, fico imaginando quem teria morado nela, se houve risos de crianças, mães cuidadosas estendendo roupas no varal, avós ninando netos, irmãos se digladiando, meninas brincando de bonecas, pais chegando cansados do trabalho... Se alguém ouvia músicas no pequeno radinho, se alguém cantava quando estava feliz, se houve choros, desavenças, reconciliações, abraços, alegria, festas...
  As casas abrigam além das famílias, seus sonhos, suas esperanças, seus conflitos, seus combates, suas pelejas de uma vida toda. E enquanto as pessoas lá moram, as paredes ficam firmes, os telhados se mantêm, os vidros não racham, os soalhos se conservam, o portão funciona.
   Mas, quando as famílias as deixam e ninguém vem ocupar seu lugar, as casas vão morrendo aos poucos, não sei por que razão. Toda casa desocupada pouco a pouco vai desmoronando. Parece que elas se mantêm com a força da vitalidade das pessoas, que ocupam o espaço.
   Eu e minha família moramos num sítio, lá perto de Tabajara por aproximadamente trinta e sete anos. Inicialmente, era uma casa de tábuas, que foi substituída por  outra de tijolos. Esse lugar, que tinha amoreiras, jabuticabeiras, mangueiras, abacateiros, cajueiros, laranjeiras, bananeiras e três imensos bambuzais era a minha pátria, meu refúgio, para onde ia mesmo depois de casada, porque ali eu sonhara os meus melhores sonhos de adolescente. Depois que o lugar deixou de ser da família, fiquei durante anos sem visitá-lo. Anos mais tarde, movidos pelas saudades, junto com alguns familiares fomos rever o lugar. Desolação total... O lugar se transformara em pastagem de gado nelore. O velho poço que nos fornecera água fresca e saborosa durante décadas, fora enterrado.
    Os barracões foram demolidos, e a casa se transformara em abrigo de animais. E morada de morcegos... Não era mais uma residência. Era um curral.
     Para doer menos, fomos ao quintal para ver as árvores frutíferas, que meus pais haviam plantado. Não havia mais limão galego, nem tangerina, nem mexerica, nem laranja baiana, nem bananeiras, nem abacateiros, e nem jabuticabeiras. Muito triste.  Restaram o velho pé de manga coração de boi, um bambuzal apenas, e o velhíssimo pé de guaivira, que fornecera tantos cabos de enxada e machado para as lidas da roça.
    Da tulha e do terreiro de café só havia alguns vestígios... Foi tão triste o retorno que, nos reunimos junto ao velho bambuzal e de mãos dadas, formando uma roda fizemos uma oração por todos, que lá moraram e já partiram... A última imagem que ficou em minha memória, foi de uma vaca com a cabeça pra fora da janela mugindo, chamando seu bezerro... “Estranhos no ninho, invasores” foi o que pensei ao ver os animais lá.
   Sempre achei que a casa que nos acolheu em nossa infância seria sagrada para todos. Mas, nem todos pensam assim. Desfazem-se de suas casas, como se trocassem de roupas... Outros tempos, outros sentimentos.
   As casas guardam lembranças, momentos vividos que nunca mais se repetirão, guardam os risos, os choros, as alegrias de festas de aniversários, os cheiros de comida gostosa que as mães fizeram no capricho.
   Guardam as lembranças de festas, de visitas interessantes, de momentos de paz vivenciados com a família comendo um bolo e, tomando um cafezinho.  Guardam as vozes de todos que por lá passaram, dos vizinhos, do leiteiro, do sorveteiro com seu apito, do guarda noturno, do carteiro... E acima de tudo, a voz dos pais...
     Como um lugar desses pode ser esquecido?

        Mirandópolis, fevereiro de 2014.
        kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/