terça-feira, 24 de abril de 2012


     Gente de fibra- Fernando Miron Bueno


        Fernando Miron, como é conhecido na cidade, nasceu há 80 anos em Braúna, na Região de Birigui. Nasceu, pois, em 1932.
      Em 1940, a família se mudou para Lavínia. Eram lavradores, que plantavam alho e cebola. Mais tarde, começaram a fazer salgadinhos para vender. Seu pai ia a São Paulo buscar mercadorias, para revender.
O menino Fernando estudou até o 4º ano primário, e garoto ainda, passou a trabalhar na Farmácia do Zé Barbosa.
Morou também em Valparaíso, onde prestou serviços no Dispensário Médico do Doutor Luís Simões, que era oftalmologista, e prestava serviços também em Aguapeí, tratando de tracoma, que era uma terrível infecção, que atacava os olhos das pessoas.
Por essa época, Fernando e duas irmãs participaram de um grupo de teatro amador chamado VATE, que congregava mais de vinte jovens, encenando peças, que chegaram a ser apresentadas aqui em Mirandópolis. Nessa época, aprendeu a ser árbitro de Basquetebol, função que viria a exercer por muito tempo em Mirandópolis, para onde a família se mudou em 1951.
E por indicação do Dr. Simões, ele passou a trabalhar no Hospital das Clínicas de Mirandópolis.
O Hospital havia sido criado recentemente, e instalado no antigo Hospital e Maternidade Santa Terezinha, que pertencera ao Dr. Macoto Ono, e tinha mais ou menos uns trinta leitos, para acolher pacientes.
Fernando começou a servir no Hospital a partir de setembro de 1953, como responsável pela Farmácia, porque não havia farmacêutico designado. Seu serviço  era controlar a entrada e a saída dos remédios, e aviar as receitas dos médicos. No início, havia cerca de 50 funcionários, entre médicos e demais profissionais. Com o passar dos anos, Fernando foi designado como responsável por outros setores do Hospital, como o Escritório, a Lavanderia e a Portaria.
Em 1957, casou-se com a senhorinha Josefa Rosado Borges, com quem teve três filhos, dos quais, dois são Dentistas e a filha é Assistente Social e Professora. Todos os filhos moram fora daqui.
Desde quando as crianças eram pequenas, a dona Josefa começou a trabalhar também, lavando toda a roupa do Hospital. Para isso, montou uma casa, e contratou cinco ou seis lavadeiras, que lavavam manualmente, duas passadeiras e um carroceiro que buscava e levava de volta a roupa ao hospital. Dona Josefa se dedicou a esse serviço, por mais ou menos seis anos. Deixou essa tarefa, para fornecer marmitas para os presos das cadeias, inicialmente de Mirandópolis, depois  também de Andradina e de Valparaíso.
Em 1982, o seu Fernando aposentou-se e passou a ajudar a dona Josefa nessa tarefa de administrar o preparo e a distribuição de marmitas, para as cadeias e   também  para a Penitenciária local.
No começo, eram cerca de 40 a 50 marmitas diárias para cada cadeia, mas chegaram a entregar até 400 marmitas por dia, para a Penitenciária. Isso só durou cinco meses, porque, mudou o sistema e os próprios presidiários começaram a preparar as refeições.   Entretanto, continuaram com as marmitas para os presos das cadeias  até 1997.
Enquanto trabalhavam, já casados e com crianças, começaram a estudar, para completar a escolaridade que lhes faltava. Fizeram os quatro anos de ginásio e três anos de Contabilidade. Vida atropelada por deveres para com a família, muito trabalho e estudos. Mas, venceram.
Seu Fernando gostava de trabalhar no Hospital. A melhor lembrança que ficou é da primeira turma, que assumiu o serviço, quando o Hospital foi inaugurado. Havia gente de calibre, como os médicos Dr. Satoru Okida, Dr. Elmano, Dr. Ubiratan, Dr. Newton, Dr. Acácio Ferreira Marta, Dr. Paulo Sérgio Bom Senes, dentista que se casou com Zenaide de Souza Eid.
 E havia excelentes funcionários, como o Sr. Osvaldo Ramires, escriturário e Chefe de Seção e os enfermeiros Salomão e sua irmã Divina. Esses dois irmãos marcaram época no hospital, pela qualidade de atendimento; ela como ajudante dos médicos para efetuar partos, e ele para cuidar das quebraduras de ossos dos pacientes. Diz o seu Fernando que, Salomão foi o melhor enfermeiro, que já passou por aquele Hospital, porque tanto ele como a Divina gostavam do serviço, e se dedicavam completamente, em benefício dos pacientes.
Durante 31 anos, seu Fernando, convidado pelo amigo Sargento Montanaro, cantou o Leilão de Gado da A.P.A.E. , tarefa que deixou para os mais jovens, por não dispor mais de voz tão potente. O 1º Leilão foi na Fazenda do Sr. Geraldo Delai, e o Locutor Fernando fez  os anúncios sobre a carreta de um trator, por falta de estrutura.
Também junto com um grupo de amigos, seu Fernando e dona Josefa fizeram campanhas para comprar todo o material inicial necessário, para o funcionamento do Asilo local, a A.M.A.I., material como roupa de cama para os internos e utensílios de cozinha.
 E para a Igreja Católica, fizeram campanhas para a aquisição de bancos, cadeiras, e folhetos para as missas.
Depois de tanto trabalho, e anos dedicados ao bem estar do próximo, realizando obras sociais, hoje estão só usufruindo a vida, viajando para a casa dos filhos e curtindo os netos. Vão também a uma chácara, que possuem na redondeza, para aproveitar a natureza.
No final da entrevista, o seu Fernando me contou algo engraçado: Ele estava certo dia, caminhando pelo Bosque local, e alguém lhe gritou: “Ó, Cotonete! Ó Cotonete! Ó Cotonete!” Ele estranhou, mas quando se deu conta, percebeu que o apelido lhe caia como luva, porque estava de tênis brancos, e seus cabelos são brancos como algodão. Exatamente como os cotonetes, que têm as extremidades brancas, brancas...
Fernando Miron Bueno, homem de 80 anos, que está sempre contente, brincando com todo mundo, por tudo que fez e por continuar de bem com a vida, é gente de fibra!

Mirandópolis, 18 de abril de 2012.
        kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”


2 comentários:

  1. Parabéns, Kimie! Soube tirar dele até o atual " apelido ". Realmente eles são um casal de fibra.

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  2. Eles são gente de bem com a vida. Faz bem falar com eles. Passam uma energia e uma alegria de viver, que nem todos os idosos têm. E eu entendo um pouco de idosos. É gratificante entrevistar pessoas assim. Mas, ainda há muita gente que preciso entrevistar. Elas pensam que estou lhes beneficiando com essa coluna Gente de fibra. Ledo engano. Elas é que me beneficiam, contando seus sonhos, suas lutas e suas conquistas. Tudo é uma lição de vida, que vou acumulando dia a dia. E vou me enriquecendo cada vez mais.

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