quarta-feira, 28 de novembro de 2012


            

Cirandando pela 25ª vez

    

Na sexta-feira última, 23 de novembro realizamos o último Encontro de 2012 da Ciranda.
A tarde estava bonita, mas muito, muito quente, o que fez alguns cirandeiros faltarem à festa.
Mas, na Chácara do seu Albertino Prando estava melhor do que na cidade, porque em ambientes abertos no campo, corre mais vento e refresca mais                                                            
Apesar do calor, os amigos foram chegando, trazendo uns refrigerantes e uns salgados, para o lanche da tarde.
A novidade e surpresa do dia foi a presença da senhora dona Severina Alves dos Santos, de 92 aninhos, que compareceu para rever os amigos.
Dona Severina trabalhou no CENE, como servente faxineira durante  trinta e dois anos, e conheceu todos os alunos e professores, que por lá passaram durante esse período.
Todos os ex-alunos e ex-professores fizeram muita festa ao reencontrá-la. Ela se distraiu bastante, relembrando os tempos passados na escola, com os amigos que se encantaram com a sua prodigiosa memória.
Também compareceram as senhoras Júlia Valverde e dona Zorides Carvalho de Oliveira, que gostaram da reunião e prometeram voltar.
A tarde foi de muita cantoria, animada pela sanfona de seu Albertino e o pandeiro do Toninho. Muita conversa, troca de notícias e curtição de saudades.

Foi servido um lanche reforçado, panetone e refrigerante para todos.        
Para finalizar, a Kimie comunicou o falecimento de duas cirandeiras: a dona Maria Menegatti, ocorrida em outubro e a Lourdinha Codonho há duas semanas. Como o grupo é de idosos, essas ocorrências irão acontecendo com o passar do tempo.


Então, o melhor é viver cada dia com alegria, cirandando sempre.
E em 2013 teremos mais, se Deus quiser!

Mirandópolis, novembro de 2012.
Kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”



quinta-feira, 22 de novembro de 2012


     

                    Chocolate

14 de fevereiro, Dia de São Valentim é uma das datas mais comemoradas no Japão, na Coréia do Sul e em Taiwan.
Nesse dia, as mulheres dão chocolates de presente aos namorados.
Isso já virou tradição nesses países, e os homens aguardam os seus pacotes de doces, para comemorarem a relação do casal.
E um mês mais tarde, no White Day, as mulheres recebem presentes dos namorados, em retribuição aos chocolates ganhos. Presentes que, necessariamente não precisam ser chocolates.
Mas, a data de São Valentim mobiliza toda a indústria chocolateira  oriental, para criar os mais doces e belos presentes.
Acredito que não há um presente mais delicioso para se comemorar o dia dos Namorados que o chocolate. O chocolate é doce, e agrada a maioria das pessoas, conseguindo quase a unanimidade no mundo.
Hoje, o chocolate é consumido em todos os cantos do planeta.
Mas, como começou isso?
A grande revolução na indústria confeiteira foi, sem dúvida, a descoberta do cacau.
É do cacau que se extrai o chocolate, que é consumido na atualidade como doce, como bebida, como remédio.                            
Há uma história lendária que explica a aparição do chocolate.
Entre os índios Astecas do México, conta-se que o Deus da Lua Quetzalcóalt roubou dos deuses as sementes do cacau, e as ofereceu de presente aos humanos, para lhes proporcionar energia e prazer. Com as sementes, os astecas fabricaram uma bebida, que era consumida em taças de ouro, em rituais religiosos.
Os índios Maias da América Central também a consumiam como a bebida dos deuses.                                                  
Quando os espanhóis chegaram à América, as sementes de cacau eram usadas como moedas pelos astecas. Serviam para trocar qualquer coisa. Mas, o que impressionou o conquistador espanhol Fernão Cortez foi a bebida de chocolate amargo e apimentado, que o Imperador asteca Montezuma lhe ofertou, pensando que era um Deus, devido à extravagância de suas vestes e por estar montado num cavalo. Cortez percebeu que, o chocolate dava uma vitalidade impressionante aos índios, que nem precisavam de outro alimento para suas jornadas de caçada.
 Então, Cortez levou as sementes para a Espanha, e logo o cacau se espalhou pela Europa.
O botânico sueco Lineu, que viveu há uns 250 anos e consagrou a vida no estudo das plantas, ao conhecer o cacau, deu-lhe o nome de “Theobroma cacao”, ou Maná dos deuses.
No Brasil, o cacaueiro encontrou um ambiente propício para seu desenvolvimento nas terras úmidas do sul da Bahia, onde marcou época com os coronéis do cacau, dos anos 60 a 80. Essa sociedade cacaueira foi descrita magistralmente por Jorge Amado, nos romances “O país do cacau” e “Terras do sem fim”.
O chocolate é extraído da semente do cacau, que é fermentada, torrada e moída. É um pó amargo, a que acrescentaram açúcar e leite e conseguiram assim, transformar radicalmente a indústria doceira no mundo.
E logo, logo, surgiram Casas de Chocolate na Europa, onde a elite se reunia para tomar o chocolate quente e comer o lanche da tarde. As Casas de Chocolate vieram competir com as Casas de Chá e as Casas de Café.
E então, o “tchocolatl” como era denominado entre as civilizações pré-colombianas, virou moda no mundo inteiro, sendo consumido atualmente como doce, creme, pasta, pó, bolo, bebida e até como remédio.
Lembro que, há mais de três décadas atrás, viajando com a família por Minas, os meus filhos, crianças ainda, sofriam muito com as estradas tortuosas nas montanhas mineiras, e nada parava em seus estômagos. Um dia, visitando uma famosa fábrica de chocolates em Vila Velha, Espírito Santo, descobrimos que  o chocolate era o único alimento que os sustentava, e lhes dava resistência contra os enjôos de viagem.  Salvou o nosso passeio.
E dizem que, além de revigorar e dar muita energia, ainda o chocolate é estimulante, e serve como afrodisíaco.
O chocolate já serviu de motivação para filmes famosos, como “A fantástica fábrica de chocolate” – de 1971, que virou cult dos cinéfilos. No Brasil, o chocolate foi tema de novelas, como em “Chocolate com Pimenta”, e das novelas “Gabriela” e “Renascer”, que retrataram a sociedade cacaueira tão poderosa, que marcou época no Brasil há algumas décadas atrás.
O maior produtor de cacau hoje é a Costa do Marfim, na África, que tem na floresta úmida e quente, o ambiente adequado para o desenvolvimento do cacaueiro.                                               
Atualmente, se não existisse chocolate, como seriam feitos os ovos de Páscoa, que fazem a felicidade da criançada? Conheci um garoto tão inocente, que ao se deleitar com um ovo de chocolate, pediu para a mãe lhe comprar a galinha que botava ovos tão deliciosos... E os produtores de alimentos não resistem à tentação de colocar um pouco de chocolate em todos os doces. Até os mestres de confecção de pães usam e abusam do chocolate. E a combinação perfeita foi chocolate com leite, sem dúvida.
Mas, o grande lance foi a invenção de bebidas usando-se chocolate. Álcool e cacau dão um toque especial e caem muito bem.      
Que tal então, saborear uma taça de amarula ou um licor de creme de cacau ?

Mirandópolis, novembro de 2012
Kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Bandeira do Brasil

                              
Bandeira do Brasil,
Ninguém te manchará.
Teu povo varonil                        
isso não consentirá.
Bandeira idolatrada
altiva a tremular,
onde a liberdade
é  mais uma estrela a brilhar.

Esta é parte da canção “Fibra de Herói“, escrita por Teófilo de Barros Filho e musicada por Guerra Peixe em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Foi cantada por Sílvio Caldas e adotada pela Infantaria como seu hino.
Quando professora nos anos 70, ensinei e cantei muito com as crianças nas escolas.
Naqueles tempos duros, parece que o sentimento de brasilidade era outro, as pessoas cultivavam um amor e um respeito pela Pátria com fervor, e o povo tinha muito orgulho de ser brasileiro.
Todos sabiam cantar o Hino Nacional, em postura de respeito, com emoção de verdade. Ninguém cantava o nosso Hino de chapéu na cabeça, sentado, agachado ou mascando chicletes.
 E todos sabiam cantar o “Salve lindo pendão da esperança, Salve símbolo augusto da paz”, que é o Hino em louvor à Bandeira Brasileira. Em desfiles nas datas comemorativas, carregar a Bandeira era uma honra muito disputada pelos estudantes.
  E qualquer brasileiro de minha geração tem na memória, a diferença que fez o verde-amarelo na “Campanha das Diretas já”, com os  jovens de caras pintadas pedindo as eleições, para restabelecer a Democracia roubada pelos militares, que impuseram a Ditadura.
 Foi quando a Bandeira brasileira virou uma marca, um agasalho, circulando aos milhares no meio da multidão, transformando-se num troféu do povo. Foi um tempo de recuperação do sentimento de brasilidade, que todos sentiram na pele. Nunca um movimento político conseguiu unir tantos cidadãos, que foram às ruas, gritar o inconformismo com a situação econômica e política do país. Pobres, ricos, sábios, analfabetos, intelectuais, políticos, religiosos, todos se irmanaram para resgatar o direito ao voto direto. 

A força da Bandeira fez a diferença, porque despertou os brasileiros adormecidos no regime de Ditadura, que mandava e desmandava no país. E o grito de guerra foi: “Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos eleger o Presidente do Brasil”.
O voto direto foi assim recuperado.

Uma década mais tarde, o povo comandado por estudantes secundaristas e universitários saiu às ruas num mesmo movimento, pedindo o Impeachment do Presidente, que desgovernou o Brasil, refém que foi de grupos poderosos, que o haviam apoiado durante a campanha eleitoral.
Novamente, os jovens de caras pintadas de verde-amarelo saíram aos milhares e num uníssono gritaram: “Fora, Collor!”.
         E o Presidente caiu.

        Em várias ocasiões, tivemos momentos de pura emoção, quando Ayrton Senna, o eterno ídolo da Fórmula 1 carregava a Bandeira brasileira na volta triunfal, nas pistas de tantos autódromos  do mundo. E isso, não foi uma vez apenas, foram dezenas de vezes, que levaram o povo brasileiro ao delírio. Tanto é que ele, mesmo após 18 anos de falecido, ainda tem fã-clube em vários países. 
                                     
         Também o Guga foi responsável pelo despertar de patriotismo em nossos corações, quando vencia as partidas de tênis, em famosas quadras internacionais. Muitas alegrias nos proporcionou esse tenista gaúcho.
        
         Nosso futebol fazendo bonito nas Copas do Mundo, o basquete nos Jogos Pan-americanos, o judô nas Olimpíadas foram outros momentos de glória, onde o pendão verde-amarelo esteve sempre tremulando e, enchendo nossos corações de orgulho.
        E nesse dia 19 de novembro de 2012, fico matutando aqui comigo, se não será necessário mais um movimento semelhante, para despertar consciências, e resolver de vez a questão do mensalão.
         Exigindo a devolução de tudo que os corruptos políticos roubaram.
E cadeia pra eles!

Mirandópolis, 19 de novembro de 2012.
kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


Um Domingo Em Mirandópolis
          Sete horas da manhã. Os sinos repicam chamando para a missa. Os garotos se divertem na torre da igreja, pois as cordas presas aos sinos os elevam e abaixam. As famílias saem de suas casas, vestidas com suas melhores roupas. É um acontecimento  mais social que religioso.
 A igreja fica lotada, Mirandópolis em peso está presente. O burburinho dos cumprimentos vai cessando. O padre já está à frente do altar: Padre Epifânio Ibãnez, espanhol, bravo, verdadeiro sargentão.  Tenho certeza que o Diabo sempre passou longe daquela paróquia. Sidnei e Milton Crevelaro coroinhas, imaginem só. Se uma criança chora, Padre Epifânio interrompe a missa e, sem nenhuma sutileza, com aquele sotaque forte do espanhol,  pede para que a mãe saia e vá embalar a criança lá fora.  Se percebe alguma mulher com uma blusa sem manga, manda-a para casa, se vestir, pois a Igreja não aceita pessoas nuas.   Missa demorada, sermão longo... E a gente querendo sair logo para o futebol na rua São João.
          Hora do almoço, a cidade fica deserta. Ouve-se o bater das louças, o tilintar dos copos, as conversas, os risos. As famílias estão  reunidas em casa, para a tradicional macarronada. Nada de comer em restaurante... Nem existia, só pensão para os viajantes. Nada de comida por quilo, churrasco então, só nos casamentos. Em uma ou  outra casa um radinho ligado, o latido dos cães, um irmão xingando o outro porque pegou seu bife.
          Duas horas da tarde, hora da matinê, no cine São Jorge, de propriedade do Jorge Nametala Nars e depois de João Ferratone. Onde trabalhei como varredor, espanador das 930 cadeiras, lavador dos banheiros e carregador das placas que ficavam nas esquinas das ruas com o nome dos filmes do dia, isto quando também não tinha de ir buscar os rolos de filmes que vinham de trem. O gerente era Pedro Romero, filho do senhor Romero do carroção de lixo, outro espanhol, casca grossa... Gente, será que... Bom deixa prá lá... O Kaká foi bem recebido. Ele ia pelos corredores, passando os dedos nas cadeiras para ver se tinham sido espanadas. Mal sabia que eu só espanava as cadeiras dos corredores...
          Enquanto não se iniciava a sessão do cinema, tocando a música que falava: como os pobres de Paris, que era o que chamávamos de prefixo, os meninos, na porta do cinema, trocavam gibis: Zorro, Tarzan, Mandrake, Pato Donald,  capitão Marvel, Super Homem, Capitão América, Fantasma.... Um Almanaque valia quatro gibis simples. Também jogavam “bafo” e trocavam figurinhas de futebol. As carimbadas eram:  Baltazar, Luizinho, Leônidas, Oberdã, Gilmar, Canhoteiro... E  valiam três ou quatro das outras.
Como havia engraxates... Também pudera, só  se usava  “kedis” para fazer Educação Física. Hoje se usa tênis até de terno. Além do sapato calçavam-se botinões e botas de cano longo, os mais pobres usavam alpargatas Rodas, o popular “pé de cachorro”.   Às vezes surgia uma briga aqui, outra acolá que não eram apartadas, eram incentivadas pelos outros meninos. Xingar de FDP podia, mas chamar de Xibungo era comprar briga na certa. E agora, eles têm até passeata na Paulista... Vai entender.
          Os filmes da matinê eram quase sempre de índios ou comédias com Jerry Lewis. Quando a cavalaria ou o “mocinho” aparecia, o cinema virava um pandemônio, eram gritos, palmas e uma bateção de pés no chão que se ouvia lá de fora, na rua.   Após o filme tinha o seriado, que era apresentado em capítulos, todo domingo. Os seriados  mais famosos foram os do Zorro, do Tarzan e do Fu-Manchu. Terminada a matinê, eu tinha de varrer rapidamente o cinema, porque no domingo tinha sessão dupla à noite, principalmente se era filme do Mazzaropi. O Silvio  Tavares e o Alcides Espirito Santo me ajudavam.
          Já adolescente, jogando no time do Paulistinha, ficava sentado na grama do jardim, em frente ao cinema e ao bar Kibon, juntamente com outros jogadores, vendo esta movimentação da qual já tinha participado, e esperando a hora de descermos para o estádio. 
 Num determinado domingo, estávamos lá, “moscando”, como se costumava dizer:  eu, Moacir Inforzato, Pim, Nata, Josué Bucheiro, Bisteca, Zé Martins, Didier, Cabinho, Paraguaizinho, Gambá, Xepa, Toco, entre outros, quando vimos o Vardo Cascudo e o Zé Antonio virarem a esquina, vindos da Rua São João e se dirigirem para o cinema. A sessão já havia sido iniciada. Eles passaram direto pela frente do cinema, e foram para um terreno vazio, que ficava entre o bar Kibon e a lateral do cinema, os banheiros. Sabíamos o que ia acontecer, já tínhamos presenciado muitos garotos entrarem pelos vitrôs dos banheiros para assistirem aos filmes. Éramos cúmplices, nunca falamos nada.

          O Vardo Cascudo foi o primeiro, passou e pulou para dentro. O Zé Antonio passou as pernas, o corpo, e a cabeça ficou presa. Nem pra frente, nem pra trás. O Vardo puxava, e nada.  Não agüentamos... Começamos a rir, a gritar, a vaiar, a fazer a maior algazarra. Pessoas dos outros cantos da praça vieram ver o motivo da bagunça. E o Zé Antonio esperneando, o Vardo voltou, puxava agora pela cabeça e, nada. E nós de cúmplices passamos a delatores, pois o senhor João Ferratone, ao ouvir aquele barulho todo, saiu para ver o que acontecia. Foi até ao vitrô, ele era grande, forte, puxou e “desenroscou” a cabeça do Zé. Tirou-o, deu-lhe um cascudo e,  tanto o Vardo quanto o Zé saíram correndo debaixo de vaias e gargalhadas. 
          Descemos para o estádio, rindo, comentando, tínhamos ganho o Domingo. À noite, voltaríamos ao cinema para assistir “Casinha Pequenina”, com Mazzaropi.
         Ademar Bispo

Finados



Nós, os vivos, temos o hábito de cultuar os mortos da família, desde os primórdios dos tempos.
É um costume que vem de gerações e gerações, e tem a ver com o lado espiritual dos humanos. Porque os animais não têm esse costume.
Ao longo da História, a humanidade construiu templos, sinagogas, pagodes para realizar esses cultos de forma mais organizada e contínua.
Mesmo as tribos que vivem no oco das florestas têm esse hábito. De alguma forma, elas reverenciam os antepassados, às vezes em forma de totens, de máscaras, de cerimônias e rituais religiosos, que compreendem danças e cânticos...
No mundo atual, nós comparecemos ao cemitério, levando flores, velas e incensos. E acho que esse costume não desaparecerá, mesmo com todo o avanço da civilização. É que a morte é um enigma difícil de entender e desvendar, e mexe com a nossa inteligência e com a nossa alma.
A celebração para os mortos, que mais se evidencia no mundo de hoje, acho que é El Dia de Los Muertos do México, um festival de origem indígena, considerado Obra Maestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade, pela Unesco.
O que mais se destaca nessa celebração é o sentido dado aos mortos, que são tratados como vivos, e é uma festa alegre, com peças teatrais e canções populares, para saudar a todos os finados. As lojas são enfeitadas com manequins de caveiras vestidas e ornamentadas, doces são fabricados em formas de crânios e colocados sobre as lápides, onde repousam os mortos. A crença popular é que nesse dia, os mortos têm autorização para visitar os familiares que deixaram na Terra. Por isso são recebidos com muita festa, muita alegria que se manifesta em danças, cânticos, mesa farta, doces e enfeites nas casas.

Muitos desses costumes foram copiados e adotados por povos de diversas partes do mundo, especialmente na Europa.
No Japão, o Bom Odori (dança para os mortos) que no Brasil virou sinônimo de festa, é uma manifestação popular de origem budista, para dar as boas vindas aos espíritos dos mortos, que têm três dias ao ano para revisitar os vivos.
  No Obon, é tradição nas cidades do Japão, as famílias irem ao cemitério, limpar os túmulos e fazer oferendas de flores, frutas e bolinhos de arroz, além de orações, velas e incensos. Monges realizam cerimônias especiais nos templos, em memória dos mortos.
 Este costume está bem arraigado nas famílias, que passam parte do tempo preparando as cerimônias para os antepassados, em dias que antecedem a data.  Durante esse período, que é um dos grandes feriados no país inteiro, as pessoas retornam aos seus vilarejos, para fazerem essa visita aos túmulos de seus ancestrais, e aproveitam para rever os parentes que ficaram no lugar. 
E na ultima noite, existe uma cerimônia muito bonita com danças alegres, “odori”, que ocorre nas ruas. As músicas tradicionais mais conhecidas são cantadas ao som do “taikô” ou tambor e de flautas de bambu, ou “shakuhachi”. Tudo é muito festivo, porque é uma homenagem às pessoas que já partiram desse mundo, que já cumpriram o seu destino, a sua missão.
E para finalizar as cerimônias, há uma sessão de orações, e o lançamento de velas em barquinhas de papel nas águas dos rios, para iluminar os caminhos dos visitantes, em sua volta para o mundo dos mortos.
Muitas dessas tradições foram trazidas pelos imigrantes japoneses ao Brasil. O que mais intrigou os brasileiros é a oferenda de comida (frutas, doces, arroz cozido e água) que os japoneses faziam sobre os túmulos de seus mortos. Esse costume remonta aos primórdios dos tempos, quando o país passou por terríveis crises, e incontáveis nipônicos morreram de fome. De fome mesmo, por falta de arroz, literalmente.
Se os brasileiros estranharam essa tradição japonesa, mais deve se estranhar o que ocorre à porta dos cemitérios, hoje em dia. O espaço diante dos portões, que conduzem ao campo santo, foi totalmente ocupado por uma feira a céu aberto.
 Ali são vendidas além de flores e velas, que são apropriadas para o momento, sorvetes, refrigerantes, talhadas de melancias, e outros que tais. Toda vez que vejo essa cena de ambulantes à porta dos campos santos, me vem à lembrança a cena de Jesus expulsando os vendilhões do Templo.
Lembro também que, o local já foi usado por candidatos políticos para  suas campanhas, oferecendo água aos romeiros. Se não era campanha política, por que não continuaram ofertando água de graça aos visitantes, nos anos subseqüentes?
E olhem que fez um calor danado nesse Finados, e uma água  mineral geladinha ia calhar bem...
Mas, não houve 2º Turno dessa vez...

Mirandópolis, novembro de 2012.
kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”




terça-feira, 13 de novembro de 2012


Gente de fibra - Takeshi Kido



Takeshi Kido é um popular Cirurgião Dentista, que durante décadas cuidou dos dentes da comunidade mirandopolense.
É de origem nipônica, mas é brasileiro. Nasceu em 1937, no Bairro Km 50 que foi o berço da cidade de Mirandópolis.
Naquela época, o Bairro do Km 50 era uma pequena cidade no meio da floresta, fundada pelo Senador Rodolfo Miranda, que pretendia instalar uma metrópole na região, para concorrer com a cidade de Araçatuba. Embora pequena, era uma cidade com serrarias, hotéis, farmácias, restaurantes, bares,  máquinas de beneficiar arroz e café, escolas, igrejas, armazéns de secos e molhados... e crescia a olhos vistos.
O sonho do Senador não se concretizou, porque a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil que veio ligar Bauru ao Estado de Mato Grosso, não passou pelo Km 50  e instalou a Estação Ferroviária aqui  onde está até hoje, com o nome de Mirandópolis.
O Senador havia nomeado a nova cidade do Km 50 de Mirandópolis, mas o nome não pegou, pois todos a chamavam de Km 50. E com os trens passando aqui em Mirandópolis, transportando de forma rápida e prática  além de pessoas, até animais, cereais e maquinários, a população de lá acabou se transferindo para cá, mudando de vez a sede da cidade.
A família de Takeshi Kido, que possuía uma Selaria e Sapataria no Km 50, também para cá se mudou, juntamente com todos os imigrantes japoneses, que lá moravam. Seu pai continuou no mesmo ramo de Selaria e Sapataria, para criar os sete filhos, dos quais uma era japonesa, pois nascera no Japão.
Naquela época, os nipônicos que vieram do Japão se organizavam em associações, para não perderem o contato uns com outros. Assim, formaram-se grupos de senhoras, “Fujin-kai”; dos jovens “Seinen-kai”; dos representantes das famílias, os “Nihonjin-kai”. E essas associações cuidavam dos estudos das crianças e jovens, com o objetivo fundamental de conservarem as tradições lá da pátria distante, ensinando-lhes a língua japonesa, os costumes, os cultos e a parte recreativa. No que concerne aos esportes, o forte era o beisebol, que era praticado com muito entusiasmo pelos jovens e adultos de todas as aglomerações de japoneses no Brasil. Assim, havia competições de grupos de cidades vizinhas, de regiões, de Estado e até campeonato brasileiro.
Nessa época, aqui estavam estabelecidas as famílias japonesas dos Amikura, dos Anze, dos Hombo, dos Ijichi, dos Kawasaki, dos Kawata, dos  Koike, dos Kojima, dos Miike, dos Mizukami, dos Mochida, dos Motomiya, dos Nagata, dos Sadano, dos Sato, dos Suguisaka, dos Tanaka, dos Tanikawa, dos Takayanagui, dos Tonossu, dos Yanagui e outras dezenas de agricultores como os Ariki, os Nakano, os Miguita, os Inoue, os Sumita, os Fujikawa, os Miyamaru, os Sassaki, os Shiota ... Grande parte delas se instalou com suas casas comerciais na Avenida Internacional , hoje  Avenida Rafael Pereira.
Anos mais tarde, a maioria dessas famílias acabou deixando a cidade, em busca de trabalho e escolas para estudar seus filhos. Aqui restaram alguns remanescentes desses primeiros japoneses, que acabaram se miscigenando com os brasileiros.
Como não podia deixar de ser, Takeshi também foi educado nos  moldes do sistema japonês, que ensinava a postura correta diante da sociedade e o amor ao trabalho. Assim, frequentou a escolinha japonesa, jogou muitas partidas de beisebol e pertenceu às associações da época. Entretanto, como sua vida era dividida entre Sorocaba e Mirandópolis, nunca assumiu a Direção do Clube Nipo, no que foi cobrado muitas vezes pelos companheiros.
Takeshi fez os estudos iniciais aqui e foi da primeira turma de formandos do Ginásio Estadual, em 1953.  Foi aluno dentre outros renomados mestres, que marcaram época na História de Mirandópolis, do Professor Júlio Mazzei, de Educação Física, que se tornaria famoso como  Preparador Físico do Palmeiras e do Santos; e que levaria o Pelé para o Cosmos de Nova Iorque, que congregou os jogadores mais famosos do mundo. Dessa fase, Takeshi se lembra que o Prof. Mazzei gostava de beisebol e participava de algumas partidas com os jovens alunos, no campo do antigo Clube Nipo.
Seus colegas de Ginásio foram o Natsumeda, o Kamada, o Kazuo Kawamoto, o Toshio Suguisaka, Keitaro Mizukami, Shinzo Amino, Kunitaka Shimoda, Aiko Morita, Akiko Kanazawa, Naoko Suguisaka e Miyuki Mochida.
Como não havia Colégio no local, Takeshi foi enviado a Sorocaba, onde concluiria o Curso Científico em 1956. Em 1957, ingressou na Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara. Ao concluir a Faculdade, fez Estágio de Cirurgia Hospitalar na Santa Casa de São Paulo, no Departamento de Odontologia, com o Professor de Cirurgia Bucal, Doutor Mário Grazziani. Com esse Professor, o jovem Kido aprendeu muito sobre os procedimentos cirúrgicos, que viriam ajudá-lo no exercício de sua profissão.
Após a formatura, Kido abriu o seu consultório em 1961, à Rua Armando Sales de Oliveira, numa sala alugada no prédio pertencente ao senhor Mário Koike.
Naquela época, os dentistas estabelecidos na praça eram: Dr. Alcides Falleiros, Dr. Rubens Conrado, Dr. Elzio Bizarri, primo dos Ramires, e Dr. Lago. Havia trabalho para todos, porque a cidade estava em pleno desenvolvimento.
Os pais de Takeshi também se instalaram na Avenida Internacional, que era a principal rua do comércio. Em 1962, Takeshi casou-se com a senhorita Haiko Miura, que nasceu em Paraguaçu Paulista. Eles se conheceram quando estudavam em Sorocaba. Dessa união, tiveram uma filha, que seguiu a carreira do pai, tornando-se Ortodontista também.
Como o Dr. Kido era especializado em Cirurgia Bucal, os demais profissionais lhe encaminhavam todos os casos, que requeriam maiores cuidados. E assim, o seu trabalho se desenvolveu rapidamente. Teve clientes famosos como o Dr. Osvaldo Brandi Faria, os Godoy, Dr. Yoshito Kanzawa.
Seu sucesso foi rápido e em 1964, construiu a atual clínica que possui, mas que está desativada, em virtude de recente aposentadoria.
Como o Dr. Kido pretendia se especializar em Correção Dentária, com a anuência da esposa Haiko, fez o Curso de Especialização em Lins durante dois anos e meio. O curso de Técnica BEGG de Correção Dentária era aos sábados, e para estimulá-lo, a esposa e a filha o acompanhavam. Enquanto ele estudava, elas ficavam no hotel. Foram anos de muito sacrifício, de cansaço, porque a Marechal Rondon era de pista única e as viagens eram demoradas.
Quando concluiu o Curso em Lins, ele frequentou  por mais dois anos e meio,  o Curso de Correção Dentária da Técnica Edwise, ministrado por um Professor australiano, em Bauru. Já nessa altura, ele ia sozinho, mas era muito cansativo, porque trabalhava a semana inteira, e muitas vezes fazia serão até de madrugada, sempre com a ajuda inestimável da companheira Haiko.
Com o passar dos tempos, Dr. Kido percebeu a importância da incrustação fundida, que era mais segura e duradoura. Esse tipo de restauração dentária era feito nos dentes posteriores, quando havia muito desgaste, fraturas e ou grandes cáries. Incrustação dentária era uma restauração do dente lesionado, embutindo-se peças confeccionadas com ligas de  prata ou ouro, para recompor a parte que faltava. Essas peças eram cimentadas no dente, e tinham vida mais longa que as restaurações por amálgama. Atualmente, essas incrustações podem ser feitas com resina e porcelana.
Como os laboratórios demoravam na entrega dessas incrustações, Dr. Kido resolveu ele mesmo, confeccioná-las. Para isso, comprou o material, aprendeu a técnica e produziu as peças que eram colocadas nos dentes dos clientes. Chegou a fazer mais de trezentas incrustações por ano, que era um número espantoso. E isso por mais de dez anos seguidos, trabalhando além do expediente, sempre com a competente colaboração da esposa Haiko. A dificuldade do trabalho se concentrava nos diferentes tamanhos  e formas das peças, devido às características dos dentes de cada cliente.
Além de tudo isso, Dr. Kido foi convidado a dar aulas no Ginásio, porque era necessário um corpo docente habilitado para se instalar o Curso Científico e o Clássico. Atendendo a um pedido do Dr. Neif Mustafa, então Secretário do Colégio Noêmia Dias Perotti, deu aulas de Biologia por uns dois anos. Diz que foram anos duros, porque trabalhava o tempo todo e à noite ainda tinha o compromisso de ministrar aulas aos jovens do Colégio. Até nisso, a esposa Haiko foi a secretária perfeita, anotando os tópicos dos assuntos, que deveriam ser abordados pelo Professor Kido nas aulas...
Além disso, ainda se envolveu com a política local, tornando-se Vereador por uma legislatura, na gestão do então Prefeito Dr. Jorge Maluly Neto, de 1963 a 1966.
E tudo isso, trabalhando de oito a dez horas por dia para atender à clientela. Durante mais de trinta anos, deu assistência à Comunidade Yuba, que pagava os serviços mais em espécie, porque as dificuldades financeiras eram muito grandes. A Comunidade agradecida lhe envia até hoje, frutas e verduras  quase semanalmente. Essa prática se chama "ongaeshi" em japonês, que é um agradecimento  para sempre.
Durante 25 anos, Dr. Kido viajou de Mirandópolis a Sorocaba e vice-versa, porque sua agenda de atendimento era de duas semanas ao mês em Mirandópolis, e duas semanas em Sorocaba.
Em 1987, aposentou-se pelo INSS.
Continuou trabalhando para atender a clientela de longa data, mas problemas de saúde o forçaram a parar. Aos poucos, foi reduzindo o ritmo de trabalho e em 2011, deixou de vez a Clínica. Tem saudades, porém, do serviço de dentista...
Hoje só cuida do gado, que possui numa fazendinha. Faz Inseminação Artificial de Tempo Fixo, sendo o Dr. Kido e o senhor Itio Nakano, os pioneiros dessa técnica em Mirandópolis.
A Inseminação Artificial por Tempo Fixo tem como ponto fundamental a padronização do cio e do parto, e é possível obter sucesso em 55% dos casos inseminados. Em conseqüência, padronizam-se os lotes de gado de corte.  Há sete anos, Dr. Kido está praticando essa modalidade de inseminação, que requer observação, muito treinamento e trabalho. Ele aplica em animais da qualidade “Aberdeen-Angus”, que é um gado escocês e nas fêmeas Mestiças Angus, fertilizando-as com o sêmen do gado “Wagyu”, de raça japonesa.
O gado Wagyu é conhecido internacionalmente como o produtor de carne mais macia e suculenta. E pelos cuidados e tratamento dispensados a esse gado no Japão, produz-se o Kobe beef, que é considerada a carne mais cara do mundo, pela excelência do sabor e da qualidade.
Dr. Takeshi Kido que foi um verdadeiro artesão, e passou horas intermináveis no seu mini-laboratório, construindo pequenas peças que devolveriam a saúde bucal e o sorriso de seus clientes, passa agora a cuidar de produzir gado, que forneça carne de qualidade superior aos consumidores.
Dr. Takeshi Kido, que sempre procurou a perfeição em tudo que realizou em sua vida, seja na profissão, seja nos estudos e em outras jornadas, é sem dúvida alguma, Gente de Fibra!

Mirandópolis, novembro de 2012.
Kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

Legenda das fotos:


1.     Dr. Takeshi  Kido em seu gabinete
2.     Bairro Km 50 em 1936
3.     Avenida Rafael Pereira em 1947
4.     Formatura do Ginásio e amigos
5.     Certificado da Faculdade de Odontologia de Araraquara
6.     Time de beisebol dos Old Boys e torcida
7.     Família Kido (pais, irmãos, cunhados e sobrinhos)
8.     Espadas japonesas
9.     Takeshi e Haiko (meio século juntos!)