domingo, 29 de abril de 2012





Ontem, dia 28 de abril, realizou-se mais um encontro dos cirandeiros. Foi como sempre, na Chácara do seu Albertino Prando.
Como o tempo refrescou, foi organizado um almoço, para reunir mais cedo os participantes, para melhor curtir a companhia uns dos outros.
O comando da cozinha ficou por conta de dona Fermina Moreno Rodrigues e de Remir, esposa de Milton Lima. Isabel Leal de Carvalho, Floripes Marchi Forte, Chiquinha e Jane cuidaram da salada. Comida simples, leve e saudável, em razão da idade dos participantes.
Os cirandeiros começaram a chegar às 11 horas, e ficaram conversando, tranqüilos, curtindo a manhã fresca  e de temperatura muito agradável.
O sanfoneiro seu Albertino alegrou o ambiente, juntamente com Toninho, o pandeirista.
Quando todos estavam presentes, o almoço foi anunciado. Todos apreciaram o tempero de dona Fermina. E o seu Jorge Cury pediu para repetir o almoço todos os meses. E mais, ele pediu para realizar  dois encontros por mês.
A alegria do dia foi a presença da Ana Maria Abrantes Jacomelli, que se mudou para Ribeirão Preto, mas não consegue se desligar do grupo. A ausência mais notada foi da prof.ª  Rachel  Sperandio,  que sempre vem para animar a festa.
Mesmo com alguns desfalques, o encontro foi alegre, com o pessoal cantando e dançando, na maior empolgação. Na hora da Ciranda, o senhor Orlando declamou dois poemas muito bonitos e foi bastante aplaudido.  O sempre animado José Maria de Carvalho, o Dedé leu um texto interessante sobre os ensinamentos de uma mãe.
 E a profª kimie oku comentou sobre um grupo de amigos, que montou um blogger para organizar  a história de Mirandópolis, através de fotografias.
É o “fotoshistoricasmirandopolis.blogspot.com” , que está recebendo fotos antigas de todas as partes do país, para fazer a linha de tempo de Mirandópolis.  E ela solicitou a ajuda de todos os cirandeiros, pedindo-lhes que procurem alguma fotografia, que conte algum fato importante, para ser acrescentado ao Acervo. Todos se animaram e prometeram ajudar.
E por fim, todos cantaram o “Parabéns a você” às
Cirandeiras Fermina e Lourdinha, aniversariantes do dia. E assim, com cantoria e muita alegria encerrou-se  mais um encontro da Ciranda.

        Mirandópolis, 29 de abril de 2012.
                Kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com

quarta-feira, 25 de abril de 2012


A Rua São João
     Muitas vezes moramos num determinado lugar, sem conhecer nada  do que ocorreu anteriormente, nesse lugar.
         Tive recentemente, uma experiência inusitada, a partir de uma foto publicada no facebook. A foto era da primeira Cadeia Pública de nossa cidade. Era uma construção rústica, numa esquina e que aparentava realmente, ter sido um lugar triste.
   Ora, como soubera anteriormente que, a 1ª Cadeia da cidade se localizava no pedaço onde moro, comecei a pedir informações sobre a localização exata, época da instalação etc.
       E aí começou uma interminável novela, de internautas postando informações.
      Com isso descobri que a construção ficava quase em frente à minha residência; mais tarde ali moraram o Prof. Moacir Benetti e sua família.  A Delegacia ficava ao lado da minha casa, onde morou a família do senhor Idanir Momesso e recentemente, os Fioravanti.  Anos depois, tanto a Cadeia como a Delegacia foram transferidas para outros locais, mas inicialmente estavam instaladas aqui perto.
     A rua era de terra batida, e amigos meus moraram nas proximidades, e forneceram informações interessantíssimas sobre a vida da época. Disseram que, os presos que ficavam no “xilindró” eram só os bebuns da cidade, e que passavam a noite gritando da janelinha gradeada, porque apanhavam dos guardas. Pobrezinhos...
     Que a Rua do lado se chamava Aguapeí, e não Dr. Edgar Raimundo da Costa, como é chamada hoje.
   Que nesse quarteirão havia feira livre semanal, e como os feirantes vinham muito cedo, instalaram umas lâmpadas para iluminar as bancas, onde expunham seus produtos para vender. E os meninos da época, hoje senhores sessentões e meus informantes virtuais, descobriram o segredo da caixa para acender as lâmpadas, e passaram horas jogando pelada na rua, sob uma “quadra iluminada” de graça. Moleques... moleques...
   Que onde está instalada a atual Biblioteca Municipal, e foi a sede da Torrefação de Café Santo Antonio, foi antes a  residência do senhor João Teixeira Mendes.
   Que a Cadeia foi transferida para uma casa quase no fim do quarteirão, na mesma calçada de origem, onde morou o Coqueirão, jogador de baralho profissional. Ele não saia do Bandeirantes Atlético Clube, que ficava em frente às Lojas Marajá, clube que foi mais tarde a Loja Vigorelli. E nesse mesmo lugar onde morou o Coqueirão, morou a Profª Nilda Victória Bini.
     Que o Delegado nomeado foi o senhor Orlando Marques.
   Que no local onde resido, morou o Pi e os pais seu Valentim e dona Amélia. Mas a casa que moro, foi construída por seu Marcos da Costa Nogueira e sua esposa Mirian Azevedo Nogueira, Profª de Geografia no C.E.N.E. “Noêmia Dias Perotti”.
   Que anos mais tarde, a Delegacia e a Cadeia foram transferidas para o outro lado da Ferrovia N.O.B., perto da Casa da Lavoura, e depois para o local onde está agora a Delegacia de Polícia Civil, à Rua Primo Antonio Marchetti.
   Então, quando julgava completas as recordações desses meninões, passaram a postar informações sobre a rua de baixo, a Senador Rodolfo Miranda, onde morava o “véio Vicente” que tinha um pomar, e eles iam lá afanar as frutas... Sempre com medo dos tiros de espingarda de pressão do "véio", que alguém chegou a tomar...
      Daí, pularam para o bananal de uma senhora japonesa, que  se localizava lá pros lados do atual Estádio. Eles colhiam os cachos de banana, os enterravam e esperavam madurar... (que delícia!)
   A espingarda de pressão os levou ao sítio do senhor Kazama, que plantava melancias. Os meninos matavam aulas e iam armados de sacos de estopa, para furtar melancias. (Os pais confiantes, pensando que os meninos estavam estudando). Para os menores destinavam melancias pequenas, e os grandes que eram os mais espertos, levavam as maiores. E o seu Kazama os esperava com a espingarda de pressão, para lhes dar tiros de sal... (tal qual a história do Chico Bento, de Maurício de Souza) Inacreditável!
      Um desses larápios ouviu certa vez, o seu Kazama dizer a seu pai, que ia desistir de plantar melancias, porque quando as frutas estavam verdes, alguém ia lá e as furava para ver se estavam maduras... E quando estavam maduras, comiam a metade e largavam a outra metade... Prejuízo... O pior de tudo é que parece que até hoje, eles não se esqueceram do sabor da melancia roubada. (Hum! Que delícia!) Santinhos...
     Hoje, já homens feitos, aposentados, e brincando na Internet para matar o tempo, sentem saudades da Rua São João, onde aprontaram tantas... E têm saudades do seu Kazama. E me sugeriram que lhe conte quem eram os anjinhos, que sumiam com as suas preciosas melancias... E que seria muito engraçado se ele me mostrasse a famosa espingarda, que dava tiros de sal...
    Os heróis desta novela são: Anacleto, Bispo, Canário e Dinho. (para vingar os prejudicados)

        Mirandópolis, 21 de abril de 2012.
                   kimie oku  in “cronicasdekimie.blogspot.com”
         

terça-feira, 24 de abril de 2012


     Gente de fibra- Fernando Miron Bueno


        Fernando Miron, como é conhecido na cidade, nasceu há 80 anos em Braúna, na Região de Birigui. Nasceu, pois, em 1932.
      Em 1940, a família se mudou para Lavínia. Eram lavradores, que plantavam alho e cebola. Mais tarde, começaram a fazer salgadinhos para vender. Seu pai ia a São Paulo buscar mercadorias, para revender.
O menino Fernando estudou até o 4º ano primário, e garoto ainda, passou a trabalhar na Farmácia do Zé Barbosa.
Morou também em Valparaíso, onde prestou serviços no Dispensário Médico do Doutor Luís Simões, que era oftalmologista, e prestava serviços também em Aguapeí, tratando de tracoma, que era uma terrível infecção, que atacava os olhos das pessoas.
Por essa época, Fernando e duas irmãs participaram de um grupo de teatro amador chamado VATE, que congregava mais de vinte jovens, encenando peças, que chegaram a ser apresentadas aqui em Mirandópolis. Nessa época, aprendeu a ser árbitro de Basquetebol, função que viria a exercer por muito tempo em Mirandópolis, para onde a família se mudou em 1951.
E por indicação do Dr. Simões, ele passou a trabalhar no Hospital das Clínicas de Mirandópolis.
O Hospital havia sido criado recentemente, e instalado no antigo Hospital e Maternidade Santa Terezinha, que pertencera ao Dr. Macoto Ono, e tinha mais ou menos uns trinta leitos, para acolher pacientes.
Fernando começou a servir no Hospital a partir de setembro de 1953, como responsável pela Farmácia, porque não havia farmacêutico designado. Seu serviço  era controlar a entrada e a saída dos remédios, e aviar as receitas dos médicos. No início, havia cerca de 50 funcionários, entre médicos e demais profissionais. Com o passar dos anos, Fernando foi designado como responsável por outros setores do Hospital, como o Escritório, a Lavanderia e a Portaria.
Em 1957, casou-se com a senhorinha Josefa Rosado Borges, com quem teve três filhos, dos quais, dois são Dentistas e a filha é Assistente Social e Professora. Todos os filhos moram fora daqui.
Desde quando as crianças eram pequenas, a dona Josefa começou a trabalhar também, lavando toda a roupa do Hospital. Para isso, montou uma casa, e contratou cinco ou seis lavadeiras, que lavavam manualmente, duas passadeiras e um carroceiro que buscava e levava de volta a roupa ao hospital. Dona Josefa se dedicou a esse serviço, por mais ou menos seis anos. Deixou essa tarefa, para fornecer marmitas para os presos das cadeias, inicialmente de Mirandópolis, depois  também de Andradina e de Valparaíso.
Em 1982, o seu Fernando aposentou-se e passou a ajudar a dona Josefa nessa tarefa de administrar o preparo e a distribuição de marmitas, para as cadeias e   também  para a Penitenciária local.
No começo, eram cerca de 40 a 50 marmitas diárias para cada cadeia, mas chegaram a entregar até 400 marmitas por dia, para a Penitenciária. Isso só durou cinco meses, porque, mudou o sistema e os próprios presidiários começaram a preparar as refeições.   Entretanto, continuaram com as marmitas para os presos das cadeias  até 1997.
Enquanto trabalhavam, já casados e com crianças, começaram a estudar, para completar a escolaridade que lhes faltava. Fizeram os quatro anos de ginásio e três anos de Contabilidade. Vida atropelada por deveres para com a família, muito trabalho e estudos. Mas, venceram.
Seu Fernando gostava de trabalhar no Hospital. A melhor lembrança que ficou é da primeira turma, que assumiu o serviço, quando o Hospital foi inaugurado. Havia gente de calibre, como os médicos Dr. Satoru Okida, Dr. Elmano, Dr. Ubiratan, Dr. Newton, Dr. Acácio Ferreira Marta, Dr. Paulo Sérgio Bom Senes, dentista que se casou com Zenaide de Souza Eid.
 E havia excelentes funcionários, como o Sr. Osvaldo Ramires, escriturário e Chefe de Seção e os enfermeiros Salomão e sua irmã Divina. Esses dois irmãos marcaram época no hospital, pela qualidade de atendimento; ela como ajudante dos médicos para efetuar partos, e ele para cuidar das quebraduras de ossos dos pacientes. Diz o seu Fernando que, Salomão foi o melhor enfermeiro, que já passou por aquele Hospital, porque tanto ele como a Divina gostavam do serviço, e se dedicavam completamente, em benefício dos pacientes.
Durante 31 anos, seu Fernando, convidado pelo amigo Sargento Montanaro, cantou o Leilão de Gado da A.P.A.E. , tarefa que deixou para os mais jovens, por não dispor mais de voz tão potente. O 1º Leilão foi na Fazenda do Sr. Geraldo Delai, e o Locutor Fernando fez  os anúncios sobre a carreta de um trator, por falta de estrutura.
Também junto com um grupo de amigos, seu Fernando e dona Josefa fizeram campanhas para comprar todo o material inicial necessário, para o funcionamento do Asilo local, a A.M.A.I., material como roupa de cama para os internos e utensílios de cozinha.
 E para a Igreja Católica, fizeram campanhas para a aquisição de bancos, cadeiras, e folhetos para as missas.
Depois de tanto trabalho, e anos dedicados ao bem estar do próximo, realizando obras sociais, hoje estão só usufruindo a vida, viajando para a casa dos filhos e curtindo os netos. Vão também a uma chácara, que possuem na redondeza, para aproveitar a natureza.
No final da entrevista, o seu Fernando me contou algo engraçado: Ele estava certo dia, caminhando pelo Bosque local, e alguém lhe gritou: “Ó, Cotonete! Ó Cotonete! Ó Cotonete!” Ele estranhou, mas quando se deu conta, percebeu que o apelido lhe caia como luva, porque estava de tênis brancos, e seus cabelos são brancos como algodão. Exatamente como os cotonetes, que têm as extremidades brancas, brancas...
Fernando Miron Bueno, homem de 80 anos, que está sempre contente, brincando com todo mundo, por tudo que fez e por continuar de bem com a vida, é gente de fibra!

Mirandópolis, 18 de abril de 2012.
        kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”


sábado, 21 de abril de 2012


História preservada

Há alguns dias atrás, minha amiga Kimie Oku mostrou-me  o blog “Foto-história de Mirandópolis”.
Era um antigo desejo seu, de resgatar a história do município, através de fotos antigas. Hoje tem seu sonho  realizado, com o apoio do amigo Osvaldo Resler, que abraçou a causa.
Que emoção ver as antigas ruas de terra batida, trafegadas por carroças, charretes e alguns poucos carros. Enfim, uma cidade bucólica do interior. Quantas  lembranças!
Em minha memória afetiva, ficou registrado um fato, que nem sei se aconteceu realmente. Eu, pequenina, segurando fortemente a mão do meu pai, tentava atravessar a rua principal de Mirandópolis. Devia ser janeiro, a grande quantidade de barro era cortada por sulcos profundos, feitos por carroças.
 Fomos a um restaurante, onde para mim é hoje as Casas Pernambucanas, e lá comi um arroz doce gelado. Na época, não tínhamos geladeira e achei o doce mais delicioso do mundo.
Teria sido verdade? Como disse Guimarães Rosa: “Contar é muito dificultoso, não pelos anos que já se passaram, mas pela astúcia que têm certas coisas passadas”.
Voltando às fotos, verdadeiro documento histórico é o retrato do primeiro carteiro da cidade, transportando a correspondência, em uma carriola de madeira. Essa foto de José Gabriel merece estar pendurada num lugar de honra no Correio da cidade.
 Amigos de Mirandópolis, prestem-lhe essa merecida homenagem.
Entre as fotos que desfilaram diante dos meus olhos saudosos, revi casas de madeira hoje derrubadas, máquinas fechadas, lojas transformadas.
Reconheci a saudosa Casa Santa Glória da família de meus amigos de juventude, Calil e José Abdalla. Lembro-me que, no final da década de 70 ou início de 80, o visionário Calil quis transformar a loja da família, em um Supermercado, que já era moda nas grandes cidades.
Mas, aqui não deu certo, pois as pessoas estavam acostumadas a ser servidas pelo proprietário ou funcionários de confiança. Batiam um  demorado papo com eles, e pediam para  anotar a compra na caderneta. Era difícil libertar-se do velho costume; tentar encontrar sozinho o que necessitavam nas prateleiras, e depois pagar a conta num Caixa impessoal. Calil me pediu que  escrevesse uma propaganda, falando sobre as vantagens do sistema de supermercados.Mas, para mim também era novidade, e não consegui escrever nada...
Para terminar esta pequena divagação, teço loas a todas as pessoas, que preservam coisas como fotos antigas, documentos, reportagens, objetos( como as delicadas porcelanas, enaltecidas em crônica por minha amiga Kimie).
 Muitas vezes, essas pessoas não são entendidas. São chamadas de maníacas, juntadoras de cacarecos, apegadas ao passado. Mas, o que seria da História sem elas? Como seria difícil reconstruir o passado!
Parafraseando o grande poeta Fernando Pessoa, direi que
“Os guardadores de coisas chamadas inúteis, são mais sábias do que se julgam, guardam pequenos sonhos”.
Que, às vezes vêm à tona vendo uma foto antiga!

Mirandópolis 19 de abril de 2012.
Maria Nívea Pinto – Pesquisadora e Professora de História



sexta-feira, 20 de abril de 2012


    Gente de fibra – José Carrilho Viudes


        Há aqui em Mirandópolis, um cidadão meio poeta que vende sorvetes. É um homem simples e tranqüilo, que conhece todo mundo, e creio que a cidade toda o conhece também.
        É o senhor José Carrilho Viudes, que já tem 77 anos, mas anda lépido como um jovem, e tem pernas fortes para caminhar todos os dias de sol a sol, vendendo sorvetes.
        Seu José nasceu em Penápolis, onde os pais eram lavradores, como eram todos antigamente.
        Quando José tinha 4 anos de idade, a família veio de mudança para Mirandópolis. Aqui, seu pai Afonso Carrilho passou a trabalhar de carroceiro, transportando mercadorias e até pessoas, porque naquela época, não havia carros e caminhões na cidade, táxis menos ainda.
        A tarefa de José e dos irmãos era cuidar de dois animais, que ficavam na manjedoura, dando-lhes comida e água. Durante uns oito anos, seu pai foi carroceiro.
        Seu José se lembra que seu pai ia sempre lá perto do trevo, ao lado da lagoinha buscar carvão, que era produzido por uma grande carvoaria, e que abastecia toda a região. (Naturalmente não existia a atual via de acesso, nem asfalto e nem o trevo com a rotatória) O carvão vinha ensacado em fardos grandes, e era entregue na Casa Moreira e outros armazéns, que o revendiam para a população.
        Daí uns tempos, seu Afonso passou a ser charreteiro. Nessa época, havia na cidade cerca de cinco charretes servindo a população. Havia bastante serviço para os charreteiros, que transportavam apenas um passageiro por viagem. Seu pai  costumava ter clientes fixos.  E transportou muitas professoras para as escolas das Alianças.
         Há uma passagem interessante dessa época. O rapaz José gostava muito de pescar. De vez em quando, ele e seus pais saiam para pescar. Como não cabiam mais que duas pessoas na charrete, José ia caminhando atrás do veículo, que levava seu pai e sua mãe. Feliz, porque ia pescar. Só mais tarde, surgiram charretes de boléias maiores, que comportavam mais passageiros.
        José estudou até a 6ª série, e começou a trabalhar forçado pela situação econômica da família, que se compunha de seus pais e mais seis filhos.
        Foi trabalhar na Tipografia Santo Antônio de Idanir Antônio Momesso. Tinha apenas 13 anos de idade, e começou como aprendiz de Antônio Carrilho, seu irmão que já trabalhava lá. Quando esse irmão se firmou na Gráfica Gonçalves no Brás, José também se transferiu para São Paulo, e começou realmente o serviço de tipógrafo, montando chapas para as impressões.
        Um dia, conheceu o Gerente da Editora Saraiva, numa barbearia e foi convidado para trabalhar lá.
        A Gráfica Saraiva ficava na rua Juli, também no Brás. Lá, ele aprendeu a paginar livros. A Saraiva tinha  muito trabalho de impressão. José se lembra que ajudou na impressão do Código Penal Brasileiro. Nessa época, o serviço era feito por linotipo, montando letras e textos em placas. Muitos livros publicados pela Saraiva daquela época passaram por suas mãos.
        Na Saraiva, conheceu o famoso escritor Jorge Amado e o vidente espiritualista Chico Xavier. Lembra que ambos eram pessoas simples e gentis.
        Após doze anos na Saraiva, transferiu-se para outra Gráfica, também no Brás. Era a Editora Abril, que produzia as revistas Capricho e Cinderela. Lá, aprendeu a lidar com fotolitos.
         Em 1967, José se casou com a senhorinha Aparecida dos Santos, e se mudaram para Mauá e depois para São Caetano, no ABC paulista.
        Em São Caetano, passou a trabalhar na Gráfica Líder, que produzia impressos para os serviços do comércio, como notas fiscais, recibos, faturas.  Lá, trabalhou por cinco anos.
        Quando faltavam seis meses para se aposentar, voltou   para Mirandópolis e para a Tipografia de seu Idanir, onde ficou por cinco anos, mesmo depois do falecimento do patrão. Trabalhou também sob as ordens do herdeiro Chicão. Lá, ele montava carimbos, mas saiu para ceder o lugar para um amigo, que precisava do emprego. Então, o amigo Joaquim Alves o chamou para trabalhar na Gráfica Alves. Lá, ele ajudou a produzir o “Jornal de Mirandópolis”, que circulou por um bom tempo. O amigo Joaquim faleceu também, e seu filho  Paulo assumiu a Gráfica e a comanda até hoje.
        Quando considerava encerrada sua carreira de gráfico, de repente foi chamado para atuar na Gráfica Lélio em Andradina, onde ficou por sete meses. E aí encerrou a carreira de vez.
         Mas, para ocupar o tempo ocioso, passou a ser cobrador de uma firma comercial da cidade, efetuando cobranças de Andradina a Lavínia. Nessa função ficou por quatro anos. Depois começou a vender sorvetes.
        Há sete anos aproximadamente, ele percorre a cidade, oferecendo sorvetes à população. Diz que é feliz, porque está sempre ativo, conhece a cidade toda e tem saúde. Além disso, gosta muito de ler, escrever e declamar poemas. E gosta de conversar.
        Tem dois filhos, que são trabalhadores e atenciosos com os pais. Tem três netos, todos estudando. A tristeza que carrega na alma é a perda do genro Montanheira, que faleceu recentemente, tão jovem ainda. Mesmo assim, ele faz questão de dizer e repetir que foi abençoado por Deus, pela maravilhosa esposa que possui e pelos bons filhos e netos.
        Sua alma de poeta fá-lo repetir: “Os que amam vivem. Os demais são mortos que caminham”- citação de autor desconhecido.
        José Carrilho Viudes, que foi gráfico, tipógrafo, é poeta, é vendedor de sorvetes, e que não consegue parar de trabalhar é gente de fibra!

        Mirandópolis, novembro de 2011.
        kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”
     

terça-feira, 17 de abril de 2012


         Gente de fibra
              Ivo Ferreira

Há um cidadão que, percorre quase todos os dias da semana as ruas da cidade, em busca de jornais, de vários jornais, que amigos lhe enviam gratuitamente de diversas cidades, para ele ler.
Assim, recebe o Estadão, A Folha, a Folha da Região, o Jornal do Povo de Três lagoas, O Correio de Lins, O Imparcial de Andradina e O Liberal de Araçatuba.
Esse cidadão invulgar é o senhor Ivo Ferreira, de 63 anos, nascido e residente em Mirandópolis.
Seu Ivo costuma atravessar a cidade às segundas, quintas e sextas-feiras para buscar os jornais e todos os  dias, ele os lê e comenta algumas novidades da Região, do Estado e do Mundo com a família e amigos.
Todas as manhãs, ele toma um café no Bar do Rosalém, onde se reúnem esses amigos, com quem gosta de trocar idéias e notícias.
 Ivo começou a trabalhar em 1959, ainda criança, na Gráfica Paulista, que era dos sócios Idanir Antonio Momesso e José de Fátima Lopes. Nessa época, a Gráfica contava com onze funcionários.  
Criança ainda, sua responsabilidade era a faxina do local e abastecimento de água, que buscava na Casa Paulista da família Nakamura. Esta era dirigida pelo sr. Paulo Nakamura, irmão  do saudoso  e recém falecido sr. Hiroshi Nakamura. A Casa Paulista era um armazém que vendia de tudo, e era representante do Expresso Real Araçatuba. Nos fundos da loja havia um poço, que fornecia uma água potável saborosa, e todos os comerciantes iam  buscá-la  para o consumo.
Entretanto, a Gráfica sofreu uma cisão, com o Sr. Idanir montando uma Tipografia e o sr. José de Fátima  deixando  a empresa. Joaquim Alves, o mais antigo funcionário ficou com a Gráfica, tendo como sócios, os senhores Altino Lorena Machado e Gerson Gonçalves
Ivo Ferreira estudou no Dr. Edgar, no CENE Noêmia, no Colégio Comercial. Mais tarde, fez o Curso de Redação durante um ano, no Colégio Dom Epaminondas, em Taubaté.
 Ele queria aprender a redigir corretamente, porque nessa época, já trabalhava na Tipografia Santo Antonio, de Idanir Antonio Momesso, como gráfico. Sua função era cuidar da encadernação e do acabamento dos impressos. Tudo era feito manualmente. Era trabalhoso e exigia tempo, mas Ivo gostava do serviço, e procurava sempre dar o melhor de si
 A Tipografia lançou um pequeno jornal chamado “O Labor”, em que se divulgavam as notícias locais. A coluna social desse jornal ficou a cargo da professora Ebe Aurora Fernandes Marcos, e mais tarde  da professora Marilena Santana Correa Fernandes.  Elas desempenharam sua tarefa com muito esmero, e a coluna era bastante  lida por todos. A época era dos famosos bailes no Clube Atlético de Mirandópolis, e desfiles de Carnaval. Se não estou equivocada, a dona Mercedes Bafile Cheida também fez essa coluna.
E o sr. Ivo começou a escrever para O Labor, também. Como sabia sempre as últimas do esporte, ficou responsável por essa coluna. E em 1966, passou a escrever para o programa “Sábado nos Esportes”, da Rádio Clube de Mirandópolis. Suas notícias esportivas eram lidas pelos locutores Celso Vital e Laércio Lourenço. O programa divulgava as notícias de esporte de Mirandópolis e região.
Para a Rádio Clube escreveu até o ano de 2001. Perdeu o interesse porque, o esporte na cidade estava muito desorganizado, e não tinha o que escrever.
Também foi correspondente do jornal “A Comarca”, de Araçatuba, enviando notícias gerais de Mirandópolis e região. Essa tarefa ele cumpriu por dois anos. À época, o Diretor de “A Comarca” era o sr. Alcides Jorge.
 Na Tipografia Santo Antonio, o sr. Ivo trabalhou até 1995, quando se aposentou. Dessa época de gráfico que exerceu por décadas, lembra com saudades dos amigos e companheiros de Redação: José Imolene, Lourival Alves dos Santos, Sílvio Garcia Lima, Laerte Sorelli,  Sérgio Teixeira,  Luizão (de quem esqueceu o sobrenome), Mauro Betti e Irineu Antonio Mantovanelli, que está lá até hoje,  na Tipografia Santo Antonio, sob a direção  do amigo Chicão, filho do sr. Idanir Momesso.
Atualmente, o sr. Ivo vive com a mãe  de 84 anos, que continua  lúcida, e cozinha para todos. Na casa, mora também uma irmã e uma sobrinha. Vivem tranquilos, em harmonia.  Seu Ivo nunca se casou. Sua vida é a família, os amigos e os jornais.
Gosta de ler livros também. Já leu Castro Alves, Victor Hugo, José de Alencar e Jorge Amado. Seu hobby é enviar revistas e jornais para os amigos, que tem espalhados por esse Brasil. Assim, corresponde-se com o sr. Nircles Breda, com o Juiz de Direito aposentado Orivaldo Ruiz e outros.
Ivo Ferreira, um homem simples do povo, que construiu sua vida numa gráfica, e ficou ligado até hoje às folhas impressas, é um cidadão tranqüilo, uma reserva de conhecimentos, e memória viva da História de Mirandópolis.
Ivo Ferreira, homem feliz, sem ambições, é gente de fibra!
         
Mirandópolis, novembro/2011             Kimie Oku in       « cronicasdekimie.blogspot.com »

       FOTO-HISTÓRIA  DE  MIRANDÓPOLIS

      Há pouco tempo que ingressei no mundo digital. Tinha receio  de mexer no computador, porque sou muito desajeitada e incapaz.
        Via as crianças digitando textos, e brincando de jogos, e ficava pasma de ver a rapidez, com que lidavam com as ferramentas do computador, navegando pela Internet, pesquisando sobre os diversos assuntos, imprimindo textos. E eu me sentia tão pequena, tão limitada e incapaz. E sentia inveja dos pequerruchos...
       Sempre que precisava, pedia prá minha filha e minha neta me socorrer. Até que ouvi: “Por que você  não faz um curso rápido, que dê as dicas básicas, para  lidar com o computador?” Percebi que elas estavam no limite, e  muito envergonhada, fui pedir a ajuda de gente entendida.
         E aí, aprendi a digitar textos, que envio pro Diário de Fato. É claro que apanhei muito; há tantos recursos que não conheci nos cursos de Datilografia, que fiz quando muito jovem. Há o “Caps Lock” para as maiúsculas, o Backspace e o Delete prá apagar os erros, há os controles de parágrafos e de espaços, há mil ferramentas que eu ignorava totalmente. Mesmo assim, fui engatinhando e explorando o mundo novo que se abria à minha frente. Há pouco tempo, aprendi a escanear fotos e inseri-las nos textos e, me senti vitoriosa.
         E consegui abrir um blogger para publicar meus textos. Hoje, após quatro meses, já consegui publicar 112 textos entre Ensaios de Literatura, Relatos sobre Ciranda,  Histórias de Gente de Fibra e Crônicas do Cotidiano.  E tudo isso me rendeu muita alegria, porque amigos têm lido meus textos, e o círculo tem aumentado dia a dia.
         Mas, a alegria maior estava reservada no Facebook. Ao ingressar nessa página, achei que era apenas um mural, onde as pessoas postam tudo que vier na “teia”. Separando o joio do trigo, porém, percebi que havia muito mais. Gente que cultiva a memória de sua cidade, que cultiva as histórias da brava gente de Mirandópolis, e as histórias de fatos importantes do passado. Amigos que, postam fotos antigas de Mirandópolis e trocam informações, de forma alegre e carinhosa. E aí, achei que havia uma mina de ouro, ainda não explorada.
     Há muito tempo que acalentava o sonho, de contar a História verdadeira de Mirandópolis, através de fotografias.       E andei solicitando ajuda de tanta gente. E teve gente que  foi indiferente, outras prometeram e ficaram só na promessa,  e teve  quem me disse: “Ele não vende, não dá, nem empresta prá ninguém”.  Resposta malcriada prá um projeto tão sério, me abalou de verdade. Pensei: “Vai morrer e levar as fotos junto?” E parei de incomodar as pessoas.  Eu levava tão a sério a empreitada, que cheguei a escrever “FOTOS ANTIGAS”, e a publiquei no Diário de Fato em novembro de 2011. Essa crônica teve mais de 500 acessos no “diariodefato.com.br”, e a publiquei também no meu blog. Percebi que, o que eu acalentava não era ideia vã. Havia mais gente, que pensava como eu, porque o texto teve forte ressonância em seus corações.
    E no “face”, percebi que as fotos antigas, dos amigos de Mirandópolis  despertam tantas trocas de informações, que pouco a pouco, vão montando uma linda crônica, relatando fatos vivenciados, por mirandopolenses, que moram em diversos recantos do Brasil. E senti que, todos nós estamos irmanados, no mesmo sentimento de paixão por esse pedaço de chão, por essa aldeia, que se chama Mirandópolis. E aí, me perguntei “Por que não juntar todas essas fotos num blogger, para formar o ACERVO DA FOTO-HISTÓRIA DE MIRANDÓPOLIS?”
Apelei pro Osvaldo Resler, que se aposentou recentemente, para levar essa empreitada prá frente.
       E enfim, ontem, o Resler abriu um blog, para contar a história desse povo da Cidade LABOR, através de fotografias. É um trabalho importante que o nosso amigo irá realizar, para deixar para a posteridade, todas as imagens que comprovam o nascimento, o desenvolvimento e a formação de nossa cidade, de nosso município.
         Todos os mirandopolenses poderão conferir as fotos,  acessando  “fotoshistoricasmirandopolis.blogspot.com.br"

        E quem sabe, você também poderá contribuir, enviando fotos raras, para enriquecer e tornar mais completa a obra, que ora se inicia?
         Taí uma boa ideia, não?

           Mirandópolis, 15 de abril de 2012. kimie oku in 
“crônicas de kimie.blogspot.com”

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Gente de fibra - Fermina Moreno Rodrigues


                   
            Fermina Moreno Rodrigues


        A gente de fibra de hoje é uma mulher. Mulher forte, de 80 anos.
        É a senhora Fermina Moreno Rodrigues, que nasceu em Colina, estado de São Paulo.
        Veio para Mirandópolis ainda criança, e foi criada  no sítio, lá pros lados do Bairro Monte Serrat.Trabalhou muito, colhendo café e algodão.
        Quando era mocinha, seu pai resolveu mudar para a cidade. Então, dona Fermina e as irmãs passaram a trabalhar de domésticas, nas casas de moradores da cidade, para ajudar no orçamento da família.
        Casou-se com Francisco Moreno Raduik, de origem russa. Com ele, teve um filho que trabalha como Tecnólogo no Gasoduto, e uma filha que é  a companheira e protetora de toda hora. O marido era lavrador e trabalhou muito tempo, como Administrador da Fazenda Cachoeira e da Fazenda Acácia. Nessas fazendas, dona Fermina trabalhou como doméstica, estabelecendo forte vínculo com os patrões, que continuam amigos até hoje.
        Em 1985, após longos anos doente, seu Francisco faleceu, deixando-a sozinha.
        Dona Fermina trabalhou muito em sua vida. Cozinhava, lavava, passava e costurava, além de cuidar de seus dois filhos e do bem estar dos filhos dos patrões.
        Hoje, mora sozinha, mas a filha é seu anjo protetor, que nunca a deixa só. E o filho que mora fora, está sempre em contato. Tem ainda, três netos e dois bisnetos, além de um genro, que ama muito.
        Dona Fermina é uma mulher vitoriosa. Encarou a vida com coragem e determinação. É uma mulher feliz.
        Fermina Moreno Rodrigues, gente de fibra!
      
              Mirandópolis, julho de 2011.
                                        kimie oku

domingo, 15 de abril de 2012


Gente de Fibra: 

Yolanda Tolardo Mecca Maqueia 


         Gente de fibra de hoje  é uma senhora.
        É a senhora Yolanda Tolardo Mecca.
     Nasceu em Cafelândia há 74 anos. Veio para Mirandópolis com 16 anos. Quando veio, chorou muito, porque lá deixara as amigas e um namoradinho.
       Mas, aqui chegando, logo se adaptou, e três anos depois se casou com Manoel Mecca Maqueia, com quem teve cinco filhos, dos quais dois natimortos. No início, o casal morou no sítio e trabalharam muito colhendo café e algodão. Os filhos foram criados na zona rural. Era uma vida boa e feliz.
        Depois de anos na roça, o seu Manoel e família se mudaram para a cidade, onde ele passou a trabalhar como carpinteiro com um irmão. Era bom carpinteiro.    
        Entretanto, uma tragédia aconteceu em 1990, levando o único filho que tinham. O rapaz de 24 anos foi vítima de acidente e acabou falecendo. Felizmente, restavam ainda, duas filhas. Mas, uma delas acabou partindo também em 2009. E nessa esteira de sofrimento, seu Manoel lhe seguiu logo depois, deixando viúva a dona Yolanda.
        Dona Yolanda ainda tem uma filha, um genro e duas netas, que são a sua família, a sua alegria.
      Dona Yolanda teve problemas na visão e quase não enxergava mais. Mas, por uma graça de Deus, alguém lhe doou uma córnea, que recebeu de transplante, há três meses. Ela é muito, muito grata à pessoa e à família que lhe deu tamanho presente. Mesmo porque, hoje ela enxerga bem, e encara a vida com mais alegria.
        Prá driblar a solidão de morar sozinha, vai á igreja orar,  e gosta de ir ao Pró Idoso, para conversar e jogar bingo.       
     Quando morava no sítio e era jovem, ela aprendeu a aplicar injeção, nas pessoas que precisavam ser medicadas. Por isso, gostaria de ter sido enfermeira, sonho que não realizou.
        Apesar de tantas passagens tristes, dona Yolanda vai vivendo e vivendo bem, contente da vida, em paz com Deus.
        Yolanda Mecca Tolardo, gente de fibra!

                   Mirandópolis, junho de 2011.
                                  kimie  oku 

sábado, 14 de abril de 2012


       Gente de  fibra - Joaquim Ferreira Leite


       Gente de fibra de hoje é o Sr. Joaquim.
         Joaquim Ferreira Leite de 75 anos nasceu no Bairro Água Limpa, em Araçatuba.
         Em 1957 casou-se com a senhorinha Adelina Teixeira, com quem teve sete filhos, dos quais três faleceram ao nascer. Uma filha deles é Auxiliar de Enfermagem num Hospital em Lins, um filho é Administrador de Metalúrgica em Campinas, e outro trabalha na Usina local. O outro filho faleceu em 1990, vítima de um acidente de carro, com apenas 24 anos de idade.
         Desde jovem, seu Joaquim trabalhou muito. Trabalhou em fazendas, cuidando de gado, retirando leite. Como lavrador, foi colono e meeiro no cultivo de café na 1ª e 2ª Aliança, no km. 20, km. 45, km. 47, km. 52, em Lavínia, e em Murutinga do Sul. Trabalhou muito em todas as atividades agrícolas, até os 27 anos de idade.
         Quando veio para a cidade, passou a trabalhar na Nestlé, como balanceiro de leite, que vinha das fazendas. Nessa atividade, passou a ter um dia de folga por semana, em rodízio, porque o leite vinha todos os dias, mesmo nos feriados e domingos. Era duro, mas o leite não pode esperar, e os funcionários tinham que trabalhar.
         Seu Joaquim ficou 31 anos nessa atividade, até aposentar-se. Mas diz que valeu a pena, porque com a aposentadoria, a Empresa lhe concedeu um seguro-saúde de primeira.
         Durante as andanças nas fazendas, o Sr. Joaquim e a dona Adelina fizeram muitos amigos. Dona Adelina tem saudades, do tempo que morou na roça, e levava marmita para o seu marido, junto com outras lavradoras. Com estas, aprendeu a fazer pão caseiro e outros quitutes.
         Hoje, já aposentados, driblam a solidão e as saudades do filho que partiu, participando de atividades Pró Idoso.
         Caminham, oram e levam uma vida tranqüila.
         Joaquim Ferreira Leite, gente de fibra!

         Mirandópolis, junho de 2011.
                            kimie oku
         
    
         
        

CONEXÃO

A moeda de mais valia do momento é a informação.                            Sem informação, ninguém consegue fazer nada, não consegue um bom emprego, não passa em vestibulares, não consegue dar bom andamento aos negócios, nem parlamentar com os adversários. Por isso, só quem está  bem informado, consegue chegar onde pretende. Já dizia um famoso noticiário de rádio, lá pelos anos oitenta: “O homem bem informado tem maiores possibilidades na vida”.
Se o médico não possuir todas as informações necessárias, sobre as condições do paciente, nunca acertará no diagnóstico e muito menos, nos procedimentos de tratamento e de cirurgia. Daí, ocorrerem tantas falhas médicas, que fazem a insegurança dos pacientes.
Se o professor não tiver as informações necessárias, para trabalhar com alunos, jamais poderá ministrar boas aulas. Não me refiro aos conhecimentos teóricos, das diversas áreas de conhecimento, que isso todo mundo consegue em bons livros, ou até mesmo na Internet. Faço referência aos procedimentos psico-pedagógicos, que todo professor deverá receber em sua formação, para saber lidar com eficácia, na sua relação diária com os alunos. É a falha mais gritante, que se observa em muitos professores, hoje.
         Daí, as ocorrências policiais, que se tornaram corriqueiras, envolvendo professores, pais e alunos, que aparecem diariamente nos noticiários.
Se o engenheiro ou arquiteto construtor tem poucas informações sobre estrutura, peso, massa, suporte, resistência, tipo de solo, poderá construir pontes, rodovias e prédios que, desabam ao primeiro balanço, ao primeiro choque por acidente... Daí, ocorrerem tantos desabamentos “inexplicáveis”... vitimando muita gente, e acabando de vez, com a carreira do arquiteto.
É por isso que, as grandes empresas trabalham em equipes, porque é importante conjugar conhecimentos e esforços. Médicos trabalham em equipe, porque as especialidades reunidas têm condições de resolver os imprevistos, sem traumas. Equipes de engenheiros têm visão mais aberta, para todos os prováveis problemas, que poderão surgir. Nas Escolas, há os Conselhos de Professores e de Escola, para discutir os problemas, e buscar soluções à luz da Psicologia e da Pedagogia, para evitar procedimentos inadequados. Porque, ninguém tem obrigação de saber tudo, e acertar em tudo. Infelizmente, percebe-se que ultimamente, os professores têm lutado sozinhos, com seus problemas e enfrentamentos diários. Agindo impulsivamente e, cometendo arbitrariedades, que poderiam ser evitadas, se o Conselho de Professores e o Conselho de Escola realmente funcionassem.
E por que ocorre isso?
É por falta de conexão.  É preciso conectar, ligar, plugar, intercambiar, estar em contato com alguém, com alguma coisa. Hoje, não se vive sem conexão. Todo mundo está plugado em algo. Conectado ao telefone, à televisão, ao celular, à Internet, ao carro, à moto, à bicicleta, à esteira, ao chuveiro, ao micro ondas, à máquina lavadora, ao fogão, aos tubos de oxigênio, de soro, de plasma. Sem conexão, a sociedade atual não funciona.
Antigamente, as pessoas se visitavam, tomavam café juntos, faziam visitas de boas vindas aos novos rebentos, que nasciam nas famílias dos compadres, visitavam os doentes acamados, trocavam mimos, um pão quente, um pedaço de carne de porco, umas frutas... tudo isso acabou, mas o ser humano sente falta disso. É por isso, que as pessoas hoje ficam plugadas aos telefones, às tevês, ao facebook e similares, porque assim se sentem menos sós.
Ninguém gosta de ficar só. Por mais infeliz que seja a pessoa, ela não deixa de apreciar a presença de um bom amigo, de uma boa companhia. Porque o homem é um ser social.
Falar ao telefone, ao celular, ver tevê, acessar as páginas da Internet são alternativas para se evitar a solidão. A pessoa se sente plugada ao mundo, à sociedade, mesmo que esteja sozinha num cantinho da casa. Conheço pessoas que, venceram os estresses e as tristezas da vida, só com os e-mails e acessando o Facebook. A internet faz milagres na área da comunicação humana.
Entretanto, nesse mundo de conexão ultra-rápida, ainda há gente desconectada, que não percebeu a força de equipes, de amigos, de colegas de trabalho, que poderão ajudá-la em suas dificuldades. Gente orgulhosa, que quer acertar sozinha, cometendo muitos erros desnecessários. Gente que sofre, por falta de humildade, que ainda está amarrada a um passado recente, de competições sem sentido. Gente que sofre de solidão, que reclama, que se sente abandonada, que evita amigos e quando os encontra, desfia a ladainha de seu abandono. Gente que, como diz um amigo, não quer abrir mão da razão de sua queixa. Ela precisa manter a solidão, para continuar se queixando. Tenho encontrado tanta gente assim, que não aceita o convite de participar da Ciranda, e eu sei que é carente de verdade. Por orgulho, quer provar a si mesma que, não precisa da ajuda de outros. E é tão só de dar pena.......
E eu sei a força e a energia que passam na Ciranda, quando as pessoas se dão as mãos e brincam de roda. É tão poderosa essa energia, que todas as pessoas se sentem revigoradas, e voltam felizes para suas casas. E nessa roda, tão simples, as pessoas se sentem tão à vontade, que algumas que, nunca se manifestaram em público, de repente, resolvem declamar um poema, contar uma história vivida, cantar uma canção. Nunca seriam aplaudidas em vida, se não houvesse a oportunidade da Ciranda.
 Através da Ciranda, percebi que a conexão ideal e que mais satisfação traz é a direta, do ser humano com outro ser humano. Sentar perto de uma senhora que passa a semana toda sozinha, que espera um telefonema que nunca vem, e perguntar-lhe sobre a saúde, sobre os familiares distantes, ou mesmo sobre os remédios que anda tomando, é uma experiência comovente. Ela se sente tão feliz em dividir seus problemas, suas ansiedades com alguém que, acaba nos abençoando no final. Oferecer um salgado, um doce, servir-lhe um refrigerante, é melhor ainda.  Ela se sente uma princesa, bem tratada e bem mimada. Trato e mimo, que há muito tempo não recebia.  As mensagens      e os telefonemas mais calorosos não substituem o contato direto, de olho no olho, de mãos dadas, de um beijo sincero, de um abraço repleto de carinho.
Hoje estou no mundo digital, e entro em contato com diversas pessoas, mas ainda, gosto mais do contato direto, cara a cara, “chokusetsu” como dizem os japoneses. É muito triste constatar que, tantas pessoas, por orgulho ou outros motivos sem importância, passam os últimos anos, ou meses, ou dias de sua vida, fechados em sua solidão, numa tristeza sem fim, sabendo que o final está tão próximo, e não há como evitá-lo.
Então, por que não estabelecer uma conexão?
Mirandópolis, 11de abril de 2012.
    kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com