Achados e perdidos
Há aproximadamente um ano que estou no facebook onde encontrei tantos amigos e parentes
queridos, de quem não tinha notícias já
fazia um bocado de tempo. E conheci outros, que me proporcionaram momentos
muito gratificantes de bate papo.
Se houve alegria por conhecer e reencontrar amigos, houve também
momentos desagradáveis por ter sido mal interpretada, e gente que nunca lhes vi
as fuças se achou no direito de me dar lições de moral. Sei perfeitamente que, essas coisas acontecem
porque a rede é muito extensa, e tem gente de todo tipo, como alguns agregados
de parentes e amigos, que a gente não conhece.
Bem, mas isso é outra história, e vamos deixar pra lá.
Percebi que ultimamente, o mural do face se transformou num
quadro de “Achados e Perdidos”, onde se postam fotos de carros, motos e
cachorros perdidos ou roubados que alguém está procurando; ou de tais perdidos,
que alguém está tentando localizar os donos. Quando vejo fotos de cães e gatos
perdidos, me ocorre a ideia de que não foram perdidos, mas foram descartados...
Há uns anos atrás, ocorria muito no Japão um fato parecido:
gente que adotava bichos exóticos como jacarés e cobras, que achavam lindos
quando pequeninos, ao verem-nos enormes e ameaçadores descartavam jogando-os na
rua. E lógico, criava problemas de segurança para os cidadãos. Gente idiota tem no mundo inteiro, até no
primeiro mundo.
Bem, mas animais perdidos e jogados a gente sabe que tem aos
montes. Não é de hoje que isso acontece. Infelizmente.
O que me incomoda muito hoje é o número de crianças e idosos
perdidos, não localizados, que alguém está procurando. De repente, o mural do
facebook virou um quadro de “PROCURA-SE” de Delegacia de Polícia. Mas, os
procurados não são criminosos, são pessoas que sumiram sem deixar rastros, sem
dar adeus, tchau ou até logo. E pelos avisos, parece que os familiares estão
realmente preocupados, procurando-os e pedindo ajuda de alheios. Parece.
Sei que há casos de sequestros e não duvido que, alguns sejam tais
casos, mas o que me incomoda bastante é a estatística que está crescendo dia a
dia. Tem se a impressão que todo dia há alguém sumindo, uma criança, um jovem,
um idoso. E por que tais fatos acontecem?
Descaso? Descuido? Maus tratos? Desorientação mesmo?
Nesta semana, anunciaram o desaparecimento de uma criança de
três aninhos, que sumiu depois que a mãe soltou sua mão na rua... Essa mãe que
me desculpe, mas soltar uma criança de três aninhos na rua é o mesmo que pedir
que, desapareça no meio da multidão. Mãe que é mãe, que pensa na segurança do
filho tem que ser mais cuidadosa, com certeza. Será que as mães de hoje são
diferentes? Não pensam na segurança de seus bebês? Será que nós, as mães de
nossa geração, éramos mais estressadas, preocupadas, com medo de perder os
filhos? Pode até ser, mas nunca perdemos os filhos pequenos, assim
gratuitamente.
E o que dizer de pais e mães que esquecem seus bebês no carro o
dia todo? Que loucura é essa que faz os genitores não se lembrarem, nem por um
segundo durante um dia inteiro, que têm filhos? Que valor têm esses filhos em
suas vidas? Eles ocupam algum espaço na agenda do dia a dia desses pais? Ou são
apenas estorvos? Infelizmente, não dá para tirar boas conclusões... E como será
conviver com o remorso de tê-los sacrificado por causa do trabalho, por outros
“compromissos urgentes e inadiáveis”?
Não queria estar na pele desses pais...
Eu me lembro que, quando trabalhava na Escola Ebe Aurora, havia
um pai que ia todas as noites, buscar suas filhas adolescentes. Ele trabalhava
o dia todo, mas não descuidava das meninas. Podia estar chovendo, ou fazendo um frio
terrível, o homem estava lá de plantão às 23 horas diante da Escola, esperando
as meninas. Elas se tornaram adultas e nunca deram trabalho para a família.
Qual é o pai que hoje se habilita a fazer tais gestos de amor?
É, os tempos mudaram.
Mas, não venham me dizer que a vida nossa era mais tranquila.
Nós, as mães de nossa geração, também demos duro para criar nossos filhos,
trabalhando boa parte do dia, e sendo mães e domésticas em casa. E não havia as comodidades de hoje de um carro à disposição, de um
celular para dar recados esquecidos, para conferir se os filhos estavam bem. Muitas de nós nem dispunham de telefones... Com
dificuldades ou não, conseguimos dar conta do recado sem perder filhos, pais e
avós, pelos caminhos...
O que está acontecendo com a humanidade?
Trabalhar se tornou prioridade? Acima dos filhos, dos pais?
Dizia Madre Teresa de Calcutá que a pior doença é a falta de
amor. Parece que esse sentimento está sendo varrido, para dar lugar à ambição
desmesurada de chegar lá no topo, de ser alguém na vida. E à custa, às vezes da
vida de um filhinho esquecido por horas no carro fechado, no estacionamento.
Tenho dó dos gatos e cães descartados, que procuram seus donos.
Tenho dó dos gatos e cães descartados, que procuram seus donos.
Tenho muito mais de crianças e velhinhos abandonados.
Um dia, o filho que abandonou o pai estará, quem sabe, na lista de “Achados e Perdidos”?
Um dia, o filho que abandonou o pai estará, quem sabe, na lista de “Achados e Perdidos”?
É isso que estão ensinando...
Mirandópolis, março de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com