quarta-feira, 30 de maio de 2012



Gente de fibra
RAIMUNDO BEZERRA DE SOUZA
  
      Gente de fibra de hoje é um pernambucano
 de 92 anos de idade, natural de Granito, cuja Padroeira é  Nossa Senhora do Bom Conselho. 
   É  o senhor Raimundo Bezerra de Souza.
   Seu pai era paraibano e sua mãe pernambucana, e era gente que lidava com gado, lá nas terras de Pernambuco. E assim, o menino Raimundo nem teve tempo para ir à escola, pois tinha que cuidar dos bezerros 
do rebanho do pai.

   Na década de 40, seu Raimundo conheceu a senhorita Maura Cunha, de uma família que lidava com a lavoura de milho, cana de açúcar e arroz, lá em Rancharia, Pernambuco. Casaram-se e tiveram dez filhos, dentre os quais há um Administrador de Fazenda, um Peão que lida com gado, um Médico, um Agente de Penitenciária, um Advogado, um Contabilista e uma Professora. Havia mais uma Professora, mas infelizmente faleceu há 18 anos, vítima de grave doença. Houve também mais duas crianças, que faleceram quando muito novas.

    Em 1946, seu Raimundo e a família vieram de mudança para Guaraçaí, para trabalhar na lavoura, mas não deu certo. E por quase quinze anos, lidou com gado para o Açougue do seu Bianor, em Guaraçaí. Em 1949 vieram para Mirandópolis.  Nesse tempo, curou feridas de animais doentes, ajudou nos partos, vacinou, separou bezerros, conduziu boiadas de um lugar para outro. Dali, veio para a Fazenda dos Perez, e trabalhou no açougue, cortando os quartos de bois para servir a clientela.
    Trabalhou também no Açougue de Cláudio Martins, na Rua Gentil Moreira, ao lado do Bar do Asman.
    Nessa época, o povo comprava carnes em açougues, porque não havia os mercados atuais, onde se vende toda a variedade de carnes. E os Irmãos Antonio e Joaquim Pereira dos Santos tinham três ou quatro açougues na cidade. Os estabelecimentos se localizavam na Rafael Pereira, na Domingos de Souza e na atual Gentil Moreira.
    Seu Raimundo trabalhou nesses açougues e, somando todo o tempo dedicado ao serviço de peão e de açougueiro, cumpriu 35 anos no total. Aprendeu tudo sobre o ofício, sobre carnes de animais e também sobre os animais.     
    Ele conhece todas as variedades de carnes dos bois: filé mignon, contra-filé, alcatra, patinho, coxão duro, coxão mole, fraldinha, paleta, lagarto, e as reconhece mesmo depois de assadas. Ninguém consegue enganá-lo nas compras, trocando uma espécie por outra.
    Às vezes, levava uma boiada de um lugar para outro.
    Um dia, o senhor Shimoda lhe pediu que, levasse uma boiada de setecentas cabeças, saindo de Guaraçaí com destino a Córrego Azul ou Monte Azul, ele não se lembra direito, perto de Minas Gerais. Ele e mais quatro peões levaram a boiada, e só chegaram ao destino depois de quatro dias de viagem. As estradas eram muito estreitas e de terra batida, e quando duas boiadas se cruzavam, a menor tinha que ceder o caminho para a maior, mesmo que a diferença fosse de apenas uma cabeça. Era lei das comitivas.
    Como a viagem era demorada, havia naqueles tempos, pousadas para o pernoite das boiadas e para seus condutores. Chegava-se ao local e, efetuava-se a contagem das cabeças de gado, para colocá-lo no pasto. Na saída, contava-se novamente para conferir e pagar o aluguel do pasto. Seu Raimundo disse que, antes ninguém conferia, pois se acreditava na palavra dada, mas houve desentendimentos por conta de gente desonesta, que não queria pagar o que devia de fato. E assim, foi adotado esse sistema de contar cabeça por cabeça, para sanar dúvidas.
   Para os peões também havia lugar para descansar e fazer a bóia. Havendo espaços, armava-se a rede e ali mesmo descansava. Outras vezes, tinha que se deitar no chão sobre os pelegos usados nas montarias, e dormir enrodilhado nas capas.
    Nessas paradas, qualquer peão funcionava como cozinheiro, e o cardápio consistia de arroz, feijão, charque ou linguiça e farofa, invariavelmente. E muita água. Não se levava bebida alcoólica.
    Numa boiada, havia sempre o Ponteiro, que ia à frente, tocando o berrante, dando os avisos necessários. Seu Raimundo era o Berranteiro que ia à frente da comitiva. Atrás iam os Culatreiros, que não deixavam os bois se dispersarem. Geralmente, na frente ia o boi Sinceiro, com um sininho pendurado no pescoço, para conduzir os demais.
    Seu Raimundo com 92 anos tem um fôlego de dar inveja em qualquer jovem, pois toca o berrante, como se estivesse soprando uma cornetinha. E ele me explicou os diferentes toques: Na hora da Saída há um toque, convocando todos os peões e os animais para começarem a caminhada; outro toque para Acelerar; outro para Perigo à vista; outro para não Trotear ou andar mais devagar nas descidas das encostas; e outro para Parar. São toques bem diversificados, um tipo de código de comunicação, que os peões calejados no ofício reconheciam facilmente e atendiam de imediato.
   Como nunca imaginei que o berrante possibilitasse essas diversificações, fiquei fascinada, ouvindo o seu Raimundo tocar. Disse-me que o berrante é uma coisa preciosa para ele. Já teve convites para tocar em Festas de Peão, mas não se interessou.
   Hoje, seu Raimundo está aposentado, e repito com 92 anos de idade, mas vai ao sítio e à fazenda da família, volta e meia. E lá, cura um bezerro, ajuda a vacinar o gado... Tem paixão pelos animais, e não gosta que os maltratem. Nunca bateu nos animais rebeldes. Nunca usou o chuço para aguilhoá-los, mas uma varinha verde com folhas nas pontas. É terminantemente contra shows, em que os peões maltratam os animais. Diz que estes devem ser respeitados.
    Dona Maura diz que, a maior dor de sua vida foi a perda de sua filha mais velha, a professora Riseuva


 que após muito padecimento , partiu deixando 3 crianças. Crianças que, os avós criaram com bastante amor, e hoje já são adultos e bons netos.   Ela diz que a sua vida foi muito dura, porque estava sempre sozinha com um bando de crianças, e muita roupa para lavar.    
   Roupa das crianças e roupa sujíssima de seu esposo, ora do açougue e ora do serviço de peão. A roupa era sempre difícil de lavar, porque ele se ocupava de serviço duro e bruto. E naqueles tempos não havia máquina de lavar...
   A maior alegria é a família que conseguiram formar, apesar das mil dificuldades que passaram. Dona Maura ficava só, enfrentando as tarefas do dia a dia, com o marido sempre ausente, trabalhando, trabalhando, dando duro nos difíceis e ásperos serviços que desempenhou. Todos os filhos herdaram essa paixão pelos cavalos e boiadas, sinal de respeito pela profissão do pai.
    E assim conseguiram criar os filhos e netos nos preceitos da educação, da confiança e do respeito. E seu Raimundo se orgulha muito da família que tem. Diz que os filhos sempre voltam à casa dos pais para vê-los, e isso é um grande conforto.  Seu Raimundo e dona Maura moram sós, mas há uma auxiliar que ajuda nos serviços domésticos, graças à atenção dos filhos. 

   Quando eles aparecem, o pai e os filhos jogam um carteado animado e tudo vira uma festa. Só não apostam nada, ele diz que jogo com aposta destrói até a família, por isso ele ensinou os filhos assim, para jogarem apenas como diversão.
    Seu Raimundo tem muitas saudades dos amigos com quem conviveu nos tempos duros das comitivas, especialmente do saudoso  Mané Rosa.
    Em casa, junto com a dona Maura, seu Raimundo curte a aposentadoria, olhando um para o outro: “prá ver quem é mais bonito, mas ela sempre perde, porque é mais feia” diz ele.
   E após muita brincadeira, seu Raimundo brindou-me mostrando a coleção de facas, os arreios dos animais, o rebenque e a famosa capa de montaria. E então, encerrou a nossa conversa com o som potente de seu berrante, que não esquecerei mais.
      Foi lindíssimo!
    Cidadão Raimundo Bezerra de Souza, que foi açougueiro e boiadeiro, nordestino calejado pelas tarefas ásperas e necessárias, que executou nesta vida e possui ainda a alegria de viver, é Gente de Fibra!

        Mirandópolis, 27 de maio de 2012.
               kimie oku in 
        “cronicasdekimieblogspot.com”

   

quarta-feira, 23 de maio de 2012


               Gente de fibra - Neyde Pavesi Ferreira


    Ela nasceu em Pompéia, em 1933.
         É filha de Henrique Pavesi, Maestro de Banda Musical  e de dona Cinira de Freitas Pavesi, que veio transferida para Mirandópolis,  em 1950, como Agente de Correio. Seu Henrique havia sido Sapateiro antes de ser Maestro.
         O pai do senhor Pavesi era músico formado pelo Scala de Milão, famoso teatro italiano, que apresentava as mais conceituadas óperas da Europa.
         Chegando aqui, o seu Pavesi tratou de formar a Banda Municipal Santa Cecília, que tocava em coretos e animava bailes e festas locais e da região. A menina Neyde e suas irmãs não tinham permissão para ir aos bailes, em que o pai se apresentava, pois naqueles tempos a educação era muito rígida.
         Dona Neyde começou profissionalmente como professora leiga. Recebera um preparo para aprender a lidar com crianças, e foi professora de Jardim de Infância.
        Quando tinha 23 anos de idade, ela e sua irmã Neusa foram nomeadas para trabalharem no Correio local, onde sua mãe era Agente. O serviço aumentara muito, e foi nomeada também a senhorita Aurora Colombo.
         O Correio era da Administração Federal e estava instalado à Rua do Comércio, hoje Rua Nove de julho. No local atualmente funciona a loja do Marega. Como havia muito serviço, e poucas eram as funcionárias, faziam todas as tarefas necessárias, inclusive a faxina do local.
         Dona Neyde se casou com o senhor Emílio Ferreira, que trabalhava na seção de Vendas da Fábrica de Móveis Cristal, da família Crevelaro. Quando saiu dali, foi trabalhar na Esteves Irmãos, Sociedade Anônima, que comprava e exportava o algodão produzido na região. Mais tarde, Seu Emílio trabalharia no Hospital das Clínicas, como Chefe da Seção de Material, função em que se aposentaria anos mais tarde.
Do casamento com seu Emílio, nasceram três filhos, um dos quais é Bancário, uma filha é Professora de Línguas e a outra seria Analista de Sistemas, mas não concluiu o Curso, por uma fatalidade que a levou para sempre, deixando a maior dor para os pais. Isso ocorreu já há 32 anos.
O Correio funcionava todos os dias, e aos domingos e feriados atendia meio expediente.  Era costume na época, quando terminava a missa de domingo, os cidadãos passarem no Correio para buscar a correspondência. Não havia o serviço de entrega a domicílio, e cada um buscava cartas, jornais, revistas, telegramas e encomendas no Correio. Os assinantes possuíam uma caixa postal, onde era colocada a correspondência e os avisos. Separar essa correspondência fazia parte da rotina diária dos funcionários.
Havia o Serviço de Telégrafo, mas os Telegrafistas vinham nomeados de outras cidades. Havia também um cofre, onde eram guardados, além das cartelas de selos, todos os valores que eram enviados ou recebidos. Era costume também, os donos de lojas guardarem os objetos de valor aí no cofre, mediante uma taxa. As Joalherias é que mais faziam esses depósitos.
Naquela época, ainda não havia outro meio de enviar valores para outros lugares, a não ser pelo Correio. Era costume os pais fazerem remessas de dinheiro, para os filhos que estudavam em outras cidades. Para isso, havia um envelope transparente, onde eram colocadas as cédulas alinhadas de tal forma que, o valor total ficasse visível, para não haver enganos.
Dona Neyde se lembra que o Pedro Fernandes, que atuou na Nossa Caixa, e que faleceu recentemente, foi também funcionário do Correio.
Toda a correspondência vinha por trem. Então, havia um funcionário que ia diariamente à Estação ferroviária, buscá-la. Era o senhor José Gabriel de Oliveira, que por muitos anos andou pelas ruas da cidade, empurrando uma carriola de madeira, com os malotes de correspondência.
No imaginário do povo, ficou a ideia de que o seu Gabriel foi o primeiro carteiro da cidade, mas não é verdade. Como ele era muito atencioso, fazia voluntariamente a entrega de correspondência, aos amigos e a algumas firmas. Na verdade, não havia esse cargo no Correio; cada cidadão ou firma tinha que buscar a correspondência lá. Seu Gabriel, com a sua gentileza se antecipou no tempo, fazendo o que os carteiros de hoje fazem, entregando todas as remessas de domicílio em domicílio.
Depois de anos de trabalho, em 1975 dona Neyde aposentou-se. E passou a dedicar-se a atividades mais femininas, bordando, crochetando, tricotando, dando banho em bebês de vizinhos... e, aos poucos foi descobrindo sua verdadeira missão.
A sua verdadeira missão é servir ao próximo.
Essa bela e gentil senhora da sociedade não faz outra coisa, senão amenizar a vida de todas as pessoas, que cruzam o seu caminho. Um dia, descobriu que poderia ajudar o Hospital do Câncer, com suas habilidades manuais, sem sair de casa. Descobriu que esses hospitais têm uma Casa de Apoio, para dar assistência gratuita aos doentes e familiares, que necessitam de auxílio. E as pessoas podem ajudar essas Casas de Apoio, confeccionando gorros de lã, para reverter em valores para a compra de alimentos e manutenção dessa assistência.
A partir desse dia, já são mais ou menos trinta anos de confecção de toucas e gorros de lã, que a dona Neyde enviou religiosamente para Jaú, Curitiba e ultimamente para Barretos. Ela conseguiu a adesão de outras voluntárias, que também tricotam os gorros para o mesmo fim.
Hoje, já beirando os oitenta anos de idade, dona Neyde continua a tricotar e pede sempre a Deus, que lhe conceda a graça da saúde dos dedos, para continuar a produzir gorros até o fim de sua vida.
Dona Neyde ainda, se dedica a outra atividade assistencial, há mais ou menos 21 anos. Junto com aproximadamente oitenta voluntárias, praticam a filosofia Amor e Caridade do Centro Espírita Bezerra de Menezes.
O grupo trabalha durante o ano todo, recolhendo gêneros alimentícios para as cestas básicas, que entregam para cerca de quarenta famílias carentes, mensalmente. Quando  é necessário completam as cestas, com as mensalidades das voluntárias, ou com o dinheiro arrecadado no Bingo, que realizam mensalmente.
A renda do Bingo de senhoras da Sociedade, é destinada para a compra de material do enxoval de bebês. Durante o ano, são formadas quatro turmas de futuras mães, para receber noções de Higiene e Puericultura, para preparar o enxoval do bebê, e aprender a bordar, a crochetar e tricotar.
Do grupo inicial de voluntárias para essa missão, hoje permanecem as dedicadas companheiras Alzira di Bernardo Galvani, Encarnação Guerra Batista e a própria Neyde Pavesi.  Outras voluntárias aderiram e o grupo vai realizando essa obra, sem interrupção.  A reunião para o preparo do enxoval de bebês é semanal, e as peças confeccionadas são destinadas aos bebês que irão nascer, não onerando as mães gestantes.
Além disso, o grupo cuida também de, encaminhar pessoas doentes para realizar exames de laboratórios, quando há certa urgência, e não possuem recursos. Dá assistência na compra de remédios, que os órgãos públicos não podem fornecer.
E assim, dona Neyde e seu grupo vão realizando uma obra solidária, que beneficia a tanta gente, mas sem auferir vantagens, porque essas mulheres valorosas só praticam a filosofia de Amor e Caridade, mas de forma agradável, sem pesar para quem é beneficiado.


No final da entrevista, dona Neyde me confessou algo muito íntimo e bonito: ela tem o costume de guardar pequenos objetos, cartas, cartões e mimos que recebeu de filhos quando crianças, de netos, de amigos, do esposo, e os guarda como relíquias... São o seu tesouro, porque guardam lembranças de momentos especiais de emoção, de alegria e de ternura, que viveu até agora.
Dona Neyde Pavesi Ferreira, gentil mulher que Deus colocou no caminho de tanta gente, para aplainar seus caminhos, que, mesmo tendo sofrido uma perda irreparável para uma mãe, continua a sorrir e a exercer a missão de amar ao próximo, é um exemplo de mulher, é gente de fibra!

Mirandópolis, 15 de maio de 2012.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com




terça-feira, 22 de maio de 2012

   A nossa Estação Ferroviária



          Ultimamente tem se falado muito da nossa Estação.
     É que aquele prédio, em estado deplorável, tem incomodado  bastante aos cidadãos, que amam esta cidade.
     E a novidade de que, a União autorizou a reforma do prédio  provocou um frisson, nos meios políticos e culturais.
      Mas, quem sabe a história da Estação?
  Fui pesquisar na Bíblia dos mirandopolenses, ou seja, no livro “Mirandópolis, sua evolução no século XX” de Alcides Falleiros, e descobri com pesar que, muito pouco consta sobre sua construção.
    Entretanto, descobri que a nossa cidade fundada pelo Senador Rodolfo Miranda, e denominada “Mirandópolis” por ele próprio, inicialmente fora estabelecida no Km 50, na Estrada para Lussanvira, antigo povoado que deu origem a Pereira Barreto. Pretendia o Senador, construir uma metrópole no meio da selva, que superasse Araçatuba.
     Mas, a cidade localizada ali mesmo no km 50 da estrada para as Alianças, que se tornara próspera e possuía hotéis, farmácias, bares, restaurantes, serrarias, máquinas de beneficiar café e arroz e casas comerciais ficou conhecida como “Quilômetro Cinqüenta”, porque “Mirandópolis” não pegou.
         A decadência do vilarejo de “Km. 50”  se acelerou com a abertura da Estrada de ferro Variante de Araçatuba – Jupiá,  e com a construção da Estação Ferroviária no  Vilarejo São João da Saudade, que fora  fundado pelo baiano Manoel Alves de Ataíde. Os proprietários rurais começaram a mudar-se para o novo povoado, que oferecia um meio de transporte mais barato e mais rápido, que eram os trens da Noroeste.
        E foi assim que floresceu a cidade de Mirandópolis, cuja parte fronteira seria denominada “São João da Saudade”.  A parte traseira recebeu  o nome de “Paulicéia” por seu fundador Dr. Raul da Cunha Bueno. Sobre a construção da Estação há uma história curiosa.                                                                                            
     Quando o senhor Manoel Ataíde soube que a ferrovia passaria na região, onde ele possuía  cinqüenta alqueires de terras, mais que depressa ofereceu um espaço para a construção da Estação, certo que isso ajudaria na formação da cidade de seus sonhos. Mandou derrubar a mata, queimou a coivara e preparou esse terreno que abrigaria a Estação e onde estão os trilhos para as manobras de trens e adjacências. Aceita a doação, ele começou a vender lotes de terreno e a procura foi grande. Da noite para o dia ele ficou rico, com os lotes que vendeu. E ele cheio de si, mudou de caráter e passou a ser o Coronel, que mandava no pedaço.
      E aí ele fundou o povoado, sacramentando o ato com uma missa rezada numa capelinha, construída bem no local onde está a praça do seu nome. Mandou levantar uma cruz no local, com os dizeres:   “São João da Saudade -  24 de junho de 1934”. Mas, por ser um homem simples, não se lembrou de fazer um registro do ato e, depois que a cruz foi retirada para a construção da nova Igreja, esses fatos foram esquecidos.
         Em 1955, a Câmara Municipal aprovou o projeto de Lei do Vereador Dr. Neif Mustafa, que relembrou os fatos e propôs  considerar o dia 24 de junho como data da fundação, e assim permanece até o dia de hoje.
         Mas, a construção da Estação Ferroviária foi marcada por marchas e contramarchas. Quando a  direção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil houve por bem, construir a Estação no local que está  até hoje, o senhor Ataíde não aprovou a ideia. É que do outro lado era domínio de Doutor Raul da Cunha Bueno, membro de antiga e tradicional família de São Paulo, que possuía muitas terras aqui na região.
         E do lado de lá da estação estava florescendo a cidade de Paulicéia, pelos seguidores de Cunha Bueno.
         Ao saber do projeto da estação, o senhor Ataíde teve uma violenta reação, mandou parar a construção, foi reclamar junto aos órgãos competentes em Bauru, e teve até uma audiência com o Presidente da República, Getúlio Vargas.
         Mesmo com tudo isso, ele perdeu a demanda. A topografia local não o favoreceu, e a Estação foi construída de acordo com os planos da Ferrovia, sem acesso para os moradores da vila São João da Saudade.
         E assim, as duas cidades foram se formando separadas pelas linha férrea e sem nenhuma ligação. O  doutor Cunha Bueno porém, não estava interessado no futuro da pequena vila, e a abandonou à própria sorte, mesmo tendo sido aquinhoado, com a construção da Estação voltada para a vila de Paulicéia.
E os moradores da São João da Saudade ficaram realmente sem acesso à Estação. Só mais tarde, com a instalação da Prefeitura de Mirandópolis é que foram feitas as devidas correções, com o alinhamento das ruas  e a construção da passagem de nível.  E com isso, as duas vilas foram unidas, e se completaram, formando a cidade de Mirandópolis de hoje. 
E revisando a história da linha férrea, os trilhos começaram a avançar mata adentro em direção a Jupiá em 1934. Dois anos depois, em 1936 foi inaugurada a Estação de Mirandópolis.
A partir de então, os trens percorreram o trecho,  vindo de Bauru e seguindo em direção a Mato Grosso, e vice-versa durante décadas, transportando gente, cargas, combustível,  máquinas e gado.
E as Estações passaram a ser o centro da vida social, de todas as cidades, que floresceram ao longo dessa linha férrea. As pessoas embarcavam na estação para viajar, chegavam de viagens, iam receber os que voltavam, e se despedir de quem partia. Na hora da chegada e da partida de trens passageiros, formava-se uma multidão em burburinho, acrescida de ambulantes, que iam até a plataforma vender lanches, frutas e outros petiscos para os passageiros.
         Em 1957, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil passou a integrar a Rede Ferroviária Sociedade Anônima (REFESA), mas continuaria com a mesma prestação de serviços à comunidade. Essa prestação de serviços perderia em breve, para as linhas de ônibus, que começariam a transportar passageiros com segurança, rapidez e conforto, pelas rodovias que foram abertas. Também o transporte de gado passaria a ser feito por caminhões, que podem adentrar nas fazendas, e carregar os animais com mais facilidade. 
E em 1995, o transporte de passageiros seria desativado de vez e em 1996 a linha passou a pertencer a Rede Novoeste, com a função de só transportar carga.
       Então, a linha não foi totalmente desativada; os trens cargueiros passam diariamente, pelos trilhos da nossa velha Estação Ferroviária, transportando combustível e máquinas. E todas as noites, se ouvem os longos apitos do trem cargueiro avisando que, está indo para algum lugar.
         Da época de ouro dos trens passageiros, ficaram só as lembranças, mas a Estação está firme e  forte, resistindo aos tempos, e aguardando um destino mais glorioso que o abandono, a que foi relegada até agora.
       Quem sabe em breve, teremos a alegria de ver o espaço  ser inaugurado como Centro de Cultura de Mirandópolis?
         Só então, Mirandópolis fará jus de verdade, ao cognome de “Cidade Labor”.

         Mirandópolis, 14 de maio de 2012.
         kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”
        
                                                                                             

sábado, 19 de maio de 2012


      Gente de fibra - Severina Alves dos Santos

         Recentemente, tive uma alegria imensa ao ver uma foto no facebook – era a foto de jovens que se casaram, e ladeavam a avó da noiva. Imediatamente a reconheci, era a foto de dona Severina, que trabalhou décadas no antigo Ginásio Estadual e depois no CENE Noêmia Dias Perotti.
         Quem postou a foto foi o seu genro Lupércio Ailton Nery Palhares, filho do saudoso Professor Durval Nery Palhares, que nos anos 60/70 ficou conhecido como o Professor do Curso de Admissão ao Ginásio, que era o sonho de toda  a moçada da época.
         Pois é, o Lupércio é casado com a nossa amiga Valdeíte Inêz, irmã de Wanderlei Luis dos Santos, ambos filhos de dona Severina e do senhor Benedito dos Santos, mais conhecido como o Ditão, o homem negro elegante em suas roupas de linho branco, que morou muitos anos em Mirandópolis.
         Ao postar a foto, Lupércio informou que a dona Severina está com 91 anos de idade, goza de boa saúde e sua memória está perfeita, lembrando de tudo e de todos que conheceu por aqui.
         Como ela foi uma pessoa conhecida de todos os jovens, que passaram pelo antigo Ginásio e pelo CENE, achei interessante contar a história dela em Gente de Fibra. E pedi ao senhor Lupércio que fizesse uma entrevista e a enviasse para ser publicada no Diário de Fato. Mais que isso, o amigo postou um interessante texto intitulado Tributo a Severina, em que ele conta a história da nossa querida amiga, aproveitando o viés de “Morte e Vida Severina” do poeta nordestino João Cabral de Mello Neto.
                        Mirandópolis, 15 de maio de 2012.
                         kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com


        TRIBUTO A SEVERINA

Como deixar de fazer um tributo à mulher Severina – a retirante nordestina - se deixar de lado o verso maior da significância Severina; como nos versos do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto em seu famoso ensaio poético/musical “Morte e Vida Severina”. Um verdadeiro hino de exaltação de um povo de amor à terra, que mesmo distante não deixa morrer as raízes que o prende vivo as suas origens.



“Severino, retirante deixe agora que lhe diga: 

eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia,

se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; 

nem conheço essa resposta se quer mesmo que lhe diga

é difícil defender só com palavras, a vida, 

ainda mais quando ela é esta que vê, Severina. 

Mas se responder não pude à pergunta que fazia, 
ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. 

E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: 
vê-la desfiar seu fio que também se chama vida, 
ver a fábrica que ela mesma teimosamente se fabrica, 
vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; 
mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; 
como a de há pouco franzina, mesmo quando é a explosão 
de uma vida severina.”

          Foi assim com essa Severina, da linhagem Leandro Alves do correto Mizael Leandro Alves, barbeiro de tantas e todas as horas e Barbosa Horas da não menos correta Ernestina Barbosa Horas, a Da. Pequena. 
        A vida de retirante é um sobe e desce constante, que as águas do Rio São Francisco registram como boletim diário de uma vida, e as carrancas que por suas águas navegam, captam entre olhares ora ferozes ao desafiar mitos e lendas das margens do rio, e ora doces e amenos ao avistar nessas mesmas margens vidas ribeirinhas de nordestinos, fugindo das secas do agreste na ânsia de uma vida melhor, que o curso dessas águas pudessem levá-los como promessa.
       Foi assim que essa retirante ainda em vida uterina se viu obrigada ao desafio, e quis o destino que ainda em terras nordestinas já no sul da Bahia, nascesse naquele 05 de fevereiro de 1921, no distrito de Campo Formoso, município de Jacobina. O nordestino é mesmo um forte e como tal apegado a terra. Novamente as águas do São Francisco a levaram a pisar o chão da terra de seus pais e em Bodocó, no sertão noroeste de Pernambuco quase divisa com o Ceará, ela ensaiou seus primeiros passos e viveu até quase a adolescência.
       A seca é uma verdade, bem como o São Francisco, e entre a certeza e a dúvida do ruim e supostamente bom, novamente as águas do São Francisco a trouxeram definitivamente para a região sul e por estas terras aportou no ano de 1933 então com 12 anos de idade.
       São João da Saudade era um povoado se formando como muitos outros povoados e depois municípios, pela investida da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em cujo percurso trazia um rastro de trabalhadores que pelo caminho iam se acomodando e fincando raízes.
       Severina viu este município nascer desde o povoado até os dias atuais e fez desta terra o mote da sua vida: ser forte e apegada ao chão da terra como forma de resistência e de vida.
        São 77 anos aqui por estas terras e como diz um dos versos do poema Morte e Vida Severina – “é difícil defender só com palavras a vida...”, e essa Severina defendeu esta terra com sua determinação, seu coração e braço forte, sua ousadia, seu suor, sua lágrima, seu patriotismo e honra, predicados mais que suficientes para que uma história seja escrita. 
        Severina, quando da inauguração do Ginásio Estadual de Mirandópolis ali na Av. Dr. Raul da Cunha Bueno, foi a primeira servente a trabalhar na instituição. As salas, as carteiras, os banheiros, os corredores e páteo do Ginásio e posteriormente Colégio Estadual e Escola Normal Da. Noêmia Dias Perotti foram varridas e limpas por Da. Severina, durante árduos 33 anos. Diversos diretores, centenas de professores e milhares de alunos por ali passaram nesses anos todos e os homens que ontem e hoje governaram e governam esta cidade, os homens que detém o poder econômico e financeiro desta cidade, bem como aqueles que daqui saíram e brilharam e brilham nesta e em outras cidades nas suas respectivas profissões, pisaram aquele chão, sentaram naquelas carteiras, usaram aqueles banheiros e freqüentaram aquelas salas. E Severina chama-os carinhosamente de alunos, como um tributo e recompensa por ter acompanhado os passos escolares e contribuído de algum modo e ao seu modo, na formação moral, intelectual, familiar e social deles.
        E Severina escreve por todo o sempre o seu nome na história desta cidade.
       A cidade da vida de Severina Alves dos Santos, misto de baaina(como sempre a chamei) e pernambucana, de físico franzino, olhinhos tímidos puxados, como se oriental fosse, riso alegre, sorriso sincero e amigo, divertida, educada, filha, mãe, avó, bisavó exemplar. 
      E que Vida... Severina!!!

LANP/  ( Lupércio Ailton Nery Palhares)

Escrito em 16.05.07 e atualizado em 09/07/09.

terça-feira, 15 de maio de 2012


          Grafitando

         Ultimamente, tenho percebido que os jovens não estão mais pichando paredes e muros de casas.
É tão gratificante ver uma casa bem pintada, porque melhora a paisagem da cidade, e faz bem aos olhos.
Toda vez que eu via casas ou muros recém-pintados, borrados de inscrições agressivas, pensava na pobreza de espírito dos autores. Não sou contra grafiteiros, mas sou defensora da propriedade, e como tal fico triste, de ver um estranho estragando a pintura caprichada, que alguém pagou. Casa pintada de novo é como se tivesse tomado um banho e se maquiado. E vem alguém e lança sujeira nela...
E sempre que via uma pichação, me lembrava de uma novela coreana famosa, em que uma jovem revoltada com o tratamento diferenciado que recebia do pai, ia às ruas na calada da noite e desabafava toda a sua ira, pintando os muros que via pela frente, com seus desenhos pessoais. E volta e meia, ela ia presa, porque a lei lá era mais dura. Só que os desenhos eram maravilhosos, de uma arte mais moderna, com bastante colorido. Era tão artístico o seu trabalho, que no final da história se torna uma pintora de verdade.
Acredito que haja gente que, tenha vontade de fazer o mesmo que a mocinha da novela, desabafando todo o seu rancor, contra o mundo cruel em que vive. Mas, o dono da casa ou do muro muitas vezes, nem culpa têm da infelicidade do pichador. E, é aí que, acho a pichação uma agressão ao proprietário e à acuidade visual. Uma verdadeira contravenção para a sociedade organizada.
Acho que, qualquer pessoa tem o livre arbítrio de extravasar seus sentimentos, de desenhar o que deseja, de botar prá fora toda a mágoa que sente. Mas, para isso não é preciso estragar a propriedade alheia. Nada é mais decepcionante do que, alguém ver sua obra toda borrada com dizeres ofensivos, que a ninguém aproveita.
Lembro que até há bem pouco tempo, garotos arriscavam a própria vida para deixar suas logomarcas em lugares quase inalcançáveis, só pelo orgulho de carimbar seu nome.  Tudo para a afirmação da própria personalidade.
Felizmente, essa onda passou. Penso que, os jovens de hoje perceberam que isso não leva a nada. Ou que é um desperdício de tempo, dinheiro e energia.
Comentando sobre isso, alguém me disse que esses jovens que faziam essas inscrições, são os mesmos que consomem drogas, e que não lhes sobra grana, para comprar os tubos de spray. Pode até ser verdade, mas prefiro acreditar que os jovens mudaram, que perceberam a inutilidade desses gestos agressivos, contra terceiros inocentes de seu infortúnio.
Acredito que tudo evolui, que mesmo os jovens que consomem drogas por vício, têm consciência de tudo que fazem e do que ocorre no mundo. Muitas vezes continuam consumindo, porque não conseguem se libertar, mesmo querendo e desejando com toda a alma.
Porque a desgraça dos psicotrópicos é exatamente isso: tornar os usuários dependentes de verdade, anulando até os mais firmes propósitos.
 E a respeito disso há que se lembrar do que o Ministério Elohim está realizando aqui na cidade. É um trabalho de recuperação dos dependentes químicos. É louvável essa iniciativa, e penso que toda a sociedade deve participar, pois as vítimas não se restringem aos usuários apenas, mas abarcam todos os seus familiares, que sofrem juntos. E atingem indiretamente outras pessoas, que acabam sendo lesadas, por roubos e assaltos de dependentes desesperados...
Andei pesquisando sobre o Ministério Elohim, e descobri que o seu trabalho é baseado no Evangelho, nas Artes e na Assistência Social. E salvo algum detalhe que eu desconheça, as intenções parecem ser das melhores. Os participantes estão imbuídos do firme propósito de melhorar a sociedade, tentando resgatar vidas humanas perdidas para as drogas. E usam estratégias diferentes, como a dança, a capoeira, a música e a religião. Estratégias tais, que se aproximam mais da realidade dos jovens, do que confinamento apenas.
Sinal dos tempos... Até outro dia, os jovens escalavam prédios para carimbarem seus nomes em lugares impossíveis. Hoje, os jovens mudaram de atitude. Passaram a consumir porcarias, no vão desejo de se afirmarem. Afirmação que conduz à perdição, irremediavelmente.
Pensando melhor, é preferível que os garotos voltem a pichar muros e paredes, do que se autodestruírem.  Os muros e paredes podem se pintados de novo, podem ser refeitos, são recuperáveis. Muros e paredes são apenas matéria inorgânica, que não sofre. Ao passo que, os humanos dificilmente conseguem se libertar das drogas, que os destroem. E o caminho de ida para o mundo dos psicotrópicos, leva para uma viagem de sofrimento atroz, que muitas vezes só a morte pode libertar.
Então, é melhor pichar, grafitar, pintar, borrar muros e paredes, que isso não tira a vida de ninguém, não destrói famílias e relações.
Grafitar ainda é bem mais saudável e inteligente.

Mirandópolis, 8 de maio de 2012.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com

P.Scriptum : a imagem  ilustrativa é o Muro de Berlin  de 1,3 km de extensão, grafitado por 118 artistas de 21 nacionalidades , em 1980.

sexta-feira, 11 de maio de 2012


        Gente de fibra- Gennaro Ordine

Hoje vou contar a história de um trabalhador, que passou a vida toda como um João-de-barro construindo casas. O João de barro constrói casas para ele, mas o cidadão de hoje construiu casas para os outros.
É o senhor Gennaro Ordine, que desde os sete anos de idade começou na profissão. Inicialmente ajudava o pai, que também era construtor.
Gennaro Ordine nasceu em Taquaritinga em 1928, e desde cedo aprendeu a carregar tijolos, para ajudar nas obras de seu pai, desenvolvendo assim o gosto pela construção. Aos treze anos já sabia tudo que um profissional deve conhecer. E trabalhou com o pai até os 21 anos, quando se casou com a senhorita Ângela Corsetti, em Taquaritinga, onde moravam.
Após o casamento, passou a trabalhar por conta própria, construindo casas. E em 1967, veio de mudança para Mirandópolis. Aqui ele continuou no ofício de construtor. Ele se diz construtor, porque levantava casas desde o alicerce até o teto. Só o serviço de carpintaria e pintura deixava para gente especializada.
Um dia, ele se associou ao senhor Olindo Marchi, irmão do senhor Sílvio Marchi, que foi funcionário durante anos no CENE Noêmia Dias Perotti. O seu Olindo já trabalhava nas obras da Prefeitura. Trabalharam juntos aproximadamente uns cinco anos.
Sempre seguindo as plantas dos engenheiros, juntos construíram várias obras, das quais se lembra da Fábrica de Alumínios Nitinam; da Biblioteca Municipal, junto do prédio da antiga Prefeitura; do acabamento do antigo Paço Municipal; da Fonte Luminosa na Praça Manuel Alves de Ataíde, durante a gestão do Prefeito Lourenço Marcos Fernandes; do Parque Infantil Savero Tramonte; das salas destinadas às Atividades Pluricurriculares no CENE Noêmia Dias Perotti; do piso da Escola 14 de agosto, hoje utilizado pelo Curso Objetivo; do acabamento do sobrado do senhor Oscar Bottoni; da Casa Moreira; do Muro que cerca o Estádio “Alcino Nogueira de Sylos”. Construíram também a Ponte do km. 50 e a do Poção.
Após cinco anos juntos, a sociedade com o seu Olindo se desfez, porque este  deixou o serviço da Prefeitura para  ser autônomo; e foi contratado mais tarde, para construir a Usina de Álcool, a Alcomira, que hoje é a Raizen. Mesmo ficando sozinho, o seu Gennaro continuou com as obras da Prefeitura.
Sozinho começou a construir casas.  E fez o acabamento das Lojas Marajá, realizou reformas nas Casas Pernambucanas, construiu a casa de moradia do senhor Milton Alli; e durante cinco anos trabalhou na Fazenda Peres, construindo 12 casas e a sede de 450metros quadrados, para o senhor Igrécio Peres que deixou a fazenda como herança, para a Senhora Maria Isabel Peres.
Enquanto construía casas, fez parceria com pintores  e carpinteiros excelentes, como o senhor Adelino Grou e o senhor Luís Zanon. E contratava servidores braçais de confiança, para os serviços mais pesados
Há quatro meses, o seu Gennaro parou de construir casas. Aposentou-se. Mas, não está ocioso. Gosta muito de pescar e vai com os amigos pescar no rio Miranda, no Paraná, no Pantanal.
Além disso, ele tem um hobby – é a pintura a óleo, a que se dedicou desde criança. Esse gosto pelo desenho se revelou já nos primeiros anos de escola,  a professora pedia para ele desenhar no quadro negro, e ele usava o giz colorido para pintar as figuras. Mais tarde, deu aulas de Desenho aos amigos, em Taquaritinga.
Mais que pintor, seu Gennaro é um paisagista. Gosta de reproduzir cenas vistas ao natural, como o rancho que pintou, ou mesmo copiar paisagens  de fotografias e de cartões postais. Já expôs os quadros em várias Amostras na cidade. Tem aproximadamente uns cem quadros vendidos, que estão espalhados pelo país todo. É de se admirar que um homem como o seu Ordine, que passou a vida toda lidando com pedras, tijolos, ferros e pás carregadas de argamassa pesada, tenha a sensibilidade de fazer telas tão belas. Suas paisagens transmitem a paz do campo. Reproduzem lugares de sonhos, que todos gostariam de ir um dia.
Na vida familiar é um homem realizado, com quatro filhos homens, dos quais um foi Contador na Prefeitura local; um trabalha na área de Propaganda e dois são Agentes Penitenciários. Faz questão de dizer que os filhos não se tornaram construtores, mas ajudaram muito nas obras quando jovens. Tinha ainda nove netos, dos quais um faleceu há uns anos, infelizmente.
Dona Ângela diz que valeu a pena a vida ao lado de seu Gennaro, porque ele sempre foi muito trabalhador e conseguiu criar os filhos com conforto. Lembra também que fez muitas marmitas para o marido levar para o trabalho. E ele comia refeição fria, porque sempre, sempre saía de madrugada para as obras.
Atualmente, o seu Gennaro não está pintando, por causa da visão enfraquecida. Há pouco tempo fez uma cirurgia e logo, logo voltará a pintar de novo.
Seu Gennaro construiu cento e sessenta e duas casas no município. E nenhuma teve problemas de rebaixamento nem de desabamento, porque cuidou de construi-las com boa estrutura e firmeza. Com responsabilidade.
No final da entrevista, o seu Gennaro e a dona Ângela confessaram que, tendo construído tantas casas para os cidadãos de Mirandópolis, residem numa casa que não foi construída por ele. Mesmo assim, a casa é sólida,  bem construída e muito confortável
Seu Gennaro Ordine, o construtor que passou a vida toda construindo e reformando casas, para proporcionar conforto e segurança para os cidadãos de Mirandópolis, é gente de fibra!










Mirandópolis, 2 de maio de 2012.
 kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

sexta-feira, 4 de maio de 2012


                  Uma foto histórica de 
                        Mirandópolis
                        http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

Um dia, vi um quadro na casa do amigo Jorge Cury, que me deixou fascinada. Era a cópia de uma fotografia, tirada há mais de sessenta anos. Lá estavam retratadas pessoas, que se destacaram no cenário político e social da História de nossa cidade.
 Pedi ao amigo, que me emprestasse o quadro, porque queria de alguma forma, identificar todas aquelas pessoas, das quais só algumas ainda estão vivas e morando aqui. Com o quadro em mãos, saí a indagar às pessoas mais idosas, se poderiam me contar algo, sobre as personagens ali retratadas. A maioria, porém, não as conhecera, e as que foram contemporâneas já estão com visão deficiente, em razão da idade, e não conseguem reconhecê-las no quadro.
Mesmo assim, não desisti. É que na foto estão as imagens de gente famosa, que construiu a nossa cidade, e se dedicou a transformar, um pobre vilarejo perdido no meio das matas, na Cidade Labor que tanto nos orgulha.
E tempos atrás, alguém publicou essa mesma foto no Jornal local, com o mesmo propósito de identificar as pessoas. Percebi então, que seria realmente importante descobrir a história dessas pessoas, e deixá-la no arquivo da cidade. E me pus a pesquisar. Visitando pessoas, entrevistando outras, telefonando prá gente daqui e de fora.
E após meses de pesquisa, atendendo à sugestão do amigo Fred, resolvi fazer uma crônica sobre a foto. Vou relatar o que apurei com as entrevistas.
Lá estão retratadas de pé, a partir da esquerda:
1. Décio Quírico - Foi funcionário do Posto Fiscal Estadual de Mirandópolis.  Possuiu também, uma Agência de Revistas e o Serviço de Alto Falante Marajá, criado por seu antecessor Éder Bottura, que anunciava os fatos importantes para a população. Era uma espécie de rádio do interior, que alegrava com música vários pontos da cidade, pois aqui não havia nenhuma estação de rádio. (Isso foi há mais de 60 anos!). Havia até estúdio, com boa coleção de discos e estava estabelecido à Rua Floresta, hoje Gentil Moreira. O próprio Décio fazia o serviço de locução. Filho do senhor Domingos Quírico, Chefe da Estação Ferroviária local. A última informação é que Décio Quírico mora em Campinas.
2. Hélio Dantas – Foi Funcionário do Posto Fiscal Estadual de Mirandópolis. Foi Presidente do Rotary Clube local. Já falecido. Era tio do Bibliotecário Jânio Alfredo de Souza, que atua na Biblioteca Municipal “Profª Silvina Viana Falaschi”.
3. Alencar Scafi – Professor do Grupo Escolar, casado com a Lourdes Scafi, também presente na foto.
4. Luís Carlos Mendes Fogaça – Foi Seminarista. Aqui atuou como Professor de Latim e de Português, no Ginásio Estadual
5. Joaquim de Castro Ramos – Morava em Amandaba, e tinha uma Serraria no km. 50, na estrada para as Alianças. Foi também Vereador.
6. Neif Mustafa – Atuou como Professor leigo no 1º Grupo Escolar, na década de 40, onde conheceu a senhorita Antiniska de Lucchi, também Professora leiga, com quem se casou, e tiveram os filhos Reinaldo Mustafa e Regina Célia Mustafa Araújo. Depois de adulto estudou e se tornou Advogado. Foi Secretário do Ginásio Estadual, Diretor da Escola Estadual “Padre Césare Toppino”, em Lavínia e Vereador em Mirandópolis.
7. Dr. Edgar Raimundo da Costa – Médico que veio da Bahia, e se tornou um dos mais importantes líderes que Mirandópolis já teve. Conseguiu através de sua influência política, junto ao Governo Estadual a criação do Posto de Puericultura, que se tornaria o Posto de Saúde; a instalação do Hospital das Clínicas, hoje Hospital Estadual de Mirandópolis, e a construção do Ginásio Estadual, hoje Escola Estadual “Profª Noêmia Dias Perotti”. Seu desempenho marcou época, na história da assistência médica local. Faleceu em 1955, com apenas 41 anos de idade. A cidade lhe homenageou, dando o seu nome a uma das mais conceituadas Escolas, e à Rua, onde teve um Consultório Médico, quando iniciou a carreira de Clínico Geral. Foi também Vereador.
8. Professor Júlio Herculano Pedroso Mazzei – Professor de Educação Física do Ginásio Estadual e irmão do Monsenhor Mazzei Filho, que atuou como religioso em Araçatuba. Prof. Mazzei começou a carreira em Mirandópolis, onde realizou uma belíssima demonstração de Ginástica Rítmica com os alunos da Escola.  Transferiu-se para Araraquara como Professor. Foi contratado como Preparador Físico do Palmeiras Esporte Clube, depois pelo Santos Futebol Clube, e também pela Seleção Brasileira. Foi um dos mais consagrados Preparadores Físicos, e como tal, conquistou vários títulos, tornando campeões os times que preparou. Foi o maior responsável pela ida do famoso Pelé, ao Cosmos de Nova York. Ele o acompanhou como Preparador Físico, e trabalhou no escritório de Marketing do Pelé em Nova York. Faleceu em Santos em 2009.
9. Professor Ulisses Costa - Professor do Grupo Escolar. Tinha voz bastante forte e cantava muito bem.
10. Arnaldo Rodrigues Eid – Foi Serventuário da Justiça – Funcionário do Cartório de Registro Civil, dirigido pelo Senhor Alcino Nogueira de Sylos, que foi posteriormente Prefeito da cidade. O senhor Arnaldo foi também Vereador. Já falecido.
11. Francisco de Arruda Mendes - Cirurgião-Dentista.      Casado com a Maria Aparecida Quírico, a Lilita, também presente na foto.
   12. Antônio Depieri - Era procedente de Pacaembu, onde possuía uma Gráfica.  Foi proprietário da Gráfica Depieri e Editor do Jornal “A Cidade”, em Mirandópolis. Daqui, ele se transferiu para Presidente Prudente, onde teve também uma Gráfica. Já é falecido. Um dos pioneiros da Imprensa de Mirandópolis.
       13.  Francisco Bia – Funcionário do Posto Fiscal.
      14. Elídio Ramires – Seus pais foram os proprietários da Padaria São João, que pertenceu depois ao seu Ovídio, e que ainda hoje existe na cidade. Trabalhou na Gráfica Depieri, onde atuou redigindo crônicas. Foi Empresário, Contabilista e Fiscal de Tributos Fiscais. Trabalhou no Escritório da Fábrica de Móveis dos Mizukami e foi sócio da Fábrica de Móveis dos Crevelaro. A ele, devemos a criação do slogan “Mirandópolis, Cidade Labor”, que define com propriedade a nossa cidade. Terminou a carreira como Fiscal de Rendas, em Campinas. Hoje, com 80 anos, reside em Valinhos, curtindo a aposentadoria. Está lúcido e com boa memória.
 15. Dinorah Correa – Atuou como Professora leiga em Amandaba. Foi proprietária junto com o esposo Ênio Pucci da Livraria dos Estudantes, em sociedade com a Srª Dirce Cury da Costa. Morou depois em Franca. Já falecida.
 16.  Profª Célia Correa - Filha do senhor Manoel Flauzino Correa, e irmã de Dinorah. Na época, estudava o Curso Normal, no Instituto de Educação “Manoel Bento da Cruz”, em Araçatuba. Casou-se com o Farmacêutico João Zuin, e moram em Mirandópolis
  A seguir, informações sobre as pessoas sentadas:
 17. Jorge Cury – Funcionário do Ginásio Estadual, como Inspetor de Alunos. Foi Comerciante, dirigindo um Restaurante no Clube Atlético de Mirandópolis. Vereador, na gestão de Alcino Nogueira de Sylos. Mora em Mirandópolis e está bem, apesar dos quase noventa anos. Diz que quer viver até os cem anos.
 18. Luísa Cury – Era costureira, procedente de Matão, casou-se com o Sr. Jorge Cury, e trabalhou por anos, administrando o Restaurante do C.A.M. Faleceu em 2010.
19.  Miguel Cury – Filho de dona Luísa e do Sr. Jorge Cury. Foi mais tarde, Técnico em Engenharia de Ponta de Estrada. Mora numa chácara em Mirandópolis.
 20. Antiniska de Lucchi Mustafa – Começou atuando como Professora leiga no 1º Grupo Escolar, junto com o Dr. Neif, com quem se casou. Mais tarde depois de casada, fez o Curso Normal e foi excelente Professora, tanto no C.E.N.E. “Noêmia Dias Perotti”, como na Escola “Padre Césare Toppino”, em Lavínia, preparando os futuros professores no Curso Normal. Durante décadas, dona Antiniska trabalhou em prol dos necessitados da cidade, sem fazer nenhum alarde. Era uma mulher decidida e muito generosa.
 21.  Reinaldo Mustafa – filho de dona Antiniska e do Dr. Neif. Foi Secretário da Receita Federal, em Brasília. Mora atualmente em Mirandópolis.
22. Dirce Cury da Costa – Esposa do Dr. Edgar Raimundo da Costa. Foi a companheira e grande incentivadora do líder maior da época, Dr. Edgar. Dirigiu o Restaurante do C.A.M. por um tempo, antes do senhor Jorge Cury, seu irmão. Está com 90 anos de idade, lúcida e consciente e mora em Andradina, com sua filha Rosalinda e o genro Dilmo Gavas.
 23. Professora Maria de Lourdes Scafi – Professora de Matemática no Ginásio Estadual. Era casada com o Prof. Alencar Scafi.
 24. Professora Maria Aparecida Quírico Mendes (Lilica) – Atuou no Grupo Escolar. Irmã de Décio Quírico e esposa do Dentista Dr. Francisco de Arruda Mendes.
 25. Vilma Haddad – Irmã do Sr. Jorge Cury e da dona Dirce Cury da Costa. Foi Professora e trabalhou como tal. Morou em Andradina. Já falecida.
 26. Maria Aparecida – Jovem colega de Célia Correa, que estudava no Colégio “Manoel Bento da Cruz”, em Araçatuba.
Esta é a lista das ilustres pessoas, que foram retratadas durante o jantar de despedida do Prof. Júlio Mazzei. Foi no C.A.M. em 1950. Estas pessoas pertenciam ao Clube dos 21, que congregava os associados da Loja Maçônica “Fraternidade e Labor”. Nunca na História de Mirandópolis, houve uma geração de gente tão dinâmica, que transformaria a cidade, a região e a vida de outras pessoas, como esta que foi retratada nesse quadro.
Conhecemos a história dos notáveis Dr. Edgar e do Dr. Neif, mas as nossas gerações ignoravam a passagem do famoso Prof. Júlio Mazzei pelo Ginásio Estadual; a atuação do Sr. Décio Quírico, com idéias avançadas de comunicação pública, através do Serviço de Alto Falante; do Gráfico Depieri, com a edição do jornal “A Cidade”; a criatividade do Sr. Elídio Ramires inventando o slogan: “Mirandópolis, Cidade Labor”, que ficou para sempre.
   (Mirandópolis – “Cidade Labor” um dia resolvemos chamá-la. Era o cognome justo, o adjetivo correto, para enaltecer em apenas uma palavra, o valor de seu progresso, o mérito de seu trabalho) in “Mirandópolis – Cidade Labor”, crônica do próprio autor na Revista A Cidade, editada em 1956).
 E quase todos se tornaram Vereadores, para melhor servir à cidade. (Naquela época, os Vereadores não eram remunerados para servir à população, e viagens a São Paulo para solicitações  junto ao Governo do Estado, eram por conta própria).
  Acredito que naquela ocasião, ninguém imaginaria que, o jovem Professor Júlio Mazzei iria alçar vôos tão altos, como ocorreu mais tarde, chegando até a se tornar o Preparador Físico da Seleção Brasileira de Futebol. Que se tornaria tão famoso, trabalhando como o Preparador Físico de Pelé. Os caminhos se abriram, porque ele falava fluentemente a língua inglesa, já naquela época, e é claro, pela competência profissional.
E mulheres corajosas e determinadas, como a Profª Antiniska, que faria tanto pelos mais carentes, a dona Dirce Cury, que seria a inspiração para o Dr. Edgar trazer os grandes benefícios para Mirandópolis e região, e os demais Profissionais leigos ou habilitados, que enfrentaram todas as vicissitudes, para tornar essa terra bravia em terra de gente civilizada. (À época, a pequena aldeia estava cercada pelas matas virgens)
Geração de gente heróica, em tempos heróicos.
E assim fica registrada, a passagem dessa brava gente por Mirandópolis. Gente bonita, laboriosa, que construiu esta cidade. Gente que partiu para outros caminhos e realizou coisas fantásticas, como o Professor Mazzei, e de quem Mirandópolis se esqueceu. Gente que transformou um povoado rústico, caboclo, sem recursos, numa terra de gente progressista e feliz.
A essas personalidades famosas, as minhas reverências.
Mirandópolis, 23 de abril de 2012.
kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

Créditos:
Quero de público, agradecer às pessoas, que contribuíram na elaboração deste texto. Sem a preciosa e gentil ajuda dessas pessoas, teria sido impossível resgatar a memória daquela época. Agradeço em especial, a paciência do senhor Hélio Ramirez, residente em Pirapozinho, irmão do senhor Elídio Ramirez, que me forneceu detalhes que tornaram esta história mais verdadeira. Estendo minha gratidão também às seguintes pessoas:
Profª Célia Correa Zuin e seu esposo Sr. João Zuin,
Sra. Etelvina Ramires, que me encaminhou ao seu cunhado Sr. Hélio Ramirez, para obter mais informações,
Bibliotecário Jânio Alfredo de Souza,
Amigo Jorge Cury, testemunha viva da festa, que me emprestou a fotografia,
Sr. Manoel Franco, que me forneceu o ponto de partida,
Profª Regina Célia Mustafa de Araújo.
Cada uma dessas pessoas foi acrescentando alguns mosaicos, recolhidos de suas lembranças, e juntos, conseguimos reconstruir esse mural tão belo e precioso de um tempo que passou.
A todos, a minha gratidão.
kimie oku



Nota:  Alguns meses após me ajudar a identificar as pessoas nessa foto, o  senhor Manoel Franco faleceu. Sem a sua preciosa ajuda não teria sido possível essa crônica.  novembro de 2012 - kimie
Nota 2. Em 2013, faleceu o senhor Jorge Cury. kimie oku