quarta-feira, 31 de julho de 2013




         O peregrino da paz
    Tanto auê para um Papa tão simples deve tê-lo incomodado bastante. Não deve ser nada fácil ser o Chefe maior da Igreja Católica.
         Mas, a humanidade precisa desses anjos para amenizar o sofrimento de tanta gente, que não encontra consolo em nada. Com o mundo tomado por computadores, as pessoas ficaram individualistas, autossuficientes, mais distantes e frias.
         Em razão da violência que impera no dia a dia, nas ruas e até nas casas, as pessoas camuflam seus sentimentos e se tornam distantes, procurando não se envolver com os desconhecidos que até precisam de ajuda. Num dia desses, vi uma jovem pegando carona na estrada e comentei com meu filho: “Que coragem pegar carona!” E ele me respondeu prontamente: “Coragem é do motorista que lhe deu carona! Sabe lá do que é capaz uma mulher a quem se dá carona!”
         É. O mundo se tornou cruel, desumano, porque ninguém confia em ninguém.
        Mas, no meu tempo de mocidade não era assim. Desconfiança, medo, discriminação eram sentimentos desconhecidos. Ninguém sequestrava crianças nem jovens. As pessoas não portavam armas de fogo. E não existia a maldita da droga, que essa sim, pôs o mundo a se perder de vez. A gente pegava carona, e batia um papo com o motorista e sempre era muito edificante. Quando professora, peguei carona até em caminhão boiadeiro. Nunca ninguém foi atrevido ou agressivo.  Havia uma coisa que se chama confiança mútua, e era a mais valiosa moeda de troca.
         Era uma época boa. Todo mundo confiava em todo mundo. E ninguém tentava passar a perna no outro. Havia respeito.
         Mas, as coisas mudaram, os costumes são outros. As pessoas só pensam no lucro, no proveito. “Dar carona pra quê, se não traz nenhuma vantagem?” E pensamos também na segurança própria:  “E se esse caronista estiver mal intencionado?”  “Vale a pena arriscar?”
       E com essas desculpas, a gente foi ficando cada vez mais desumana, fria, sem solidariedade, sem sentimentos. Ficamos racionais demais.
       E é por isso tudo que, o mundo se espanta de ver a simplicidade do Papa Francisco, que aparentemente não foi atingido ainda por essa frieza, essa indiferença, que é o mal desses tempos.
         Eu pessoalmente não sou fanática pela Igreja nem pelos Papas, pois conheço muitas barbaridades cometidas em nome de Deus, que nem Deus aprovaria. Como dizia José Saramago, Deus está inocente desses crimes cometidos em seu nome. E ele não acreditava na existência de Deus.
         No entanto, o Papa Francisco tem um carisma diferente dos pop stars. Ele não veio para acontecer, aparecer e ser idolatrado pelas multidões. Veio para dar seu testemunho de fé em Deus e na bondade humana. Veio para despertar os bons sentimentos dos brasileiros, que estavam esquecidos, porque os nossos corações estavam tomados pela indignação, pela revolta, pelo ressentimento contra os governantes.
         Já chegou dizendo que não tem ouro nem prata, mas Cristo no coração. Que essas palavras tenham atingido os corações dos nossos gananciosos políticos, que se fingindo de cordeirinhos fizeram tantos salamaleques ao santo homem.
         Não distribuiu bolsas disso e daquilo, mas atraiu multidões que só queriam um olhar, uma palavra, um aperto de mão, como se o simples toque dele curasse todas as mágoas.
         A fala dele que mais me tocou foi sobre os homossexuais. “Se um homossexual procura Deus, quem sou eu para condená-lo?” Isso é sabedoria e humildade. Não agiu como Juiz, mas como uma simples criatura de Deus, não se antepondo a Deus, mesmo sendo considerado representante dele. Que a Igreja do Brasil leve a sério essa frase, porque tenho percebido quantos católicos fervorosos condenam os homossexuais, que nasceram diferentes e nem culpa têm disso. Gostaria de saber, como um pai ou uma mãe que tanto criticam os homos, agiriam se tivessem um filho ou neto assim. Ninguém está isento. Não está na hora de aprender a respeitar os diferentes?
         Mas, o que me deixou feliz é ouvi-lo dizer que quer os padres, os religiosos nas ruas , trabalhando, cuidando dos pobres de Deus. Isso me fez lembrar de Madre Tereza de Calcutá, que essa sim praticou a caridade enquanto viveu. Ela ia às ruas, socorria os feridos de guerra, os mendigos que estavam esfomeados nas calçadas, os aidéticos abandonados. E era uma senhorinha pequena,   magrinha,  mas de uma fortaleza sem igual. Essa foi a religiosa na essência da palavra e deixou exemplos que jamais serão esquecidos.
         Em oposição a tudo isso, não vemos mais os padres e outros religiosos nas ruas. Estão em suas moradias, fechados com seus computadores, usufruindo do conforto e das benesses que sua posição na sociedade proporciona. Mas, padre não está a serviço de Deus? Não é para estar junto do povo que precisa de seus conselhos, de sua orientação?
         Com palavras suaves e doces, o Papa Francisco deu um puxão de orelhas nos padres, cobrando ação, atitudes, trabalho em benefício dos necessitados. Não sei de padres que visitam casas de pobres e necessitados, levando-lhes consolo e bênção como fez o Papa. Será que é tão difícil para os nossos pastores visitar um bairro por semana e conhecer a realidade de suas ovelhas? Uma visita, uma palavra de ânimo seria uma bênção para tanta gente, que leva uma vida dura, sem esperanças...
         Ou será que a missão do padre é só pregar do alto do púlpito e condenar os pecadores? O Papa Francisco deu outra visão da missão de um Apóstolo de Cristo.
         Acho que é preciso repensar tudo isso.

         Mirandópolis, julho de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com

terça-feira, 30 de julho de 2013



          Sapatos e calçados
     Dentre as vestimentas que a humanidade adotou, os sapatos têm seu  lugar de destaque. Eles protegem as extremidades do corpo humano, que suportam todo o peso nas suas locomoções.

         No princípio dos tempos, o homem e a mulher foram lançados ao Paraíso “in natura”, isto é apenas com a pele de seu corpo e os pelos que cobrem algumas partes. Exatamente como os cães e gatos que não usam roupas. Diz a lenda que Adão e Eva, ao cometerem o pecado original, tomaram consciência de sua nudez e foram se cobrir.
         E assim, nasceu a roupa, o abrigo, o agasalho. E com eles, todos os demais complementos: chapéus, sapatos, luvas, lenços, gravatas...
         No começo, folhas de plantas foram usadas mas era necessário algo mais confortável e quente para vencer o frio das cavernas. E aí, alguém teve a ideia de aproveitar a pele dos animais que caçavam para comer, para envolver seu corpo. Durante muitos milênios, o homem se cobriu de peles, por falta de opção. Depois, alguém descobriu a fiação. Aproveitando pelos de animais, surgiram os primeiros tecidos rústicos, que foram sendo aperfeiçoados ao longo dos tempos. Quando descobriram fibras de plantas, a indústria manufatureira deu um salto na produção de tecidos em larga escala.
         E se o corpo carecia de proteção, os pés necessitavam mais ainda, para suportar o peso do corpo, e protegê-los de bichos rastejantes, dos impactos do solo, da quentura da terra, dos espinhos e das pedras dos caminhos.
          E assim, surgiram os sapatos, ou calçados. E por falar em pés, acho que Deus os fez desproporcionais ao corpo do homem. Eles são pequenos demais, para suportarem todo o peso do corpo. Isso fica evidenciado hoje com o número de pessoas que andam desajeitadamente, que arrastam uma ou ambas as pernas, que usam bengalas, cadeiras de rodas e outros aparelhos, porque sentem muitas dores.
         Mas, voltando aos sapatos ou calçados, sua história remonta a mais de 10.000 anos antes de Cristo, no Período Paleolítico, pois foram descobertas evidências de calçados usados nas tumbas dessa época.

         Os primeiros sapatos ou calçados eram de palhas, papiro, fibras vegetais, e eram usados só pela classe dominante, que os enfeitava com ouro. Aos escravos era proibido usar, e isso os incomodava muito, a ponto de se estabelecer um costume entre eles. Quando alforriados, os escravos agora livres compravam um par de sapatos e, como não conseguiam usá-los por falta de costume, os carregavam nos ombros para exibir sua nova condição social. Isso ocorreu até no Brasil.
         Das fibras vegetais ao couro de animais foi um salto, que deu mil possibilidades tanto no conforto, como na confecção e proteção dos pés. Logo surgiram as botas e botinas, cujos saltos foram elevados. Geralmente, os saltos indicavam a posição social superior de seu usuário. Mesmo nas tumbas dos faraós, foram descobertos calçados de saltos.
         Sobre saltos, há umas curiosidades que valem a pena mencionar. As cortesãs japonesas usavam saltos altos, como recurso de sedução. Catarina de Médici no século XVI usava sapatos de saltos para compensar sua altura. E Luís XV também os usou pela mesma razão. E o Imperador Hiroito do Japão foi coroado em 1926, com uma plataforma de 30 centímetros de altura.
         Na China houve um costume bárbaro que não permitia o crescimento dos pés das bailarinas da Corte Imperial. Seus pés eram amarrados para que coubessem nos “sapatos de lótus”, que mediam menos de oito centímetros de comprimento.  As classes altas também adotaram esse costume,  como rito de passagem, que fez muitas  mulheres ficarem com os pés totalmente deformados. Recentemente, assisti a um documentário, em que uma chinesa centenária contou o sofrimento, que era caminhar com os pés metidos nesses pés de lótus. E ela disse que se libertou deles, ao fugir de um ataque a sua aldeia natal por tropas inimigas, durante a última Guerra. E disse do alívio que sentiu, mas os pés da infeliz estavam disformes para sempre, formando uma elipse. Costumes bárbaros, que o homem inventa para subjugar o seu semelhante.
         O costume de padronizar os calçados com números foi adotado em 1642, pela indústria calçadista da Inglaterra. E os números são padronizados atualmente em cada país, de acordo com suas tabelas de tamanhos dos pés. Assim, os números dos calçados brasileiros são diferentes dos americanos, japoneses.

         Sobre a mania de colecionar sapatos é preciso citar a ex-Primeira Dama das Filipinas, Imelda Marcos, que possuiu 3000 pares sandálias e sapatos. E todos de marcas famosas, que custaram seu peso em ouro. Quando esse fato foi descoberto, provocou um frisson no mundo político, pois os filipinos estavam passando fome, vivendo em miséria total, com seus governantes frequentando as altas rodas do Mundo. Ferdinando Marcos foi Ditador durante 21 anos e faleceu aos 72 anos de idade. Imelda, porém faz o povo  filipino cultuar o corpo embalsamado dele ainda hoje como herói nacional. Ela passou por um julgamento acusada de corrupção, mas foi liberada. Seus filhos são políticos atuantes nas Filipinas, atualmente.
         Durante muito tempo, os calçados foram fabricados com couros de animais, especialmente, couro de vaca.  Hoje, porém há sapatos feitos com peles de cobras, de jacarés, de peixes, de avestruzes e até de elefantes e hipopótamos.
          Durante muito tempo, os calçados usados na prática de esportes e para caminhadas eram muito pesados e desconfortáveis. Mas, isso tudo mudou com a vulcanização da borracha. Vulcanizar significa preservar para durar mais. Inicialmente, isso foi feito para melhorar os pneus de automotores. Mas, logo a indústria calçadista passou a fazer solados de borracha vulcanizada, e os  tênis passaram a ser confortáveis e leves. Hoje existem tênis para todos os gostos, e as partes de cima que cobrem os pés passaram a ser feitos de tecidos, que protegem como uma segunda pele.
         Roupas e calçados hoje são indispensáveis no dia a dia da sociedade. Nem sempre foi assim. E a indústria de confecções de roupas e sapatos funciona a todo vapor, servindo a humanidade com suas últimas criações e com os empregos que geram.
         E analisando toda a história da evolução dos costumes e dos calçados, podemos afirmar categoricamente que, somos uma geração privilegiada, que tem à disposição, calçados muito confortáveis ao gosto de cada um.
         E viva o progresso!
         Cadê os meus chinelos?

         Mirandópolis, julho de 2013.
         Kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com


     


Mais uma da Ciranda
    Sexta-feira, dia 26 próximo passado, realizamos mais uma cirandada.
         Como de costume, foi na Chácara do senhor Albertino Prando.
         Como o dia estava frio, o seu Albertino fez uma fogueira, que aqueceu o ambiente.
         Apesar do frio, havia um sol maravilhoso e todos procuravam se aquecer ao sol. Faltaram muitos cirandeiros, por conta do frio. Mas, por outro lado, o frio fez os participantes se movimentarem, brincando de cirandar, e foi muito animado.

         Havia chá de gengibre, chocolate quente e um cafezinho da hora além de diversos salgados e bolos, para aquecer a alma de todos. A alegria era geral.
         Foi aberto um espaço para a Coordenadora do Procon local, Fátima Teixeira de Amorim passar umas orientações aos presentes. O tema versou sobre a defesa dos idosos diante de propostas de empréstimos, que as entidades financeiras oferecem com muita insistência.

         A senhora Fátima falou ainda sobre os direitos dos consumidores, e procurou esclarecer as dúvidas que surgiram. Distribuiu o Código de Proteção e Defesa do Consumidor a todos os presentes. E prometeu ainda enviar mais tarde, a Cartilha do Consumidor.
         A palestra foi muito interessante, com os presentes relatando casos ocorridos, em que as vítimas eram sempre os idosos.
         Após a palestra, foi servido o lanche, além da batata doce assada no braseiro. E todos brincaram de roda, com o seu Albertino tocando músicas do famoso Dominguinhos, que falecera na semana.

         No final, o seu Orlandinho declamou seus poemas e foi muito aplaudido.
         E assim aconteceu mais uma brincadeira da Ciranda, que faz a alegria dos idosos solitários da cidade.

         Mirandópolis, julho de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com




quarta-feira, 17 de julho de 2013

O pagador de promessas



          O Pagador de promessas
        
         Dentre os filmes brasileiros que ficaram famosos no mundo da arte, sem dúvida nenhuma, podemos eleger o Pagador de Promessas.
         Foi escrito por Dias Gomes e dirigido por Anselmo Duarte em 1962, isto é há exatamente 51 anos.

         O tema central é o Sincretismo Religioso, que é comum entre os brasileiros. Os nossos crentes seguem duas a três crenças religiosas, sem nenhum conflito. É estranho, mas há lógica para isso.
         Isso remonta à época do descobrimento com a população nativa adorando os deuses da Natureza: Tupã, deus do Trovão a quem temiam mais que tudo, Coaraci, o deus Sol, Jaci, a deusa Lua, Amanaci, a deusa da Chuva.  
         Os colonizadores europeus trouxeram suas crenças, seus temores num Deus único, representado por Cristo da Igreja de Roma.
          E vieram os africanos, com seu Candomblé, seus orixás, babalaôs, Iansã, Exu, Oxalá...
         E os orientais com a filosofia budista e alguns ensinamentos zens.
         Tudo isso virou uma cultura confusa, cheia de nós, que cada qual passou a adotar livremente. Mas, o mais comum entre a gente simples é a veneração a Nossa Senhora da Aparecida, Padroeira do Brasil, enquanto seguem outras seitas. Há quem cultive a Religião católica, frequentando missa e outras cerimônias e também participando de sessões de Centros Espíritas. Outros são católicos de carteirinha e frequentam terreiros de Candomblé.
         Mesmo os japoneses, que vieram do Japão, trouxeram já como tradição venerar o Deus do Xintoísmo, voltado mais para a Natureza, e o próprio Buda, Deus da Benevolência. E era costume possuir dois altares para esses deuses, que ainda são cultuados entre alguns remanescentes de imigrantes. Isto é sincretismo religioso oficializado e comumente aceito.
         Então, não é de se estranhar que, com tantas variações religiosas, o povo brasileiro acabasse misturando tudo e aceitando o sincretismo, absorvendo apenas as partes ou crenças que o deixassem confortável, em paz.
         Tenho amigas que veneram os santos orientais, e ao mesmo tempo acendem velas para a Senhora Aparecida, a quem dirigem suas preces e seus pedidos mais urgentes.
         Mas, voltando ao filme que ganhou Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1962, o enredo gira em torno de uma promessa. Zé do Burro prometeu a Santa Bárbara/Iansã, que carregaria uma cruz de madeira até a Igreja de Santa Bárbara, se curasse seu burro doente.
         Burro curado, Zé fez a cruz pesada de madeira e junto com Rosinha sua mulher andou sete léguas para pagar a promessa.
         Ao chegar a Salvador, diante da Igreja, ele se confronta com o padre da Igreja que não lhe permite pagar uma promessa feita em terreiro de Candomblé. E a peleja dura dias, com o Zé querendo entrar na igreja com a cruz e o padre obstinado, ameaçando de excomunhão o pobre diabo, que na sua simplicidade, não entende a intransigência do religioso.

         Os dias passam, a multidão curiosa começa a se avolumar nos arredores, chegam jornalistas, a polícia, os Superiores da Igreja para resolver a questão. E chega o dia da Lavagem da Escadaria da Igreja, que após a procissão de Santa Bárbara é feita à moda dos rituais africanos, com as mães de santos vestidas de branco, e jogando água perfumada nos degraus. (Por que então a Igreja/Padre permite isso, que não é um ritual cristão?)
         Se o padre tivesse um tico de tolerância, teria deixado o herói da história cumprir a promessa e tudo teria terminado sem incidentes. Mas... O padre era duro na queda e intransigente, convicto de estar defendendo a “sua” igreja.  E o Zé não queria faltar à promessa, então a peleja parece não ter fim.
         Após a procissão, com a Santa já dentro da Igreja, o Zé tenta acompanhar a multidão, mas é barrado e leva um tiro fatal. Então, os capoeiristas colocam o Zé morto sobre a cruz e ao som dos berimbaus, rompem as grossas portas da igreja e o levam para o interior dela.
         O filme foi muito bem elaborado, com o ator Leonardo Villar e a atriz Glória Menezes nos papéis de Zé e de Rosinha. Dionísio de Azevedo fez o padre. Era em preto e branco, mas o tema é tão atual, apesar de ser uma história contada há meio século. Há muita gente hoje que ainda age como o padre do filme.
         Às vezes, vislumbro alguns meninos no face book colocando mensagens discriminatórias contra outras religiões, contra homossexuais, contra os diferentes. Não entendo como essa gente moderna, que já leu de tudo, que conhece tantas filosofias e tantas teorias, consegue ficar confinado em suas crenças, sem nenhuma abertura para outras. Se Deus não aceitasse os homos, não os criaria. É como renegar um deficiente. Quem tem direito de fazê-lo?  Eles têm culpa de serem assim?

         Acredito de todo o coração que Deus é um só. Que todas as crenças voltadas para algo superior chegam até ele. E nenhuma religião é maior nem mais verdadeira que outras. Quem estabeleceu que esta é a mais verdadeira, que aquela não é de Deus foram os homens, pobres criaturas ignorantes, completamente falíveis.
         Assim como Deus povoou a Terra com criaturas diferentes, humanos de cores diversas, é natural que cada povo tenha descoberto seus caminhos de fé, de esperança, de libertação.
         E se todos aprendessem a respeitar as opções alheias, não haveria conflitos, brigas, discriminações e nem guerras.
         José Saramago me escreveu certa vez que, não acreditava na existência de Deus, mas que respeitava os que assim acreditavam.
        
         Mirandópolis, julho de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com



quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pauta de negociação




Pauta de negociação

         Logo, logo, as consequências irão aparecer. Desabastecimento, paralisação das Indústrias por falta de matéria prima, alimentos se estragando no meio do caminho.
          É a Greve dos caminhoneiros.
         É bom lembrar que o Presidente Salvador Allende perdeu o controle do governo, com a Greve dos Caminhoneiros no Chile. E Allende caiu. Lá, a Greve foi orquestrada pelo Nixon, que queria explorar o bem mais precioso do Chile, o cobre. Allende caiu porque nacionalizou o cobre. Morreu defendendo sua Pátria. Aqui, a meta é outra.
         A Greve aqui está paralisando o país.
         E isso é ruim? Sim! É péssimo!
         Mas, é um mal necessário!
     Para se por um fim a todas as manifestações e à greve dos caminhoneiros, que estão travando o país, é necessário que haja um acordo. Acordo sério e objetivo, que não permita recuos do Governo. Então, há que se estabelecer prioridades!
     É que há tanto que exigir e o momento é este, não depois. Se perderem a chance, vai ser difícil aglutinar tanta gente de tantos lugares, de novo. Então é necessário estabelecer as prioridades.
         Num apanhado geral e rápido, tudo passa pela punição aos envolvidos no Mensalão, incluindo o chefe da quadrilha, pelo cancelamento de Bolsas disso e daquilo, pela perda de mandato de políticos, que comprovadamente desviaram verbas da União. (Que faxina seria, hein?) E, sobretudo pela construção e equipamento de Hospitais, e por um Plano de Educação que realmente melhore a cultura do país.
         Mas é preciso estabelecer prioridades.
         E qual seria a primeira prioridade?
         A Educação.
    O povo não escolarizado será eternamente refém de governantes como essa que aí está. “Sem ela não há bolsa, sem bolsa não dá pra comer” esse é o triste e patético slogan de gente que, vive pendurada nos benefícios, a troco de nada. E assim, vão idolatrando a mulher, que os humilha toda vez que recebem essas migalhas, a que NÃO fizeram jus para receberem.
         Esses benefícios, que o Partido dos Trabalhadores passou a distribuir à mão cheia não são benefícios. É mais adequado chamá-los de Malefícios. Por quê? Porque tiram a dignidade do homem, reduzindo-o a um “João ninguém” que nada produz, a caminho da mendicância oficializada.
        Eles ferem o que de mais precioso tem qualquer cidadão, isto é o seu brio, a sua honra, a sua vergonha, alcunhando-o de incapaz, improdutivo e marginal.
         Tá certo, existe muita gente que precisa de ajuda, porque as circunstâncias da vida a tornaram incapaz e sobreviver é preciso. A essas pessoas é indispensável a Bolsa-ajuda. Hoje, há tanta gente recebendo bolsas indevidamente. Dê uma conferida entre os conhecidos e você ficará pasmo. Bolsa para o jovem ficar jogando bola ao invés de ajudar o pai, que precisa de ajuda na roça... entre outras  dezenas de bolsas.
       Há cinquenta anos, havia uma ajuda do Estado para famílias sem arrimos, e eram destinadas às crianças pequenas. Eu me lembro que, quem fazia a triagem e a distribuição desses pequenos recursos aqui em Mirandópolis era a Doutora Julieta Antonieta Simioni, que era a Cartorária local. Seus beneficiados eram gente muito necessitada, em extrema pobreza.
        Lembro-me também que, famílias de alunos meus, que eram mais pobres que os pobres de hoje, receberam essa ajuda. Mas era uma ajuda irrisória. Dava pra comprar quando muito, o arroz e o feijão de duas semanas para uma família de cinco pessoas. E não existia ainda a tal da cesta básica. Era só essa ajuda. E mais nada.    
      Sei também que, as crianças beneficiadas com esses recursos se tornaram cidadãos de bem, trabalhando e pelejando pela vida, quando se tornaram adolescentes. E trabalharam na roça, capinando, derriçando café, catando algodão. Naquela época não era proibido adolescente trabalhar. Trabalhar era preciso, porque comer era preciso. Os jovens aprendiam a dar conta de si a partir de dez, doze anos de idade. E ninguém morreu por isso.
         Aquela pequena ajuda permitiu encaminhar meninos para profissões honestas, com que passaram a ganhar o seu sustento: tem gente que trabalha no Fórum local, outros se tornaram frentistas, merendeiras, agentes penitenciários, professores e comerciantes. Todos são cidadãos comuns, mas honrados. E não receberam cesta básica, renda-cidadã, bolsa-escola, bolsa-presídio, bolsa- universitária. O valor que receberam foi apenas para mantê-los vivos, que o resto eles fizeram. Estudaram e venceram. Porque não foram feridos em sua dignidade.
          Falando na Doutora Julieta tenho que divulgar uma história linda, que alguém me contou. Ela me disse que todas as manhãs, a Doutora recebia em sua casa, uma porção de crianças pobres para lhes servir o café da manhã. Disse que eram dezenas de crianças, a quem ela tratava com carinho, amenizando sua fome.
         A pessoa que me contou isso já é uma senhora, e trabalha no comércio local e disse que foi umas das beneficiadas. E ela é tão grata à atenção da Doutora Julieta, que me pediu pra contar a história dela em Gente de Fibra. Infelizmente, não tenho referências para pesquisar sobre a vida dessa nobre senhora, que passou por Mirandópolis.
         Por que a Educação é necessária?
       Porque quem estuda é capaz de analisar e entender que o pagamento do Mensalão foi um grande roubo contra a Nação. Que colocou num mesmo caldeirão todos os corruptos do país, os corruptores e os corrompidos. E que todos devem ser punidos.
         Por que a Educação é prioritária?
       Porque quem lê jornais, e ouve os noticiários pode entender que, se há tanta verba revertida em “Bolsas compra votos”, é possível redirecionar essa mesma verba para abrir Frentes de Trabalho, para gerar empregos e tirar os cidadãos desempregados das ruas. Que qualquer cidadão honrado prefere receber um salário, a que fez jus trabalhando, e não recebendo esmolas do Estado.
       Porque quem estuda, lê e analisa os noticiários, pode perceber a situação calamitosa em que mergulhou o país recentemente, com  a violência e a criminalidade crescendo de forma assustadora. Nunca a violência foi tão predominante em nossos noticiários, como nos filmes americanos. Nesses, a violência é imaginária, aqui é dolorosamente real.
         A Educação é prioritária, até para se formar políticos de qualidade, que pensem no bem comum, para a grandeza da Nação. No momento, há mais políticos pensando só em seu beneficio, roubando a própria Pátria, porque não têm sentimentos de patriotismo e muito menos de solidariedade para com os compatriotas.
         A Educação tem que ser prioritária, para formar eleitores conscientes, que saibam distinguir o joio do trigo, e varrer do Congresso a quadrilha que lá se instalou para usufruir de benefícios, a que fizeram partícipes, legislando em causa própria.
         A Educação tem que ser prioritária, para que os eleitores percebam que, votação por maquininhas manipuladas só elegem os bandidos, que fazem parte do esquema da quadrilha que manda no país. Uma perguntinha boba: “Por que nos países desenvolvidos do 1º Mundo, as eleições ainda são feitas na forma tradicional, isto é por escrito, individualmente?”       
         E não me venham dizer que esse partido político é melhor que outro! Todos se tornaram lixos institucionais, desde que começaram com os conchavos, os acordos lá nos bastidores. Querem ver? Façam uma análise dos maiores partidos políticos da atualidade. Todos sem exceção estão mancomunados com o Partido dos Trabalhadores.  É por isso que não cassam os envolvidos no Mensalão.
         Se tivéssemos gente séria em Brasília, gente estudada, educada e bem intencionada, já estaria no maior agito procurando meios de corrigir os estrangulamentos, que estão ocorrendo em relação à Educação, com escolas de péssima qualidade, com professores mal formados, com salários miseráveis e indignos de quem procura formar as futuras gerações.
         Se tivéssemos gente séria em Brasília, veria que é urgentíssimo prover os nossos Hospitais, com o mínimo necessário para continuarem atendendo à população, que lotam os corredores e acabam morrendo sem atendimento, por falta de recursos humanos e materiais.

   Se tivéssemos gente séria em Brasília, veria que os noticiários são a prova viva da realidade brasileira: uma Terra de ninguém, sem lei, sem moral, sem segurança.
       É. Tudo passa pela Educação.
     Enquanto os doutos de Brasília não perceberem isso, o Brasil vai continuar sendo palco dessa terrível tragédia grega...

        Mirandópolis, junho de 2013.          kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com

terça-feira, 9 de julho de 2013

Plebiscito e Referendo



                Plebiscito e Referendo
    Sempre que ouço a palavra “Plebiscito”, volto à minha infância, lá pelos anos cinquenta, em que li um texto de Arthur Azevedo, sobre esse tema. Tenho uma vaga lembrança, mas não tenho certeza, se o livro didático que o continha era “Meninice” de Luiz Gonzaga Fleury.
      No texto, um pai de família se vê incomodado pelo filho, que lhe pergunta o significado da palavra “plebiscito”. Não sabendo a resposta e, querendo preservar sua autoridade diante da família, acaba brigando com a esposa e os filhos e se retira amuado para o quarto. Lá, ele consulta o dicionário e volta à sala, para dar a resposta que todos esperavam.
         O assunto do momento é o tal do plebiscito, que na verdade, a maioria dos nossos eleitores não lhe conhece o significado. A palavrinha já tem provocado muita polêmica e, os doutores das leis estão todos tentando explicar o verdadeiro significado, seguido de exemplos digeríveis. Uns dizem que aprovar o plebiscito é como comprar algo, que não sabe para que serve. E afirmam que o Referendo é melhor.
         Mas, o que vem a ser Plebiscito?
       De acordo com o dicionário, Plebiscito é uma consulta à plebe, ao povo, para decidir se o mesmo quer uma mudança, uma reforma ou uma lei, proposta pelo Governo.
       O último Plebiscito de que participamos foi o de 21 de abril de 1993, em que tivemos a oportunidade de escolher entre as formas de governo Monárquica ou Republicana. E ainda, optamos pela República  Presidencialista e não Parlamentarista.
         E o que é o tal do Referendo?   
       Referendo é uma manifestação da vontade popular, aceitando ou rejeitando uma norma, uma mudança ou uma Lei, que já estão elaboradas e definidas pelos legisladores do país.
       E o último Referendo de que participamos foi o de 23 de outubro de 2005. Era a respeito do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826 de 23/12/2003). No texto redigido havia um artigo que gerou muita polêmica, e o povo foi consultado para decidir se o mesmo deveria fazer parte da Lei.
         Então, o Referendo de 2005 perguntava:
         “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil”?
         A resposta teria que ser SIM ou NÃO.
         E o povo votou contra, alegando que sem armas, ninguém estaria seguro, uma vez que os bandidos sempre têm acesso a elas, mesmo sendo proibido.
         E aí chegamos aos tempos atuais, com todas essas manifestações de insatisfação e revolta contra o Governo. Há mais de um mês, que o país vive um clima de rebelião, de gente nas ruas, de quebra-quebras, ameaças e fogo destruindo obras públicas.
         E tudo isso tem a ver com a Forma de Governo que escolhemos e o artigo da Lei de Desarmamento que rejeitamos. Têm a ver com o Plebiscito e o Referendo que foram realizados.
         Então, pergunto: Votamos errado em ambos os casos?
       No caso do Presidencialismo, o Plebiscito foi uma grande fraude, porque de repente, percebemos que na República tudo é permissível: o Congresso legislando em causa própria, o ex-Presidente Lula  e  a atual Presidenta inventando artimanhas inadmissíveis, para permanecerem no poder. Para isso, envolveram Deputados e Senadores, que envergonharam os eleitores traindo-os, ao aceitarem o Mensalão para fazer o jogo do PT. Um Presidente que compra e um bando de políticos que se deixam comprar. E tudo com o dinheiro da União. E ainda, a história dos Bolsas disso e daquilo, que nada mais é que uma compra descarada de votos, do “toma lá, dá cá”.
       E no caso do Referendo do Desarmamento, acho que erramos, ao permitir o comércio de armas de fogo e munições. Basta assistir ao noticiário. Nunca o país sofreu tanta violência gratuitamente. Crianças baleadas no colo de mães, estupro dentro de ônibus, com todos os passageiros servindo de testemunhas, assaltos e assassinatos todos os dias  em todos os lugares, a tal ponto de não haver nenhum lugar seguro . Os bandidos não se contentam mais em roubar apenas, eles têm que matar, e matar crianças que nem serviriam de testemunhas a posteriori.
         Então, a grande pergunta é: O que pretende a sra. Dilma com o Plebiscito?
       Pelas manifestações da população, até um cego saberia onde está o nó da questão no Brasil. Não temos segurança, não temos hospitais, não temos escolas para educar as novas gerações. Tudo está um verdadeiro caos, onde os profissionais insatisfeitos fingem que trabalham, os alunos fingem que estudam e as escolas aparentam estabilidade. Mas, no âmago da questão, a coisa está fervendo. Professores mal pagos, escolas sem condições, calendários que cumprem o mínimo, porque o futebol é mais importante. Cada vez que a Seleção brasileira joga, a Escola para. Os jovens perdem e ninguém está preocupado em repor o tempo e as lições perdidas. O prejuízo do aluno irá aparecer na hora do Vestibular...
         Até um cego saberia que os hospitais apresentam hoje cenas dantescas do Inferno, onde pessoas morrem sem assistência médica, por falta de profissionais bem preparados, por falta de aparelhagem, por falta de medicamentos, até de categute.
       Até um cego enxergaria que a Polícia do país está desamparada, a ponto de policiais precisarem prestar serviços de segurança particular, nas horas vagas. Nas recentes manifestações, os policiais corretos sofreram, porque tinham que cumprir ordens, apesar de solidários com os manifestantes. Porque a dor desses é a mesma dor deles.
    O governo está tão preocupado em caçar votos que, se esqueceu de investir na Educação, na formação de médicos especializados, esqueceu-se de valorizar as carreiras desses profissionais, que precisam estudar a vida toda, para prestar assistência adequada aos pacientes. E agora, vem com a história de Médicos de Cuba, que todo mundo já sabe que não são cubanos, mas brasileiros privilegiados, filhos de políticos mancomunados com os petistas, que foram estudar por conta do Governo lá nas terras de Fidel. Para serem doutrinados e virem praticar a Medicina com a doutrinação comunista no Brasil. O perigo é muito maior do que supõe o inocente povo brasileiro!
         Acho que realmente, o pior está por vir!
      E é doloroso constatar que, nem podemos confiar nos políticos que elegemos. De repente, eles mudam de Partidos. (Existe na atualidade um Partido Político isento, em que você confiaria de olhos fechados?) Todos, todos estão atrelados uns aos outros e os outros ao Partido dos Trabalhadores, sem exceção, porque o que move essa corja é o Money, mais nada!
         Se realmente ainda existe um político honesto no Congresso é hora de pelejar com a Presidenta, com os mandachuvas, para começar as mudanças agora em relação à Educação, em relação à Saúde, em relação à Segurança Pública. Sem entrar no joguinho dela, que com o Plebiscito só quer colocar a plebe que ganha os benefícios de Bolsas, contra os demais trabalhadores do país. Coloque uns contra outros, dona Dilma e verá um banho de sangue numa guerra civil sem precedentes!
       O Senador Teotônio Vilela que apoiou a Revolução de 1964, que impôs o Regime Militar no Brasil, aos ver os rumos da mesma que tanto defendeu, mudou de posição e pediu perdão ao povo brasileiro pela traição dos governantes militares, que perseguiam e encarceravam todos os que se lhes opunham.
         Será que não mais existem cidadãos de calibre de um Rui Barbosa, de um Ulisses Guimarães, de um Teotônio Vilela?   
         Desventurados brasileiros à mercê da megalomania dos petistas!
         Não precisamos de Plebiscito, Dilma!
         Não precisamos de Referendo, Dilma!
         Precisamos apenas de um governo honesto!

Mirandópolis, julho de 2013.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Colapso Motorizado



                               Colapso motorizado
    
     Ultimamente, a frota de carros e motocicletas na cidade aumentou de forma espantosa.  As ruas estão sempre todas tomadas de carros e as esquinas se transformaram em estacionamentos de motos.
       E se observarmos as casas, podemos constatar que todas elas dispõem de mais de um veículo, além de uma ou mais motos.
         O sonho de qualquer cidadão é possuir uma casa confortável e um carro. Entretanto, o preço do combustível fez que o desejo se estendesse para uma motocicleta também, porque é um veículo mais barato, que ocupa pouco espaço, além de ser rápido e, sobretudo econômico.
            Assim, todas as cidades se empanturraram de motocicletas.
        E cada dia, está ficando mais difícil para o pedestre caminhar pelas ruas. Parece que em breve, não haverá mais espaço para os simples mortais, que andam a pé.
         Há pouco tempo, constatei como o trânsito em São Paulo está caótico. Quando o sinal fecha em certas avenidas, formam-se filas de carros aguardando o verde, por mais de duas quadras. E quando o sinal é liberado, não dá tempo para os últimos passarem, que o sinal fica vermelho. Então se aguarda de novo, e assim, perde-se um tempo interminável nos cruzamentos.
         Ouvi de um motorista de táxi, que há vinte anos vive correndo pelas ruas de São Paulo, que não vai demorar muito para a cidade parar. O excesso de frota nas ruas vai impossibilitar o ir e vir de todos. Tudo irá parar, pois cada dia está aumentando o número de carros nas ruas. E se não houver uma medida definitiva, a cidade entrará em colapso.
       
   Perguntei-lhe então, sobre o Fura-fila, criação de Paulo Maluf para eleger Celso Pita e abandonada após a eleição do mesmo, obra monumental que nunca termina, e que tem o objetivo de tirar os ônibus das ruas para os tornarem aéreos, correndo sobre pistas construídas em elevados. E ele muito experiente, me respondeu que, infelizmente essa obra está chegando com dez anos de atraso. Significa que há dez anos, ela resolveria o estrangulamento do tráfego de São Paulo. Hoje não seria mais solução, apenas um paliativo.
       Ainda ele me chamou a atenção para um fato muito sério, que está ocorrendo nos bairros. Onde há casas antigas, estão chegando as multinacionais e oferecendo importâncias que cobrem de dez a vinte vezes o valor real do terreno. Os donos, geralmente sem muita renda para sobreviver, acabam vendendo e comprando apartamentos para morar.
     
       E aí é que está a perversidade da transação. A casa velha é demolida e a empresa poderosa constrói no local, um prédio de dez andares. Cada andar com dois a quatro apartamentos. E no lugar onde morava apenas uma família, com dois ou três carros, vêm morar dezenas de famílias com seus  duzentos carros ou mais. E esses carros irão todos para a rua, e disputarão vagas nas filas, nos semáforos... E isso está ocorrendo em ritmo acelerado, porque São Paulo passou a ser a Meca de muita gente desse planeta.
         Há uns anos atrás se falava da hora do rush, que congestionava o trânsito. Hoje, o congestionamento ocorre o dia todo em vários pontos, não importa se é hora de rush ou não. Só não ocorrem congestionamentos em dias de feriados e de madrugada. Mas, aí há o perigo dos assaltos...
         Acho que os engenheiros de trânsito  devem estar procurando alternativas, para permitir a circulação regular dos automotores nas ruas. Alternativas que precisam visar os trens, porque transportam tanta gente de uma vez, e a linhas já estão lá. E os metrôs, que cada vez mais estão se expandindo no mundo todo. Mas, no Brasil nada é planejado antecipadamente. Só quando a bomba estoura é que vão procurar as causas e as soluções.
         Já imaginou num dia quentíssimo de verão em São Paulo, ocorrer uma pane no sistema elétrico e o trânsito parar, por falta de semáforos? Bastariam alguns minutos para se formarem congestionamentos quilométricos. Nenhum carro poder se movimentar? Ficar tudo travado? Norte, Sul, Leste, Oeste sem saída?
    Gente gritando histericamente, doentes em ambulâncias precisando de atendimentos urgentes, partos a meio do caminho, dinheiro sendo transportado, presos perigosíssimos em gaiolas a caminho de presídios, gente importante indo para entrevistas no palácio do Governo? Seria o diabo na casa do terço, hein?
         E isso não está longe de acontecer.
     Solução? Reduzir a frota de carros nas ruas. Há que se pensar em outra alternativa, porque mesmo com o rodízio, as ruas continuam superlotadas, e tudo leva a crer que logo, logo o colapso ocorrerá.
          Pedágio reduziria a frota?
        Já imaginou se o colapso do trânsito no Rio ocorrer no Dia da Abertura da Copa de 2013?
         Ou no dia da decisão final da Copa em São Paulo?
         Aí sim, seria o Diabo na casa do terço.



         Mirandópolis, junho de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com